O policial David Carrick, 48, afastado da Polícia Metropolitana de Londres, foi condenado a prisão perpétua nesta terça-feira (7) por 85 crimes cometidos contra 12 mulheres ao longo de 17 anos.
Ele admitiu culpa em todas as acusações e terá de cumprir 32 anos de cárcere, descontado o tempo em em custódia desde que foi preso, em 2021, para que só então seja considerada eventual progressão de regime. "Você se comportou como se fosse intocável, e por quase duas décadas provou que estava correto nisso", disse a juíza Cheema-Grubb, da corte de Southwark, em Londres, ao ler a sentença.
Segundo a magistrada, o condenado traiu o juramento de proteger a população e usou a "monstruosa vantagem" de sua posição como policial para exercer "poderes excepcionais de controle e coerção".
Entre os 85 crimes de Carrick estão estupros, agressões sexuais, cárcere privado e comportamento coercitivo e controlador. Todos eles foram praticados entre 2003 e 2020, período em que era policial.
Ele humilhava as mulheres, chamando-as de escravas, controlando a vida financeira delas e isolando-as de pessoas próximas. Também as trancava num armário embaixo das escadas de sua casa por horas.
"Ele gostava de humilhá-las e usava sua posição profissional para deixar claro que era inútil procurar ajuda porque ninguém acreditaria nelas", afirmou o inspetor-chefe da polícia, Iain Moor.
Carrick conheceu uma das mulheres em um bar em 2003, quando disse que ela estaria segura com ele, antes de apontar uma arma e estuprá-la diversas vezes, segundo relato da vítima. Outra mulher, com quem ele se encontrou após conversas num site de relacionamentos, descreveu o ex-policial como um "monstro", que a obrigava a fazer tarefas domésticas nua. Uma terceira vítima disse que ele a agredia com um chicote, assobiava como se ela fosse um cão e a tratava como um objeto que "deveria obedecê-lo".
Carrick ingressou em 2001 na instituição e, oito anos mais tarde, foi selecionado para portar armas e fazer a segurança de locais diplomáticos e ligados ao Parlamento britânico. Nem todo policial do Reino Unido pode portar armas enquanto trabalha. A taxa dos que tinham esse direito, em março do ano passado, último dado disponível, era de 4,3% do órgão no país (6.192 ante 142 mil integrantes), cifra estável ao longo dos últimos dez anos, de acordo com relatório do governo britânico.
"Deveríamos ter identificado o padrão de comportamento abusivo [de Carrick] e, como não o fizemos, perdemos a oportunidade de removê-lo da instituição", afirmou em nota a Met, como é conhecida a Polícia Metropolitana, reconhecendo que, após a prisão e suspensão do policial, em 2021, uma revisão de seu histórico identificou o envolvimento dele em uma série de incidentes, antes e depois de sua entrada na força, pelos quais ele nunca havia sido investigado e punido.
A corporação tem sido alvo de escrutínio público e desconfiança da população nos últimos anos em razão de crimes sexuais praticados por policiais. Há um ano, Cressida Dick, chefe da Scotland Yard, sede da Met, renunciou em meio a um escândalo envolvendo condutas misóginas e discriminatórias de agentes e casos de assédio sexual revelados pela corregedoria da corporação à época.
Em setembro de 2021, o policial Wayne Couzens também foi condenado a prisão perpétua pelo sequestro, estupro e morte da executiva de Sarah Everard. O caso chocou o Reino Unido e foi estopim para protestos.
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