Presidente de Angola toma posse com Exército nas ruas e oposição resignada

João Lourenço assume segundo mandato consecutivo na nação lusófona sob alegações de fraude e desrespeito à democracia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Guarulhos

João Lourenço, atual líder de Angola, tomou posse nesta quinta (15), em uma Luanda repleta de militares, para seu segundo mandato de cinco anos à frente da Presidência da nação lusófona.

Fechada para o público, a cerimônia consolidou a trajetória do MPLA no poder, ininterrupta desde a independência, em 1975, e representou o golpe final nas tentativas de questionamento por parte da oposição. A Unita, derrotada no pleito, alegou fraude e desrespeito ao processo eleitoral, mas teve as contestações frustradas na Justiça.

João Lourenço, presidente de Angola, em Luanda - Siphiwe Sibeko - 26.ago.22/Reuters

Com o desafio de desvencilhar a economia da hegemonia do petróleo e de elevar índices de bem-estar social, que ainda patinam, Lourenço repetiu em seu primeiro discurso partes da fórmula que adotou em 2017, a primeira vez em que foi eleito.

Ele prometeu concentrar atenções no setor social e na oferta de produtos que sejam produzidos no próprio país —o que seria um considerável feito para a nação de 34 milhões de habitantes que basicamente exporta matérias-primas e importa bens de consumo.

Doze chefes de Estado, entre eles o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, estiveram presentes, segundo a mídia local. O Brasil, informou o Itamaraty, fez-se representar pelo secretário de Oriente Médio, Europa e África, embaixador Kenneth Félix Haczynski, e o embaixador em Luanda, Rafael Vidal.

Nas ruas, a forte presença militar foi apontada por locais e ativistas como uma prática de intimidação. Tem sido assim desde o início do mês, quando as Forças Armadas anunciaram um "estado de prontidão combativa" até a próxima terça (20), para prevenir o que chamam de incidentes pós-eleições, sobretudo na capital.

Agências de notícias relataram repressão a manifestações contrárias ao governo e detenções de pessoas que concederam entrevistas críticas a João Lourenço e à maneira como o processo eleitoral se desenrolou. Especialistas, antes mesmo de o pleito ocorrer, apontavam que o uso da máquina pública pelo governo tornava desleal a competição.

Francisco Furtado, chefe da segurança do presidente, disse à agência portuguesa Lusa que a presença do Exército serve para proteger o povo, não intimidar. E acusou a oposição de ter um plano de subversão para derrubar Lourenço com base em ajuda externa.

"Notamos há dois anos que havia uma estratégia de subversão da ordem, e é por esses aspectos que as forças têm de estar em prontidão", afirmou.

Se alardeou críticas aos resultados do pleito, que asseguraram 124 cadeiras em um Parlamento de 220 assentos para o MPLA, a Unita, que ficou com 90 lugares —recorde para a oposição—, agora é acusada por ativistas e movimentos sociais de resignação.

O partido liderado por Adalberto Costa Júnior por mais de uma vez disse que não reconhece os resultados eleitorais e não compareceu à posse de JLo, como é conhecido o presidente, mas, contrariando o que pleiteava parte dos eleitores, anunciou nesta quarta (14) que vai empossar seus 90 políticos eleitos para a Assembleia Nacional.

Costa Júnior, em entrevista coletiva, disse que uma ampla consulta no partido concluiu que a "resistência" seria mais efetiva no seio das instituições de Estado do que fora delas —e que essa seria a melhor opção para lutar nas próximas eleições.

O partido é um dos que apoiam uma manifestação marcada para o próximo dia 24, a primeira grande mobilização contra o que os opositores chamam de fraude eleitoral. A Unita ainda promete seguir questionando na Justiça os resultados, ainda que o Tribunal Constitucional tenha negado, na última semana, um recurso para revisar o pleito.

Costa Júnior disse que JLo tomaria posse de um "poder autoatribuído" e de legitimidade questionável, "consumando um golpe de força".

Ainda que, nos números oficiais, tenha levado 51,17% dos votos, o MPLA sofreu derrotas em áreas importantes, sendo Luanda a principal. Na província costeira, 62,25% dos votos foram para a Unita, contra 33,62% para a sigla governista. A participação geral foi de apenas 44,82% dos mais de 14 milhões de eleitores.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.