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Itália descobre joias, perfumes e preservativos em bunker de mafioso da Cosa Nostra

Em Campobello di Mazara, 'omertà' parece vigorar, e ninguém admite conhecer Matteo Messina Denaro

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Madri

Um bunker no apartamento, perfumes de marcas famosas, relógios de luxo, comprimidos contra disfunção erétil e preservativos. É dura a vida do mafioso que é preso e tem seus objetos escrutinados pela polícia —justamente o que acontece agora com Matteo Messina Denaro, 60, número 1 da Cosa Nostra, centenária organização criminosa imortalizada em filmes como "O Poderoso Chefão".

Mafioso mais procurado do país, ele estava foragido havia três décadas e foi detido na última segunda-feira (16) em um hospital de Palermo, na Sicília (também terra dos Corleones do filme).

Matteo Messina Denaro é preso em Palermo, na Itália, na segunda-feira - Divulgação Forças Armadas da Itália - 16.jan.23/Reuters

Nesta quinta (19), a polícia italiana achou o terceiro esconderijo de Denaro na pequena cidade de Campobello di Mazara, de apenas 11 mil habitantes. É um apartamento, que estava vazio e havia sido colocado à venda.

O outro imóvel, no qual ele provavelmente vivia, foi onde se encontraram as pílulas contra impotência, camisinhas, roupas e tênis de marca, além de relógios e perfumes luxuosos. Oficialmente, a residência pertencia a um amigo de infância do mafioso, chamado Andrea Bonafede. Foi sob o nome desse amigo que ele se escondeu para fazer um tratamento contra câncer no cólon na cidade de Palermo.

Já o terceiro esconderijo era um bunker dentro de outro imóvel. Para entrar ali, era preciso abrir o fundo falso de um armário. Lá foram achadas pedras preciosas e outras joias.

Também nesta quinta, Denaro faltou à audiência do julgamento em que é acusado de ter participado dos atentados que mataram os promotores antimáfia Paolo Borsellino e Giovanni Falcone, em 1992. Detido na penitenciária de segurança máxima de L’Aquila, o mafioso participaria da sessão por videoconferência, mas renunciou a estar presente.

Uma nova audiência foi marcada para 9 de março, quando a sobrinha de Denaro, Lorenza Guttadauro, atuará como sua advogada. Tudo em família, como deve ser em uma tradicional história mafiosa —nos últimos anos, mais de cem pessoas ligadas a ele foram detidas, incluindo parentes como sua irmã Patrizia, presa em 2013, encarregada de aterrorizar e extorquir vizinhos e empresários.

Relatos de jornalistas enviados a Campobello di Mazara indicam que a chamada "omertà", a lei do silêncio decretada pelos mafiosos, continua válida. Vizinhos dizem que o capo frequentava pizzarias e bares, mas, apesar de todos os bares e pizzarias da cidade terem sido visitados por repórteres, nenhum dono admitiu que ele comia ou bebia ali.

Falando em jornalistas, um deles virou notícia nesta quinta na Itália, ao se barbear na frente das câmeras de TV. Pino Maniaci, apresentador da emissora regional Telejato, da Sicília, havia prometido cortar o bigode que cultivava havia 50 anos, comprido, ao estilo Nietzsche, se a polícia algum dia prendesse Denaro. Pois ela prendeu, e Maniaci cumpriu a promessa.

Já na quarta, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, rendeu uma homenagem ao policial Filippo Salvi, que morreu em 2017 durante uma investigação para chegar a Denaro.

"Quando se tenta menosprezar o trabalho de tantos homens e mulheres que todos os dias, com coragem e espírito de abnegação, dedicam suas vidas à luta contra o crime organizado, a memória de heróis silenciosos como Filippo também fica manchada", escreveu nas redes.

Em um momento desafiador de sua curta gestão, em meio à alta de preço dos combustíveis, Meloni já havia capitalizado sobre a prisão do mafioso, dizendo se tratar de uma prova de que o Estado não desiste da luta contra a máfia. "A prevenção e o combate à criminalidade continuarão uma prioridade absoluta desse governo", postou no Twitter na segunda.

Foto divulgada pela polícia italiana mostra o rosto do mafioso Matteo Messina Denaro após sua prisão - Divulgação Carabinieri/Reuters
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