Sem Maduro, 73 delegações estrangeiras marcam presença na posse de Lula

Evento já indica possível mudança no posicionamento do Brasil na geopolítica internacional

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Brasília

Com participação expressiva de líderes da América do Sul, 73 delegações estrangeiras marcaram presença na posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste domingo (1º). Uma das ausências sentidas no lado petista foi a do ditador venezuelano, Nicolás Maduro.

Depois de cumprimentar o novo chefe do Executivo no Palácio do Planalto, uma parcela dos representantes das delegações internacionais seguiu para o tradicional coquetel no Palácio do Itamaraty. O primeiro a chegar à sede da chancelaria brasileira foi o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

A jornalistas o português afirmou ter um encontro bilateral marcado com Lula na segunda-feira (2) e que a viagem do presidente brasileiro a Portugal deve ocorrer em três meses.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, cumprimenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cerimônia de posse do petista no Palácio do Planalto,em Brasília
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, cumprimenta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cerimônia de posse do petista no Palácio do Planalto,em Brasília - Ricardo Moraes/Reuters

A posse de Lula já indica uma possível mudança no posicionamento do Brasil na geopolítica internacional, com um número expressivo de delegações, muitas das quais de países que tinham se distanciado do Brasil durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL). A lista de líderes presentes também indica um novo relacionamento com os vizinhos sul-americanos. Vieram ao Brasil para a posse, entre outros, os presidentes Alberto Fernández (Argentina), Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia).

Durante a transição de governo, o novo chanceler Mauro Vieira afirmou que uma das prioridades é reforçar os laços na América Latina, em particular no âmbito de fóruns internacionais abandonados pela gestão Bolsonaro, como a Unasul e a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Após impasses e reviravoltas, Maduro não veio ao Brasil, e a delegação venezuelana foi representada pelo presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodriguez. A equipe do petista esperava contar com a presença do chavista, mas sabia das dificuldades devido a uma portaria editada em 2019, durante o governo Bolsonaro, que barrava a entrada no Brasil de altas autoridades do país caribenho.

Após articulação do gabinete de transição, o governo Bolsonaro revogou a portaria na sexta-feira (30), a dois dias da posse. Um escalão avançado da Venezuela desembarcou em Brasília na véspera da cerimônia para organizar a viagem do ditador, mas impasses logísticos travaram a vinda de Maduro.

O coquetel no Palácio do Itamaraty foi o terceiro evento solene da posse do petista. Lula desfilou em carro aberto da Catedral de Brasília até o Congresso, onde fez o juramento e assinou, ao lado do vice Geraldo Alckmin (PSB), o termo de posse. Depois seguiu para o Planalto, onde empossou os ministros e discursou.

A posse de Lula teve presença confirmada de 73 delegações de chefes e vice-chefes de Estado, governo e poder, além de chanceleres e enviados especiais, com grande presença de líderes sul-americanos e de países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Quando o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, cumprimentou Lula no Planalto, houve um momento curioso. Dois ex-líderes do país sul-americano, José Pepe Mujica e Julio Sanguinetti, acompanharam o atual chefe uruguaio, e o trio fez uma foto junto ao petista. A passagem é uma amostra do caráter latente de respeito à democracia no Uruguai, já que todos eles têm orientações ideológicas diversas.

Da esq. para a dir., os ex-presidentes do Uruguai Julio Maria Sanguinetti e José 'Pepe' Mujica, o presidente Lula e o atual líder do Uruguai, Luis Lacalle Pou, na posse do petista, em Brasília
Da esq. para a dir., os ex-presidentes do Uruguai Julio Maria Sanguinetti e José 'Pepe' Mujica, o presidente Lula e o atual líder do Uruguai, Luis Lacalle Pou, na posse do petista, em Brasília - Sergio Lima/AFP

Entre os europeus, três países escalaram chefes de Estado, que possuem cargos majoritariamente cerimoniais: além de Portugal, com Marcelo Rebelo de Sousa; Espanha, com o rei Filipe 6º, e Alemanha, com o presidente Frank-Walter Steinmeier. Os presidentes de Angola (João Lourenço), Cabo Verde (José Maria Neves) e Timor Leste (José Ramos-Horta) são outros líderes que compareceram ao cerimonial.

Os EUA foram representados pela secretária do Interior, Deb Haaland, e os Emirados Árabes Unidos, pela ministra de estado para cooperação internacional, Reem Al Hashimy. Outros países, como Itália, Índia, Hungria e Polônia, foram representados por embaixadores residentes no Brasil.

O número de autoridades estrangeiras, de acordo com o embaixador Fernando Igreja, responsável pelo cerimonial da posse, é superior ao dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Na comparação com a posse de Bolsonaro, Lula conseguiu comparecimento mais expressivo de autoridades estrangeiras.

Foram 11 chefes de Estado ou de governo na ocasião, em 2019, com destaque para líderes da ultradireita com quem Bolsonaro buscou alinhamento: o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu —que, por coincidência, acaba de voltar ao poder—, e o premiê da Hungria, Viktor Orbán. Outra autoridade a chamar a atenção no evento foi o então presidente da Bolívia, Evo Morales, de orientação à esquerda.

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