Esta é a edição da newsletter Guerra na Ucrânia. Quer recebê-la no seu email? Inscreva-se abaixo.
Como uma "guerra híbrida", o conflito na Ucrânia tem sido travado em diversas frentes e com um arsenal que inclui armamentos convencionais, disputa narrativa, campanhas de desinformação e ataques cibernéticos. É sobre esses últimos que falaremos na newsletter de hoje.
O início do conflito entre dois países com grande experiência em ataques virtuais provocou o temor da eclosão de uma batalha sem precedentes no ciberespaço:
-
A Rússia é considerada dos países com maior poder ofensivo cibernético, ao lado de EUA e China;
-
A Ucrânia é um celeiro de hackers e tem apoio de grupos famosos no ciberativismo, como o Anonymous.
De fato, com o acirramento da tensão entre os dois países, as investidas virtuais se avolumaram. Só no primeiro mês da guerra, o Serviço Estatal de Comunicação Especial e Proteção de Informações da Ucrânia afirma ter detectado três vezes mais ataques de hackers a sites ucranianos do que no mesmo período do ano passado. Entre os alvos estão instituições governamentais, autoridades, operadoras de telecomunicações e meios de comunicação.
Mas as investidas conhecidas até o momento são consideradas por especialistas como sendo menos sofisticadas e perigosas do que se poderia esperar do histórico das nações —principalmente a Rússia. A notícia não é um motivo de alívio, mas um indicativo de que, talvez, o pior ainda esteja por vir.
Convidamos o repórter especial da Folha Raphael Hernandes (@hernandesraph), especializado em tecnologia e cibersegurança, para explicar como tem sido a guerra cibernética entre Rússia e Ucrânia até agora.
Passado um mês do conflito, como a ameaça cibernética se configurou? Até agora, os ataques vistos por parte da Rússia foram, em sua maioria foram, ou de menor capacidade técnica ou de menor impacto.
Uma hipótese para isso é que a Rússia tenha limitado um pouco desse poder para evitar que um ataque saísse dos ambientes ucranianos —como ocorreu em 2017, quando um malware [conhecido como NotPetya] direcionado à Ucrânia saiu do controle, se espalhou por empresas do mundo todo e causou prejuízos estimados em bilhões pela Casa Branca.
Pode ser também que os russos estejam muito ocupados tentando defender o seu espaço cibernético de ataques feitos por voluntários em apoio à Ucrânia. Ou, então, podem não ter visto tanta eficiência nesse tipo de ataque para esse conflito.
Qual seria o maior risco desses ataques? Para os ucranianos, é o risco de ataques capazes de derrubar o fornecimento de energia, por exemplo, como a Rússia fez no passado. São os chamados ataques contra a infraestrutura crítica, que se tornaram tendência nos últimos anos e fazem parte do arsenal russo.
Quanto ao resto do mundo, há o risco de ataques saírem do controle —como no exemplo de 2017, do NotPetya. Mas especialistas apontam que os ataques cibernéticos não seriam um fator que faria ganhar uma guerra, da mesma forma que o combate aéreo, por si só, também não. São uma parte do arsenal utilizado em um contexto mais amplo.
Não se perca
Citamos três tipos de ciberataques que foram vistos ao longo do conflito:
- Bloqueio: Em 24 de fevereiro, dia da invasão da Ucrânia, um ataque atribuído a hackers russos atingiu satélites da empresa de telecomunicações Viasat e deixou parte dos ucranianos sem acesso à internet. O impacto foi sentido também em outros países, como a Alemanha
- Negação: Os ataques de negação de serviço (ou "DDoS") tentam sobrecarregar sistemas por meio de muitos acessos simultâneos, de forma a deixá-los lentos ou até fora do ar —o que é uma preocupação maior no caso de serviços essenciais. A Ucrânia tem relatado ataques recorrentes desse tipo
- "Wipers": São malwares que entram no computador ou no sistema e se espalham por uma rede corporativa ou governamental para apagar informações. A Ucrânia registrou ataques direcionados com esses vírus —dados indicam que os programas estavam prontos para execução ainda antes do início do conflito
O que aconteceu nesta terça (5)
-
Zelenski cobra tribunal para julgar Rússia, que fala em "farsa monstruosa" em Butcha;
-
Unidade antiterrorismo da França abriu três investigações sobre crimes de guerra;
-
Mais 4 países europeus, incluindo Itália e Espanha, expulsaram diplomatas russos;
-
EUA interromperam pagamentos de títulos russos para aumentar a pressão sobre Moscou.
Imagem do dia
O que ver e ouvir para entender o conflito
Um podcast para se aprofundar no tema dos ciberataques e uma seleção de imagens de manifestações contra a guerra nos muros das cidades:
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.