Em meio a uma crise econômica e com baixa popularidade, o líder da Argentina, Alberto Fernandéz, visitou nesta quarta (22) uma base do país na Antártida após 25 anos sem a presença de um presidente na região. Lá, anunciou a instalação de laboratórios e, em ano eleitoral, falou sobre "novos começos".
"Do fim do mundo venho falar sobre novos começos e princípios. Começa um amanhã de paz e prosperidade", disse Fernandéz, que destacou o trabalho de argentinos em 13 bases na região.
O presidente evitou temas da política interna no discurso. Mas, sem citar nomes, criticou o pessimismo em relação à situação do país. "Vir a este lugar é reconhecer o quanto somos grandes. Muito mais do que alguns defensores do desânimo querem que acreditemos." Fernández preferiu divagar sobre o tamanho e os valores do país, que enfrenta inflação de quase 100% ao ano e aumento da pobreza de mais de 40%.
"Aqui, no fim do mundo, pode-se assumir a dimensão da pátria", disse ele. "A Argentina é um país que se estende de Quiaca [extremo norte] à Antártida. Por que nossa imaginação não presta atenção ao azul profundo do Atlântico sul, ao vento gelado do planalto patagônico, às falésias ou ao gelo do sul?"
O líder argentino ainda pediu "paz mundial" e alertou sobre a ameaça nuclear que "voltou a pairar diante da humanidade". "Parece que os mortos em Hiroshima e Nagasaki não pesam na consciência dos agressores", disse Fernandéz, sem citar os envolvidos na Guerra da Ucrânia, prestes a completar um ano.
Nesta terça (21), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou em discurso na Assembleia Federal, o Congresso russo, a suspensão do país no Novo Start, acordo para controle de armas nucleares.
O pacto, vigente desde 2010 e válido em tese até 2026, prevê que tanto EUA quanto Rússia, que detêm 90% do arsenal nuclear mundial de 13 mil bombas atômicas, mantenham em prontidão no máximo 1.550 ogivas do tipo estratégico, aquelas destinadas a arrasar cidades e acabar com guerras.
A Argentina realizará eleições presidenciais neste ano. Em entrevista à Folha no mês passado, Fernández disse que está certo de que seu sucessor será peronista —e não descarta ser candidato à reeleição. Mas o argentino tem como desafio superar a baixa popularidade. Pesquisa divulgada no ano passado pela Universidade de San Andrés mostrou que o índice de reprovação do atual presidente era de 75%.
Também em janeiro, Fernández se reuniu com Lula na primeira viagem do presidente brasileiro ao exterior desde que assumiu a Presidência pela terceira vez. Eles reforçaram o discurso de retomada de relações na América Latina. Na mesma toada, o argentino disse que o encontro com o petista, na Casa Rosada, representou o início de um laço estratégico mais profundo que "durará muitas décadas". As falas foram permeadas por elogios ao brasileiro e críticas a Jair Bolsonaro (PL) e a seu antecessor, Maurício Macri.
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