EUA pedem ao Brasil para se colocar no lugar da Ucrânia

Subsecretária do Departamento de Estado aumenta tom por posição mais incisiva do governo brasileiro contra Moscou

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Washington

Os Estados Unidos querem "que o Brasil calce os sapatos da Ucrânia", ou seja, coloque-se no lugar do país do leste europeu, e condene a invasão russa de forma mais incisiva, disse nesta quinta-feira (16) a subsecretária de Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland.

"Se [o Brasil] tivesse um grande vizinho pegando pedaços de seu território e o invadindo com militares, esperaria e ansiaria pelo apoio da comunidade democrática para resistir e repelir isso?", questionou ela em conversa com jornalistas. "Trata-se de defender a Carta da ONU e as regras do mundo que permitiram que nossos filhos crescessem em um ambiente internacional relativamente civilizado", afirmou.

Victoria Nuland (centro), subsecretária de Assuntos Políticos do Departamento de Estado dos EUA, durante sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, em Washington
Victoria Nuland (centro), subsecretária de Assuntos Políticos do Departamento de Estado dos EUA, durante sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, em Washington - Brendan Smialowski - 26.jan.23/AFP

Nuland ocupa o cargo mais alto da carreira diplomática no país —os cargos de secretário e vice no Departamento de Estado, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores nos EUA, são políticos.

A fala desta quinta representa um aumento do tom do governo americano quanto à postura do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), herdada da gestão Jair Bolsonaro (PL), de evitar interferência mais direta no conflito. O novo presidente brasileiro negou um pedido da Alemanha para repassar munições a tanques do lado ucraniano e afirmou na última semana que "o Brasil não participará" da guerra.

Até aqui, os EUA vêm tratando em público a postura de Lula como parte do jogo diplomático, uma vez que as nações têm interesses diferentes. John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional, disse na última semana que os EUA respeitam a posição de Lula —com a ressalva de que, para os americanos, segundo ele, não é hora de "agir de modo habitual" quando o assunto é Rússia.

Mas na visita de Lula a Joe Biden na Casa Branca, na última sexta (10), o governo brasileiro cedeu e aceitou condenar de forma mais dura a Rússia no comunicado divulgado ao fim do encontro. Versão preliminar do texto não condenava diretamente Moscou e falava apenas sobre a cooperação entre Brasil e EUA em questões regionais e globais, como o conflito no Leste Europeu. O texto final, porém, diz que "ambos os presidentes lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional".

Nesta quinta, à Folha, Nuland afirmou que os EUA tiveram "boas conversas" com o novo governo Lula, na visita presidencial em Washington e em visitas de delegações americanas ao Brasil desde as eleições. Ela mesma foi ao país no ano passado e deu entrevistas expressando confiança no sistema eleitoral.

Nuland afirmou nesta quinta que ambos os países, bem como outras nações como Egito e África do Sul, "trabalham intensamente" para lidar com as consequências econômicas do que chama de "guerra de Putin", como a necessidade de fertilizantes para garantir a segurança alimentar. "Os EUA e outros parceiros se ergueram para resolver a situação", disse ela, que também ressaltou que a presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU —em assento não permanente— faz do país um "ator importante".

Dados apresentados pela subsecretária apontam que, em um ano, a guerra matou ou feriu 200 mil soldados do lado russo. Além disso, algumas unidades perderam mais da metade do equipamento militar e mais de um milhão de pessoas deixaram o país, de acordo com ela. Enquanto a guerra se aproxima de completar um ano, a pergunta que fica é mais quanto tempo o povo russo aguentará isso, afirmou.

Os EUA e demais países do G7 preparam uma nova rodada de sanções na semana que vem, quando a guerra completar um ano, de acordo com a subsecretária, que vai mirar o fluxo de tecnologia de defesa e equipamentos militares avançados para a Rússia. Também entram na mira países que estão ajudando Moscou a burlar as sanções, disse ela, como Irã, Coreia do Norte e China.

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