Irã condena à morte mais 3 manifestantes; UE e EUA aumentam pressão diplomática

Quatro pessoas foram executadas, e 17, sentenciadas à morte desde início de protestos contra regime

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Teerã | AFP e Reuters

A Justiça do Irã condenou à morte nesta segunda (9) mais três pessoas acusadas de "travar uma guerra contra Deus" por crimes que teriam cometido nos atos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini.

As penas provocaram reação de países como Alemanha, EUA e França, que condenaram as execuções e convocaram embaixadores —gesto que, na diplomacia, é visto como uma espécie de reprimenda.

Analistas avaliam que as sentenças são parte do esforço para coibir novos protestos. No total, quatro pessoas já foram executadas em ações ligadas aos protestos —outras 17 receberam a sentença capital.

Manifestantes protestam contra o regime iraniano em Londres
Manifestantes protestam contra o regime iraniano em Londres - Justin Tallis - 8.jan.23/AFP

Saleh Mirhashemi, Majid Kazemi e Saeid Yaghoub foram condenados à forca nesta segunda por suposto envolvimento na morte de integrantes da Basij, milícia ligada à Guarda Revolucionária do Irã, em Isfahan.

No mesmo processo, outras duas pessoas foram condenadas à prisão —como o jogador de futebol Amir Nasr-Azadani, 26, que atuava num time local. Todas as sentenças anunciadas nesta segunda podem ser contestadas no Supremo Tribunal, afirmou a Mizan Online, agência do Poder Judiciário iraniano.

As execuções voltaram a provocar repúdio internacional, e ONGs pedem que governos pressionem o Irã a parar com as mortes. Em resposta, a Alemanha convocou o embaixador iraniano em Berlim.

A ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, disse que o ato pretende deixar claro que a "repressão brutal e a opressão no Irã, assim como as últimas execuções, não vão ficar impunes". "Um regime que mata sua própria juventude para intimidar a população não tem futuro."

Os EUA e a França também voltaram a pedir o fim das execuções. Em nota, a chancelaria de Paris disse que as sentenças "se somam a muitas outras violações graves e inaceitáveis dos direitos e das liberdades fundamentais cometidas pelas autoridades iranianas" e não podem ser uma resposta às "aspirações legítimas de liberdade do povo iraniano". O papa Francisco também pediu o fim da pena capital.

Apesar das manifestações de repúdio, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, sinalizou que o Estado não deve suavizar as sentenças. Em discurso na TV, disse que os que "atearam fogo em locais públicos cometeram o crime de traição". Sob a lei islâmica do Irã, traição é punível com pena de morte.

No sábado (7), outros dois homens foram executados. Mohammad Mehdi Karami, 22, e Seyyed Mohammad Hosseini, 39, também foram acusados de assassinar um membro da Basij.

A repressão, porém, não impediu a organização de protestos contra o regime em Teerã, Isfahan e várias outras cidades —ainda que em menor escala do que os registrados no ano passado. Vídeos divulgados nas redes sociais mostraram pessoas reunidas neste domingo em frente a uma prisão, entoando gritos contra Khamenei; as imagens não puderam ser verificadas de maneira independente.

Segundo a Anistia Internacional, o Irã é o segundo país que mais executa prisioneiros, depois da China. Na repressão do regime aos atos, um general admitiu em novembro que ao menos 300 pessoas morreram, incluindo dezenas de agentes das forças de segurança. Outros milhares foram detidos.

Organizações de defesa dos direitos humanos sediadas fora do Irã apresentam números ainda maiores. Na conta da agência ativista HRANA, seriam ao menos 507 manifestantes mortos pela polícia e por militares, incluindo 69 menores, além de 66 agentes das forças de segurança. Em relação aos detidos, seriam mais de 18,5 mil —a maioria dos quais já foi solta, na versão do regime.

Os atos se espalharam após a morte de Amini, detida pela polícia moral por supostamente violar as normas de vestimenta a mulheres no país. Autoridades dizem que ela tinha problemas de saúde preexistentes, o que teria provocado o óbito, mas a família sustenta que ela foi agredida na prisão.

A insatisfação com o regime havia crescido antes mesmo da morte da jovem curda, com a publicação de vídeos que mostram a polícia moral arrastando mulheres para vans, levando-as à força a centros de reeducação. Segundo a HRANA, ao menos cem manifestantes correm o risco de serem executados no Irã.

O regime alega que as manifestações são estimuladas por agentes estrangeiros, incluindo os EUA, e que a repressão visa preservar a soberania nacional.

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