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Atos tentam consolidar 'tomada de Lima', e número de mortos passa de 50 no Peru

Dina diz que situação está controlada e vandalismo não ficará impune; confusão em Arequipa mata homem de 30 anos

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Lima | AFP e Reuters

Um grande protesto iniciado nesta quinta-feira (19) em Lima, com a participação maciça de manifestantes que partiram da região dos Andes, registrou confrontos com as forças de segurança. A polícia e o Exército haviam preparado uma operação de larga escala para evitar distúrbios e vandalismo nos atos que engrossam a pressão pela renúncia da presidente peruana, Dina Boluarte, no cargo há pouco mais de um mês e meio.

O ato, que vinha sendo apelidado de "tomada de Lima", foi marcado por um incêndio de grandes proporções em um prédio na praça San Martín, já à noite. Segundo os bombeiros, o edifício estava vazio no momento da ocorrência.

Mais cedo, grupos de manifestantes saíram de diferentes pontos da cidade para caminhar entre as principais avenidas até se encontrarem em frente ao Palácio da Justiça. Lançando gás lacrimogêneo, a polícia tentou evitar a chegada de parte das pessoas ao Congresso. Na avenida Abancay, pedras de pavimentação arrancadas da calçada foram arremessadas contra os agentes.

Incêndio em prédio no centro de Lima durante manifestações contra a presidente Dina Boluarte - Sebastian Castañeda - 19.jan.23/Reuters

Segundo a polícia, o ato em Lima reuniu 3.500 pessoas, mas a organização fala em ao menos o dobro disso.

Ao mesmo tempo, bloqueios rodoviários foram registrados em ao menos 18 das 25 regiões do país. Na cidade de Arequipa, no sul do país, o que as agências de notícias chamam de batalha campal foi vista entre policiais e manifestantes, que tentaram tomar o aeroporto local arremessando pedras nos agentes. O local foi fechado para passageiros, assim como o terminal de Cusco, importante polo turístico.

Em um balanço divulgado à noite, o governo local afirmou que 18 pessoas ficaram feridas nas manifestações ao longo do dia, sendo 14 civis e 2 policiais. Um homem de cerca de 30 anos morreu, com um ferimento causado por arma de fogo na região do abdome. A morte se somou a outras duas que haviam sido registradas em Macusani na quarta (18).

Com elas, chega a 54 o número de mortes desde o início dos atos, no mês passado. Segundo o governo, 44 pessoas perderam a vida em protestos e 9 em incidentes relacionados a bloqueios nas estradas. A outra morte foi de um policial. Depois de passar boa parte do dia em reuniões, Dina fez um pronunciamento ao lado de ministros, no qual disse que a situação no país está controlada e que atos de vandalismo não ficarão impunes. Segundo ela, o governo está "firme e mais unido do que nunca" e aberto ao diálogo.

"Aos que marcham diariamente: quem os financia? Por que não estão trabalhando? Por que abandonam suas famílias para protestar? Não há nos protestos nenhuma agenda social da qual o país precisa. Eles estão às margens da lei, querem quebrar o Estado de Direito, gerar caos e desordem", disse, manifestando solidariedade a jornalistas que foram agredidos nos atos desta quinta.

A presidente e membros do gabinete fizeram, nos últimos dias, apelos para que os atos em Lima transcorressem sem violência. "Basta de sangue, basta de luto nas famílias do Peru", disse o ministro do Interior, Vicente Romero. Dina pediu perdão pelas mortes, mas negou a possibilidade de renunciar.

Confronto entre manifestantes e forças de segurança em Arequipa, no Peru - Diego Ramos - 19.jan.23/AFP

Em preparação para o ato em Lima, autoridades implementaram um grande esquema de segurança, com a mobilização de quase 12 mil policiais, além de 120 caminhões e 49 viaturas militares, segundo cifras fornecidas pelo chefe da polícia da capital, general Victor Zanabría.

"Nos marginalizam, dizem que somos vândalos e terroristas, mas estamos pedindo o que é nosso direito", disse à agência de notícias AFP a campesina Ayda Aroni, que chegou à capital tendo viajado de Ayacucho, a cerca de 330 km. Ela carregava uma bandeira com as cores preta e branca, em demonstração de luto pelas vítimas dos protestos.

Estabelecimentos de saúde públicos e privados também foram postos em alerta máximo, disse a ministra da Saúde, Rosa Gutiérrez, citada pelo jornal local El Comercio. Ao todo, os 24,5 mil centros de saúde de todo o país, públicos e privados, estão em prontidão para receber possíveis casos de emergência durante as manifestações desta quinta.

Diversos pontos comerciais da capital fecharam as portas mais cedo que o horário habitual, conforme o ritmo dos manifestantes avançava ao longo do dia. Alguns chegaram a cobrir a fachada com tapumes e placas de madeira, para evitar saques e outros ataques.

Os atos, que proliferam no país desde a destituição e prisão do ex-presidente Pedro Castillo, depois de o populista ter tentado dar um golpe de Estado, pedem a renúncia de Dina, a dissolução do Parlamento unicameral e a convocação imediata de eleições.

Manifestantes alegam que ocupar as ruas de Lima confere mais peso aos atos. "Quando nos reprimem em nossas regiões, ninguém dá importância", disse à AFP Abdón Félix Flores, 30, que saiu no domingo (15) de Andahuaylas e chegou à capital na terça (17).

No último domingo, autoridades decidiram prolongar o estado de emergência em quatro províncias e três regiões do Peru, incluindo Lima. O decreto permite, entre outros pontos, que o Exército se junte à polícia no monitoramento dos protestos.

Na semana passada, diante da escalada de violência, o Ministério Público anunciou a abertura de uma investigação preliminar sobre diversas autoridades, incluindo a presidente e o premiê Alberto Otárola, suspeitos de terem cometido os crimes de genocídio, homicídio qualificado e lesões graves na repressão aos protestos.

Os manifestantes também demandam que uma nova Constituição seja elaborada para substituir a atual Carta Magna peruana, que data da época do ditador Alberto Fujimori, na década de 1990.

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