Descrição de chapéu Público Guerra da Ucrânia

Novo comandante de invasão na Ucrânia cobra militares russos por barba e cabelo

Valeri Gerasimov é criticado por citar foco em higiene e apresentação das forças em novas diretrizes da guerra

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Paulo Narigão Reis
Lisboa | Público

Nomeado há quase duas semanas comandante militar russo na Ucrânia, Valeri Gerasimov elegeu como prioridade a disciplina, incluindo o tamanho da barba e do cabelo dos que combatem no país invadido.

De acordo com relatório do Ministério da Defesa do Reino Unido, publicado nesta segunda-feira (23), Gerasimov está "tentando suprimir o uso de uniformes não regulamentares, as viagens em veículos civis, a utilização de celulares e os cortes de cabelo fora do padrão".

Soldados russos que atuam na Ucrânia durate cerimônia religiosa em catedral de Moscou - Julia Morozova - 15.jan.23/Reuters

O foco do general na aparência e no asseio dos militares que combatem na Ucrânia teria despertado a ira de russos nas regiões ocupadas. "Altos funcionários da [autoproclamada] República Popular de Donetsk descreveram a prioridade como uma ‘farsa’ que irá ‘dificultar o processo de destruição do inimigo’", diz a pasta britânica, que dá também conta das críticas feitas pelo fundador e líder do Grupo Wagner.

"A guerra é o tempo dos ativos e dos corajosos, não dos bem barbeados", afirmou Ievguêni Prigojin.

O Ministério da Defesa da Rússia estaria tentando melhorar o profissionalismo das Forças Armadas e, provavelmente, "testando e aprimorando a eficácia das cadeias de comando até o nível das pequenas unidades", escreveu na semana passada o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês).

A nomeação de Gerasimov para o comando da tropa russa foi vista não só como um sinal da intenção de reforçar a posição do Ministério da Defesa na condução da guerra como também de contrabalançar o poder obtido nos últimos meses pelo grupo paramilitar liderado por Prigojin.

Mas as novas diretrizes do general, que teria sido um dos responsáveis pela elaboração do plano inicial de invasão da Ucrânia, não convencem quem critica a falta de progresso da Rússia no terreno.

"Forças russas continuam sofrendo um impasse operacional e pesadas baixas; a prioridade dada a regulamentos em grande parte menores por Gerasimov confirmará, provavelmente, os receios de muitos céticos na Rússia", escreveu o Ministério da Defesa britânico. Segundo o ISW, a insistência no cumprimento dos regulamentos teria, no entanto, um objetivo claro: combater a falta de disciplina que muitos críticos dizem ter contribuído para uma série de derrotas humilhantes no front.

"O Ministério da Defesa russo pode ter emitido essas diretrizes na tentativa de avaliar a eficácia dos comandantes russos na execução de ordens. A questão da higiene nas linhas da frente tem sido um ponto de discórdia entre os comandantes de baixo escalão e a tropa indisciplinada que se recusa a obedecer às ordens para se barbear", considera o think tank sediado nos EUA.

"Embora a apresentação básica das tropas na linha de frente possa parecer uma questão trivial, a adesão ou desrespeito a tais padrões pode indicar o profissionalismo ou a falta dele das forças convencionais."

A defesa da higiene e da apresentação dos soldados russos foi definida numa entrevista recente por Viktor Sobolev, tenente-general na reserva que é atualmente membro da Duma, a Câmara baixa do Parlamento russo, como um aspecto "essencial" da disciplina militar.

Prigojin prontamente criticou. "Um soldado deve lutar. Um soldado vê civis uma vez por mês ou até menos. Em 80% do tempo na frente de batalha, os soldados lavam-se com uma garrafa, e fazer a barba é, geralmente, um grande luxo", escreveu o líder do Grupo Wagner na sua conta no Telegram.

Em sua análise, o ISW vê, porém, os benefícios da imposição das medidas. "Em unidades desmoralizadas, a falha em aderir a tais padrões pode alimentar a desmoralização e o baixo desempenho. Tentar impor padrões, mesmo nas circunstâncias enfrentadas pelos militares russos na Ucrânia, faz, portanto, sentido."

A discussão devido ao tamanho da barba dos soldados é mais um incidente na degradação das relações entre o Kremlin e os grupos externos que combatem pela Rússia na Ucrânia, nomeadamente o Wagner.

O ISW dá conta da marginalização crescente de Prigojin e de seus mercenários, algo que ficou visível no anúncio da conquista de Soledar por parte do líder do Wagner e que Moscou se recusou a confirmar.

"A decisão de Putin de se concentrar e confiar nas forças russas convencionais está marginalizando o Grupo Wagner que, no entanto, continua a contribuir para os esforços de guerra russos na Ucrânia", diz o ISW, para quem o presidente russo "pode ter se sentido ameaçado pela ascensão de Prigojin".

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