Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Ataque falso, espaço aéreo fechado e drones levam gosto da guerra à Rússia

Hackers divulgam alerta em rádios e TVs, governo impede voos em São Petersburgo, e depósito é atacado

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São Paulo

Enquanto as tropas de Vladimir Putin provocam o que o Exército ucraniano chamou de "situação extremamente tensa" no leste do país, alarmes falsos e uma série de ataques com drones levaram o gosto da guerra para o território da Rússia nesta terça-feira (28).

Em uma ação de escopo inédito, hackers invadiram servidores de rádios e TVs de cerca de uma dúzia de cidades e divulgaram uma mensagem de ataque com míssil iminente pela manhã, madrugada no Brasil.

Incêndio causado por suposto ataque de drone ucraniano em Belgorodo, em abril do ano passado
Incêndio causado por suposto ataque de drone ucraniano em Belgorodo, em abril do ano passado - Ministério das Emergências da Rússia - 1º.abr.22/AFP

"Atenção, atenção. Um alerta aéreo foi emitido. Todos devem ir a abrigos agora. Atenção, atenção. Ameaça de míssil", dizia uma voz feminina com sirenes ao fundo em diversos vídeos captados nas redes sociais —em locais diversos, como a Crimeia e Ufa, nos Urais.

Na península anexada da Ucrânia em 2014, uma TV regional mostrou o símbolo de um homem correndo e a mensagem "todos para o abrigo agora". Não houve registro de pânico, contudo. Segundo a mídia estatal russa, os ucranianos são os culpados. O coletivo de hackers Anonymous reivindicou a autoria do ataque em nome do país invadido, mas há poucos detalhes sobre como foi atingido tal nível de sofisticação.

Já na vida real, houve uma interrupção do tráfego aéreo pela manhã em um raio de 200 km em torno do aeroporto de Pulkovo, em São Petersburgo. A agência de notícias RIA-Novosti, citando uma fonte anônima, afirmou que o motivo foi o avistamento de um objeto não identificado, talvez um drone, e que caças foram enviados para tentar elucidar o caso —sem sucesso.

Mais tarde, o Ministério da Defesa afirmou que tudo não passou de um exercício de defesa aérea coordenado com a agência civil de aviação do país. Mesmo que essa versão seja verdadeira, causou espanto tal medida drástica ser tomada sem aviso prévio aos passageiros.

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Putin foi informado sobre a disrupção em São Petersburgo, cidade natal e berço político do presidente. A interrupção durou uma hora e acabou por volta das 12h (6h em Brasília), com vários voos tendo dado meia-volta, segundo sites de monitoramento aéreo.

O episódio, que ecoa a recente crise dos óvnis devido à interceptação de um balão chinês sobre os Estados Unidos, coloca em perspectiva a percepção russa da guerra. O Kremlin busca de todas as maneiras, na mídia estatal que controla, pintar um quadro controlado de uma "operação militar especial".

Nas ruas de Moscou, há pouquíssimos sinais do conflito a cerca de 500 km dali: um isolado "Z", símbolo da invasão que completou um ano na sexta-feira (24), na frente do parque Górki, ou alguns cartazes de rua homenageando os soldados mortos.

Houve, de todo modo, ataques em território russo desde o começo da guerra. Belgorodo é uma região que registra explosões ocasionais, e bases aéreas bastante distantes das fronteiras ucranianas foram atingidas por drones de longo alcance de origem soviética.

Foi novamente o caso nesta terça. Um depósito de combustível em Tuapse, a distantes 700 km da Ucrânia, foi atingido, de acordo com as autoridades locais, por drones. O incêndio continuou ao longo do dia. Não está clara a natureza do ataque, que não foi reivindicado por ninguém —nunca é possível descartar a ação de infiltrados dentro da Rússia ou de opositores do governo.

Segundo a RIA-Novosti, houve também dois ataques frustrados com drones nas regiões de Krasnodar e Adiguésia, mas não está claro se estão relacionados ao incidente em Tuapse, que fica no primeiro território.

Além disso, um drone ucraniano UJ-22, aparelho pequeno com carga de apenas 20 kg e autonomia de 800 km, caiu perto de Kolomna, meros 110 km a sudeste de Moscou. Segundo o governo regional, ele mirava uma estação de compressão de gás que serve a capital russa.

Também nesta terça, Putin pediu que o principal serviço de segurança interno da Rússia, o FSB, redobre seu trabalho contra sabotadores. "Serviços de inteligência ocidentais tradicionalmente atuam ativamente na Rússia, e agora eles colocaram pessoal adicional, recursos técnicos e outros contra nós. Temos de responder à altura", afirmou. O FSB é o principal sucessor da antiga KGB soviética, e foi dirigido por Putin antes de ele virar premiê em 1999.

Em campo, a pressão russa em torno de Bakhmut, onde foram avistados pela primeira vez tanques alemães Leopard-2, presumivelmente do lote de quatro já doados pela Polônia a Kiev, segue intensa, com relatos de queda iminente da cidade estratégica em Donetsk (leste). Tomar Bakhmut, palco de algumas das batalhas mais sangrentas da guerra, seria o primeiro grande prêmio da Rússia em mais de seis meses e abriria caminho para a tomada dos últimos centros urbanos remanescentes na região.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, descreveu Bakhmut como uma fortaleza que precisa ser defendida até o fim. Na frente política, ele voltou a pedir celeridade para a admissão de seu país na União Europeia. Em visita a Helsinque, o secretário-geral da Otan (aliança militar ocidental), Jens Stoltenberg, disse que os países do grupo "concordam que a Ucrânia deve virar um membro, mas que isso é uma perspectiva de longo prazo".

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