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Eleições antecipadas podem tirar Peru do atoleiro, diz Dina Boluarte

Sucessora de Pedro Castillo aumenta pressão sobre Congresso e reitera que deixará cargo após definição de novo pleito

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BAURU (SP)

Pressionada nas ruas, a presidente do Peru, Dina Boluarte, repassou ao Congresso a pressão para que seja aprovada a antecipação das eleições presidenciais. Em pronunciamento nesta sexta-feira (27), ela pediu que os parlamentares escolham "data e hora" para o pleito —em apoio sutil e não muito entusiasmado à proposta de convocar a nova votação para dezembro de 2023.

Em circunstâncias normais, as eleições peruanas deveriam ocorrer em julho de 2026. Mas a espiral de crises e de instabilidades deixa o país longe da normalidade há tempos.

Há pouco mais de mês, o Congresso aprovou em primeira votação a antecipação para abril de 2024. "Porém, os protestos continuam, há mais bloqueios e violência", reconheceu Dina nesta sexta, em referência à onda de manifestações que já deixou mais de 50 mortos e rendeu à presidente acusações de genocídio e um pedido de destituição, ainda que em fase embrionária.

Dina Boluarte, presidente do Peru, em Lima - Mariana Bazo - 24.jan.23/Xinhua

A segunda votação da proposta anterior está marcada para esta sexta, mas outros grupos parlamentares apresentaram projetos substitutivos com novos cronogramas. "Se [os partidos] Força Popular e Aliança para o Progresso estão pedindo o que já haviam apresentado, [um adiantamento das eleições para 2023], que essa proposta seja retomada nesse sentido, que não tem nenhum condicionamento e nos tirará desse atoleiro onde estamos", argumentou Dina.

"Que as eleições sejam antecipadas para a data e a hora que o Congresso disser. Nós, do Executivo, convocaremos essas eleições. Ninguém tem interesse em se agarrar ao poder", prosseguiu a presidente. "E eu não tenho interesse em continuar na Presidência. Se estou aqui é porque assumi minha responsabilidade constitucional, e estaremos aqui até que o Congresso defina o dia das eleições."

Na quinta (26), parlamentares aliados a Castillo, retirado do cargo após fracassar numa tentativa de golpe de Estado, apresentaram uma moção para destituir Dina, acusando-a de "incapacidade moral permanente". Nos debates desta sexta no Parlamento, a carta do pedido da vacância foi agitada por ao menos um parlamentar.

"Se queremos eleições rapidamente, façamos algo. Votemos [a moção]. Assume [a Presidência] o presidente do Congresso, convocam-se eleições de imediato. E em seis meses teríamos um novo governo", disse Darwin Espinoza, do Ação Popular. Sigrid Bazán, do Câmbio Democrático, afirmou que o sangue dos manifestantes mortos está nas mãos de Dina, mas também na dos congressistas.

A direita no Legislativo acusa a esquerda de boicotar as possíveis soluções com o objetivo de impor um referendo sobre uma Assembleia Constituinte. Esta opção, amplamente rejeitada pela alta liderança política peruana, sempre foi defendida pelo hoje ex-presidente Pedro Castillo, preso após ser destituído ao tentar aplicar um golpe de Estado no começo de dezembro.

Foi sua detenção o principal gatilho para os protestos que se arrastam até aqui, sem trégua.

Nesta sexta, novos atos foram registrados, bem como bloqueios de estradas. Em algumas regiões, houve episódios violentos como em Madre de Dios, onde o governador Luis Otsuka revidou com tiros para o alto a tentativa de manifestantes de atacar sua casa —em represália à decisão do político de concordar em facilitar operações para desobstruir rodovias no departamento, a 1.500 km de Lima.

No centro histórico da capital, os protestos voltaram a ter confrontos pontuais com a tropa de choque da polícia.

A crise peruana vê crescer também a pressão internacional, com líderes como os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro, tendo usado a Cúpula da Celac em Buenos Aires, na Argentina, para pedir o fim da violência política.

À Folha o embaixador do Peru no Brasil, Rómulo Acurio, fez coro à defesa de que antecipar as eleições seria a melhor saída. "O Peru precisa do apoio da comunidade internacional e dos países vizinhos para avançar em direção a essa única saída democrática e viável: eleições gerais o mais cedo possível."

Com AFP

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