Oposição na Belarus diz ter destruído avião-radar da Rússia em ação inédita

Ataque ocorreu em base próxima a Minsk e deverá colocar mais pressão sobre ditadura aliada de Putin

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São Paulo

Um grupo opositor da ditadura da Belarus atacou com drones uma base aérea usada por forças russas perto de Minsk, capital do país aliado de Moscou. Os ativistas dizem ter destruído um avião-radar, o que, se confirmado, terá sido a maior perda da Força Aérea de Vladimir Putin na Guerra da Ucrânia.

Segundo a Bipol, a organização guerrilheira em questão, foi danificado de forma irreversível "um dos nove aviões de alerta aéreo antecipado e controle da Rússia, que custa US$ 330 milhões [R$ 1,7 bilhão]".

Um avião-radar Beriev A-50 igual ao modelo que teria sido destruído na Belarus
Um avião-radar Beriev A-50 igual ao modelo que teria sido destruído na Belarus - Alexander Zemlianitchenko - 7.mai.2019/Pool/Reuters

Trata-se do modelo Beriev A-50, do qual Moscou dispõe na realidade de dez, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres). De todo modo, é o maior e mais caro avião russo destruído na guerra, caso o relato esteja correto.

O A-50 funciona como posto de comando aéreo, orientando outras aeronaves e detectando alvos a até 650 km de distância. É uma peça central para operações coordenadas e, se foi destruído, é uma perda simbólica ainda maior do que a do cruzador Moskva, afundado pelos ucranianos em 2022 —até porque o navio não era central para o esforço de guerra como esses aviões são.

Segundo blogueiros militares russos e um analista ouvido pela Folha, tudo indica que o A-50 foi no mínimo avariado. Uma versão, contudo, sugere que o estrago pode ter ocorrido em um Il-76, modelo no qual o avião-radar é baseado, da Belarus. As Forças Armadas russas ainda não se manifestaram sobre o episódio, que deverá gerar ainda mais pressão sobre o regime belarusso.

Em 2020, mais uma eleição fraudada em favor do ditador Aleksandr Lukachenko levou a uma série inédita de protestos, abafados com repressão dura e apoio de Putin, que desde os anos 2000 namora a ideia de fundir Belarus à Rússia —ambos os países participam de uma entidade vaga chamado Estado da União.

O líder local, no poder desde 1994, sempre buscou ambiguidade na relação para manter independência, mas desde as manifestações sua relação com o Kremlin tornou-se mais submissa. Ele não participou, contudo, da invasão da vizinha Ucrânia, que completou um ano na última sexta-feira (24).

Lukachenko, porém, cedeu seu território para a Rússia operar. O cerco fracassado a Kiev partiu de solo belarusso. Sistemas antiaéreos e aeronaves também ficam baseados lá, e desde a virada do ano há um temor constante entre ucranianos de que a ditadura enfim entre diretamente no conflito.

O ataque deste domingo (26) se encaixa nesse contexto. "Foram drones. Os participantes dessa operação são belarussos, [obtiveram] vitória e estão a salvo fora do país", afirmou a nota do Bipol. "A parte frontal e a seção central do avião foram danificadas, assim como a antena de radar. Ele não voará a lugar algum."

"Guerrilheiros confirmaram uma bem-sucedida operação especial para explodir um avião russo raro no aeródromo de Matchulischi, perto de Minsk", postou Franak Viacorda, principal assessor da líder oposicionista Svetlana Tikhanovskaia, derrotada na eleição fraudulenta de 2020, hoje exilada na Lituânia.

Em Moscou, o porta-voz Dmitri Peskov falou sobre o plano de paz apresentado por Pequim. "Estamos dando muita atenção ao plano dos nossos amigos chineses. Os detalhes têm de ser analisados meticulosamente, levando em conta os interesses de todos os lados. É um processo longo e intenso."

Em outras palavras, o representante do Kremlin acenou aos aliados, mas apontou a inviabilidade atual da proposta chinesa, que pede o fim das hostilidades, o respeito às fronteiras reconhecidas —embora não fale em retirada russa— e a cessação do regime de sanções ocidentais contra Moscou.

Nenhuma das partes se deu por satisfeita. Os EUA criticaram a ideia, a Otan, aliança militar ocidental liderada por Washington, disse que Pequim não era confiável por ter lado na disputa, e a Ucrânia agradeceu, mas disse que apenas "partes" do plano —as que lhe interessam— eram exequíveis.

Rivais da China, os EUA têm dito desde a semana passada que Pequim estaria prestes a enviar armas à Rússia, como munição e drones. O regime chinês nega, e o debate dominará a reunião de chanceleres do G20, grupo das 20 principais economias do mundo, em Nova Déli, na Índia, a partir de quarta (1º).

Nesta segunda, a chancelaria chinesa disse outra vez que seu objetivo é promover a paz e que sanções contra firmas do país asiático devido a ligações com o grupo mercenário russo Wagner são injustificáveis.

Segundo também disse na segunda o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, "a China claramente escolheu seu lado" no conflito. Com efeito, Pequim confirmou nesta semana que o ditador Lukachenko será recebido pelo líder Xi Jinping.

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