Descrição de chapéu feminicídio

Reino Unido condena policial a prisão perpétua por feminicídio que comoveu o país

Estupro e assassinato de Sarah Everard por agente londrino provocaram protestos em massa

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Londres | Reuters e AFP

Um policial londrino foi condenado a prisão perpétua nesta quinta-feira (30) pelo sequestro, estupro e morte da executiva Sarah Everard, em um caso que chocou o Reino Unido e foi o estopim para protestos contra a violência de gênero no país.

O assassinato ocorreu em "circunstâncias especialmente brutais, trágicas e devastadoras", afirmou o juiz Adrian Fulford ao anunciar a sentença contra Wayne Couzens, 48, que pelo resto de sua vida não poderá pedir liberdade condicional, exceto por questões humanitárias excepcionais.

Manifestante segura cartaz com a frase 'por Sarah', do lado de fora de corte em Londres
Manifestante segura cartaz com a frase 'por Sarah', do lado de fora de corte em Londres - Daniel Leal-Olivas/AFP

O caso aconteceu em março, enquanto o país estava em lockdown. A executiva de marketing de 33 anos voltava a pé para casa após visitar amigos na parte sul de Londres quando foi parada por Couzens, agente da unidade de elite de proteção diplomática da Polícia Metropolitana.

Segundo a promotoria, o agente, que estava de folga, mostrou seu distintivo e algemou a jovem sob o argumento de que ela estava violando as restrições contra a Covid-19. O policial sequestrou Everard simulando uma prisão e a obrigou a entrar em um carro que ele havia alugado. O corpo dela foi encontrado estrangulado e queimado em um bosque uma semana depois a 80 quilômetros do local do sequestro.

Couzens foi reconhecido graças ao registro de câmeras de vigilância e foi preso em 9 de março em sua casa em Deal, no sudeste da Inglaterra. Ele confessou o crime em julho.

"Nada vai fazer a situação melhorar nem trazer Sarah de volta, mas saber que ele ficará preso para sempre ao menos traz algum alívio", disse a família da vítima em comunicado. "Couzens tinha um cargo de confiança, e estamos revoltados e enojados por ter abusado dessa confiança para levar Sarah à morte."

O premiê britânico, Boris Johnson, afirmou que o episódio foi uma "total traição ao dever" da polícia. "Não há palavras que expressem adequadamente o horror do assassinato de Sarah", escreveu em rede social.

Segundo o juiz do caso, Couzens planejou por muito tempo um ataque sexual a uma vítima que pudesse sequestrar abusando de sua autoridade. "Não tenho a menor dúvida de que ele usou sua posição para coagi-la com um pretexto falso até o carro que alugou com esse propósito", escreveu na sentença.

A Polícia Metropolitana, na qual Couzens trabalhava e que foi a responsável por investigar o assassinato, afirmou em nota que estava "enojada, com raiva e devastada" pelos crimes cometidos pelo réu.

A comissária Cressida Dick pediu desculpas em nome da instituição à família da vítima, descreveu o crime como "uma traição a tudo o que a polícia defende" e disse que este é um dos eventos mais terríveis registrados nos 190 anos de existência da corporação.

Deputados da oposição, por sua vez, pediram a renúncia da comissária. "Sarah Everard estava simplesmente caminhando para casa. As mulheres devem poder confiar na polícia, não temê-la. A confiança das mulheres na polícia foi abalada", disse a deputada Harriet Harman, do Partido Trabalhista.

A corregedoria da polícia está apurando falhas na investigação de outro episódio ligado a Couzens em 2015, além de duas acusações em fevereiro deste ano. Depois do crime, mulheres de todas as idades foram às redes sociais descrever ameaças e episódios de assédio sofridos em lugares públicos.

Em reação, o governo de Boris apresentou, em julho, uma nova estratégia para combater o assédio nas ruas e a violência contra a mulher, que inclui mais patrulhas noturnas, maior financiamento e a criação de uma nova direção nacional de polícia para melhorar o tempo de resposta para esses crimes.

Em junho, o governo pediu desculpas por ter falhado durante anos com milhares de vítimas de estupro, após o Ministério Público ser informado de uma queda drástica no número de condenações a agressores sexuais e estupradores, apesar de as denúncias terem quase dobrado desde o biênio 2015-2016.

Imediatamente após o desaparecimento, vigílias foram organizadas em Londres em homenagem a Everard, visitados inclusive por Kate Middleton, esposa do príncipe William, neto da rainha Elizabeth 2ª.

Essas reuniões, no entanto, estavam proibidas devido à pandemia de coronavírus, o que gerou imagens de policiais algemando manifestantes contra o chão e desencadeou um novo debate sobre a atitude da Polícia Metropolitana de Londres contra as mulheres. Em julho, o Escritório Independente de Conduta Policial anunciou que investiga 12 agentes por questões relacionadas ao caso de Couzens.

"Acredito que o que muitas mulheres estão esperando é 'sentimos muito e isso é o que estamos fazendo para garantirmos que isso não volte a acontecer'", disse a estudante Roxanne Tiffany, 20, que protestava em frente ao tribunal com uma faixa com a frase "a Polícia Metropolitana tem sangue nas mãos".

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