Brasil cede aos EUA e inclui linguagem mais dura à Rússia em comunicado de Lula e Biden

Inicialmente, texto não condenava diretamente Moscou pela Guerra da Ucrânia

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Washington

O Brasil cedeu ao governo americano e fará uma condenação mais dura à Rússia devido à invasão da Ucrânia no comunicado conjunto dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Joe Biden.

Antes, o texto não condenava diretamente a Rússia pela guerra, em razão da objeção dos negociadores brasileiros a uma linguagem mais específica sobre a agressão de Moscou. A declaração falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA em questões regionais e globais, como o conflito no Leste Europeu.

Lula e Biden conversam no Salão Oval, na Casa Branca
Lula e Biden conversam no Salão Oval, na Casa Branca - Jonathan Ernst - 10.fev.23/Reuters

O governo brasileiro, porém, cedeu à pressão e aceitou uma declaração que condena nominalmente a Rússia pela violação territorial na Ucrânia, pelo desrespeito ao direito internacional, pelas mortes e pelos ataques à infraestrutura essencial do país e cita os efeitos do conflito sobre a economia mundial.

A linguagem é semelhante à adotada no comunicado conjunto de Lula com o premiê alemão, Olaf Scholz, em 30 de janeiro. O texto também falava em violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia, mas os negociadores brasileiros não queriam adotar essa linguagem tão específica para o comunicado com os americanos, porque uma declaração com os EUA nesses termos tem mais visibilidade.

O governo brasileiro teme que, ao assumir um lado de forma clara, a habilidade do país para agir como um "facilitador da paz" pudesse ser prejudicada. Uma declaração de Lula com Biden nomeando os russos pode gerar desconforto com Putin, ainda que o Brasil já tenha condenado a agressão russa publicamente.

Lula pretende lançar uma espécie de clube da paz para negociar o fim do conflito na Ucrânia. Apesar de condenar a invasão feita pela Rússia, o presidente se opõe ao envio de armas e de munições aos ucranianos e à adoção de sanções contra os russos. Já os Estados Unidos vêm destinando bilhões de dólares em ajuda a Kiev e impondo sanções ao governo de Vladimir Putin.

O líder petista quer reunir países que, para o governo brasileiro, não estão diretamente envolvidos na guerra e que poderiam discutir uma visão de longo prazo para solucionar o conflito. Lula defende que um dos países que poderia participar dos diálogos pelo fim do conflito é a China, aliada do presidente russo, Vladimir Putin, com quem disse ter "amizade sem limites" antes do início da guerra. Pequim, no entanto, evita participar diretamente da disputa.

Outros países que devem ser convidados para a iniciativa são a Índia, que não aderiu às sanções ocidentais e aumentou suas compras de petróleo, carvão e fertilizante da Rússia, e a Turquia, que intermediou o acordo para que a Ucrânia voltasse a exportar grãos.

Os negociadores brasileiros não queriam comprometer a capacidade do Brasil de levar a Rússia à mesa de negociação, mas por fim consideraram que a linguagem apenas consolida uma posição conhecida.

Lula e Biden se encontraram nesta sexta (10) na Casa Branca, em Washington. No encontro, os líderes destacaram a importância da preservação ambiental, e o petista convidou o homólogo americano para discutir um mecanismo de governança global que force os países a acatar decisões na área climática.

A pauta ambiental tomou boa parte dos 13 minutos de declarações de ambos antes da conversa privada no Salão Oval. Biden afirmou que vê o Brasil como "parceiro natural para enfrentar os desafios atuais, globais e especialmente as mudanças climáticas".

Além de assuntos sobre o ambiente, os presidentes enfatizaram a defesa da democracia. Lula agradeceu ao americano pela "solidariedade no reconhecimento" de sua vitória — Biden foi um dos primeiros líderes a parabenizar o petista após o resultado na eleição de outubro.

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