Irã condena casal a dez anos de prisão por dança romântica em frente a monumento

Vídeo de ato foi abraçado por manifestantes que protestam contra regime do país desde o ano passado

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Paris | AFP

O Irã condenou um jovem casal de influenciadores a dez anos e seis meses de prisão cada um por dançarem em frente a um dos principais pontos turísticos de Teerã —um ato visto como um desafio ao regime clerical, que enfrenta a sua maior onda de protestos em anos.

Astiyazh Haghighi, 21, e seu noivo, Amir Mohammad Ahmadi, 22, foram presos no início de novembro, depois que um vídeo em que davam piruetas românticas em frente à torre Azadi, em Teerã, viralizou.

A postagem, que em determinado momento mostra Ahmadi erguendo Haghighi no ar, foi saudada por manifestantes como um emblema da liberdade pela qual lutam —Azadi significa "liberdade" em farsi.

O casal foi condenado por "encorajar a corrupção e a prostituição em público" e por se reunir "com a intenção de pôr em risco a segurança nacional". Além de Haghighi não ter coberto o cabelo com um lenço, como exige o regime, a lei do país ainda proíbe mulheres de dançar em público.

O grupo de direitos humanos Hrana afirmou que, além da sentença, os influenciadores foram proibidos de usar a internet e de sair do país. Citando pessoas próximas às famílias dos réus, a entidade afirma ainda que eles não puderam escolher os advogados que os representavam. Haghighi supostamente está na prisão feminina de Qarchak, fora de Teerã, cujas condições são frequentemente condenadas por ativistas.

Localizada na praça de mesmo nome, a torre Azadi é um dos monumentos mais emblemáticos da capital iraniana. Inaugurada sob o governo do último xá, Mohamed Reza Pahlevi, no início dos anos 1970, e batizada em sua homenagem como torre Shahyad (em memória do xá), ela ganhou um novo nome depois que o líder foi deposto na Revolução Islâmica de 1979. Seu arquiteto, Hossein Amanat, vive no exílio por seguir a religião monoteísta bahai, hoje proibida no país.

A torre Azadi, na praça de mesmo nome, em Teerã
A torre Azadi, na praça de mesmo nome, em Teerã - Majid Asgaripour/WANA via Reuters

O Irã tem usado todos os recursos à sua disposição para punir manifestantes desde que a morte de uma jovem curda sob a custódia da polícia moral provocou uma série de protestos por todo o país.

Mahsa Amini, 22, havia sido detida devido ao suposto uso incorreto do hijab, o véu islâmico, em Teerã. A versão oficial é a de que ela morreu em decorrência de problemas de saúde prévios, mas familiares e ativistas dizem que ela foi agredida e morta por agentes enquanto estava presa.

Dados da ONU indicam que ao menos 14 mil pessoas foram detidas desde o início dos atos, em setembro, de cidadãos comuns a artistas famosos, jornalistas e advogados. Ao menos quatro manifestantes condenados à morte pela atuação nos protestos já foram executados pela Justiça, e a Anistia Internacional alega que o Estado tem negado sistematicamente aos presos o direito a defesa adequada.

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