Israel é acusado de estar por trás de ataque com drone a instalação militar no Irã

Ofensiva ocorre em momento de preocupação com atividade nuclear de Teerã e críticas por drones do país na Ucrânia

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Dubai e Washington | Reuters

Israel parece ter sido o responsável por um ataque com drone contra uma fábrica militar no Irã, afirmou neste domingo (29) à agência de notícias Reuters uma autoridade dos EUA sob condição de anonimato.

A suspeita foi reforçada pelo Wall Street Journal, que, em reportagem na qual ouve fontes familiarizadas com o episódio —também não identificadas no texto—, aponta israelenses como autores da ação.

A ofensiva ocorre num momento de preocupação com a atividade nuclear do Irã, que, em outra frente, é acusado de fornecer armas, incluindo drones suicidas de longo alcance, para a Rússia usar na Ucrânia.

Explosão na província de Isfahan, no Irã, neste domingo (29) - UGC/AFP

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, condenou o ataque e disse que a Rússia está analisando o que aconteceu. "De qualquer forma, ações como essa contra um Estado soberano só podem ser condenadas", afirmou. Já o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse em entrevista coletiva nesta segunda-feira (30) que é importante continuar a trabalhar contra as ações do Irã na região.

Segundo o regime iraniano, um drone que visava a atingir uma instalação militar perto de Isfahan foi abatido, e outros dois, capturados em armadilhas de defesa. A ação teria causado apenas danos no telhado de um dos prédios, sem deixar vítimas, mas a extensão do estrago não foi determinada de forma independente. A mídia estatal do país divulgou cenas que mostram um clarão e veículos de emergência.

Segundo um oficial militar local, a região da ofensiva indica que o ataque partiu de dentro da fronteira do Irã. No passado, o país já acusou Israel de planejar ataques usando indivíduos que estavam no território iraniano, e, em julho, Teerã afirmou que um grupo de sabotadores curdos a serviço de Tel Aviv havia sido preso. Eles planejavam, de acordo com o governo, explodir um centro de defesa em Isfahan.

Diversas instalações nucleares iranianas estão localizadas na província, incluindo Natanz, peça central do programa de enriquecimento de urânio do Irã. Nos últimos anos, uma série de explosões e incêndios visou a atingir instalações militares, nucleares e industriais do país persa.

As negociações entre Irã e potências globais para retomar o acordo nuclear de 2015 estão paralisadas desde setembro. Sob o pacto, abandonado por Washington no governo de Donald Trump em 2018, Teerã concordou em limitar sua atividade nuclear em troca da flexibilização das sanções impostas ao país.

O regime iraniano também enfrenta turbulências internas. Nos últimos meses, protestos tomaram o país após a morte de uma jovem curda detida por supostamente violar o código de vestimenta islâmico.

O Exército israelense se recusou a comentar o caso deste final de semana, mas o país já disse estar disposto a atacar alvos iranianos caso a diplomacia falhe na tentativa de conter os programas nucleares ou de mísseis de Teerã. Já o porta-voz do Pentágono, o brigadeiro-general Patrick Ryder, disse que nenhuma força militar dos EUA esteve envolvida no incidente e se recusou a fazer mais comentários.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amirabdollahian, disse que a ofensiva foi um ataque covarde para criar insegurança e que "tais ações não impactarão a decisão de seguir com nosso pacífico trabalho nuclear". Embora o regime não tenha apontado culpados, a TV estatal exibiu falas do parlamentar Hossein Mirzaei, para quem há "fortes especulações" de que Israel é responsável pelo ataque.

Este seria o primeiro ataque de Israel contra o Irã desde o retorno do premiê israelense Benjamin Netanyahu ao poder, em dezembro. A volta de Bibi marcou a maior guinada à direita da história de Israel, em uma aliança que conta com partidos ultranacionalistas e membros de extrema direita. Quando ele ocupou o cargo pela segunda vez, entre 2009 e 2021, Israel promoveu uma série de ataques contra o Irã.

Na Ucrânia, que acusa Teerã de fornecer centenas de drones à Rússia para atacar alvos civis em cidades distantes do front, um assessor do presidente Volodimir Zelenski vinculou o incidente à guerra no país.

"A lógica da guerra é inexorável e assassina. Ela cobra autores e cúmplices rigorosamente", tuitou Mikhailo Podoliak. "Noite explosiva no Irã —produção de drones e mísseis, refinaria de petróleo. Avisei vocês."

O Irã confirmou o envio de drones para a Rússia, mas diz que os equipamentos foram enviados antes da invasão de Moscou à Ucrânia, no início do ano passado. Moscou, por sua vez, nega que suas forças usem drones iranianos na Ucrânia, embora muitos deles tenham sido abatidos durante o conflito.

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