Descrição de chapéu Folhajus terrorismo

Justiça britânica retira nacionalidade de mulher que se juntou ao Estado Islâmico

Shamima Begum fugiu aos 15 anos para a Síria, onde se casou com combatente do grupo terrorista

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Londres | AFP e Reuters

A Justiça britânica confirmou nesta quarta (22) a revogação da nacionalidade de Shamima Begum, 23, ex-cidadã do Reino Unido que fugiu aos 15 anos para entrar no grupo terrorista Estado Islâmico (EI), na Síria.

Shamima, que permanece no país do Oriente Médio, havia recorrido da decisão. A defesa alega que ela foi vítima de tráfico organizado pelo EI, que a teria obrigado a se casar com um combatente do grupo.

Moça com a cabeça e o pescoço cobertos por roupa islâmica
Shamima Begum, então com 19 anos, dá entrevista a repórter da BBC em campo de prisioneiros na Síria - 19.fev.19/Reprodução

Ela faz parte de um grupo que ficou conhecido como "noivas do EI" —mulheres cooptadas para se unir aos terroristas, a maioria das quais na adolescência e sob falsas promessas de boas condições de vida.

O Reino Unido alegou motivo de segurança nacional para retirar a cidadania, em 2019, logo após ela ser encontrada em um campo de detenção na Síria. O caso dividiu a opinião pública devido à idade da jovem.

Shamima, cuja família tem origem em Bangladesh, casou-se com um militante do Estado Islâmico holandês e teve três filhos na Síria —nenhum deles sobreviveu. Ela foi capturada pelos curdos em 2019 em Baghuz, às margens do rio Eufrates, e mantida em campos de prisioneiros no nordeste sírio.

Identificada por jornalistas, Shamima atraiu a atenção internacional ao ser filmada com um bebê nos braços e dizer que queria voltar ao Reino Unido. Paralelamente, a entrevista provocou hostilidade de parte das 12 mil estrangeiras detidas no local, e a mulher foi transferida para o campo Roj, perto da fronteira com o Iraque, quando seu filho morreu de pneumonia, com três semanas de vida.

O Ministério do Interior britânico divulgou comunicado informando estar "satisfeito" com a decisão desta quarta. Já a defesa de Shamima e organizações internacionais se manifestaram contra o veredicto.

"Já não há proteção para uma criança britânica vítima do tráfico de menores fora do Reino Unido quando o ministro do Interior invoca a segurança nacional", disseram os advogados da mulher, Gareth Pierce e Daniel Furner, acrescentando que eles vão recorrer da decisão. De acordo com a legislação britânica, a defesa tem de levar o caso ao Tribunal de Apelação de Londres para contestar a sentença.

A Anistia Internacional também criticou o tribunal britânico, dizendo que Shamima foi "gravemente explorada". "O poder de banir um cidadão não deveria existir no mundo moderno", disse a organização.

Em entrevista à BBC, em 2021, Shamima se disse arrependida de ter se juntado ao EI e contou que, assim que chegou à Síria, percebeu que o grupo estava "prendendo pessoas" para "ficar bem" em vídeos de propaganda. A jovem disse ainda que não entende a raiva das pessoas contra ela. "Acho que [a raiva] é contra o Estado Islâmico. Quando eles pensam no EI, pensam em mim, porque fui muito divulgada", disse.

Após derrotas da organização jihadista, muitas das "noivas do Estado Islâmico" tentaram voltar a seus países de origem. Parte das que conseguiram foi processada por traição —o Estado Islâmico assumiu vários atentados terroristas que deixaram mortos em países europeus.

A Grã-Bretanha repatriou 11 indivíduos desde 2019, segundo dados compilados pela organização de direitos humanos Rights and Security International —a maioria por associação a grupos terroristas.

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