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Casamento de George Santos com brasileira gera suspeita de violação de lei migratória

Ativista LGBTQIA+ pede que Congresso investigue antigo matrimônio de deputado envolvido em lista de mentiras

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Grace Ashford Miriam Jordan Michael Gold
The New York Times

Quando o deputado George Santos tinha 24 anos, fez algo que muitos milhões de pessoas fazem todos os anos: casou-se. O matrimônio, com uma brasileira, duraria sete anos.

Naquela época, Santos começou a lançar as bases de uma história de vida em grande parte fictícia, indo e vindo entre Nova York e Flórida, trabalhando em empregos esporádicos que mais tarde ele falsamente transformou em uma carreira de sucesso em Wall Street.

Ele também namoraria homens –chegando a pedir um deles em casamento em 2014.

George Santos na Câmara dos Representantes dos EUA, em Washington
George Santos na Câmara dos Representantes dos EUA, em Washington - Evelyn Hockstein - 7.fev.23/Reuters

Em 2019, Santos estava divorciado, pouco antes de lançar sua primeira campanha para o Congresso. Mas o antigo relacionamento atraiu um novo escrutínio na quarta-feira (15), por meio de uma carta enviada ao órgão de vigilância da Câmara solicitando uma investigação sobre se Santos violou as leis de imigração.

A solicitação foi feita por Malcolm Lazin, ativista dos direitos LGBTQIA+ e ex-promotor federal, ao Comitê de Ética da Câmara e ao Escritório de Ética. É a mais recente de uma torrente de investigações de Santos, que fez história como o primeiro republicano não titular declaradamente gay eleito para o Congresso.

Lazin não afirma ter conhecimento ou evidência clara de que o casamento de Santos foi uma farsa; em vez disso, apresenta detalhes de reportagens que sugerem que o casal levava vidas separadas, incluindo o fato de que Santos saiu com homens enquanto esteve casado.

Durante o casamento, a mulher de Santos obteve a cidadania por meio do marido, que é cidadão americano. Funcionários da imigração não deram indícios de que o casamento levantou qualquer suspeita. O advogado de Santos, Joe Murray, não quis comentar.

Santos, um republicano que representa os distritos de Long Island e Queens, está enfrentando várias investigações sobre seu passado durante suas duas candidaturas ao cargo, sobre suas declarações financeiras pessoais e padrões questionáveis na arrecadação de fundos e gastos de campanha.

O Comitê de Ética da Câmara, grupo bipartidário de deputados, já foi solicitado a examinar as declarações financeiras de Santos e possíveis violações éticas relacionadas ao seu curto período no cargo. Santos disse que vai cooperar com a investigação do comitê. Em entrevista dada em dezembro para a publicação política City & State, Santos sugeriu que não era abertamente gay quando se casou. "Eu me casei jovem, e me casei com uma jovem na época, e estávamos praticamente apaixonados", disse ele.

Mas, continuou, o relacionamento acabou depois que ele decidiu se assumir gay. "Eu me libertei e a libertei", disse ele, acrescentando que a separação foi um tanto contenciosa e ocorreu muito tempo antes do divórcio. Agora ele está num relacionamento sério com um homem.

Ainda assim, amigos, ex-companheiros de quarto e colegas de trabalho disseram em entrevistas que Santos se identificou como gay durante toda a vida adulta e que namorou homens durante o período em que foi casado com a ex-mulher. Um desses homens, Pedro Vilarva, lembrou que Santos o pediu em casamento em 2014. Ele disse que o casal viveu junto durante vários meses, mas se separou depois que Vilarva descobriu que Santos era procurado pelas autoridades brasileiras por fraude em cheques.

Registros públicos obtidos pelo grupo sem fins lucrativos Reclaim the Records indicam que Santos se casou em 2012 em Manhattan. Mas em maio de 2013, segundo os registros do tribunal, uma das partes tentou anular o casamento, embora o esforço tenha sido abandonado em dezembro daquele ano.

Em março de 2014, Santos entrou com uma petição de imigração familiar para sua mulher, de acordo com um cronograma oficial do caso compartilhado com o jornal The New York Times.

A petição foi aprovada em julho, e ela recebeu residência permanente. Tal aprovação é considerada um reconhecimento oficial de que o relacionamento é válido e se baseia em entrevistas, documentos como certidão de casamento, contas e outras provas de coabitação e fotografias de casamento.

Em julho de 2016, após os dois anos exigidos, a mulher de Santos entrou com um formulário nos Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA para remover as condições. O pedido foi aprovado em outubro de 2017, e a ex-mulher se tornou residente permanente legal. Em agosto de 2022 ela se tornou cidadã americana.

Em outubro de 2022, ela entrou com uma petição para patrocinar seu novo marido, que também é brasileiro, para obter a permissão de residência, segundo o registro. Esse assunto está pendente.

Se as autoridades descobrirem que Santos se casou para obter a cidadania para sua mulher, ele poderá pegar até cinco anos de prisão, e sua ex-mulher poderá ser deportada.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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