Descrição de chapéu Deutsche Welle Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia enviou 6.000 menores da Ucrânia para campos de reeducação, diz relatório

Documento financiado pelos EUA diz que crianças e jovens chegam a receber treinamento militar nas instalações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

DW

A Rússia teria enviado ao menos 6.000 menores ucranianos, com idades de quatro meses a 17 anos, para campos de reeducação política e os inserido no sistema de adoção, segundo um relatório financiado pelo Departamento de Estado dos EUA divulgado nesta terça-feira (14).

Pesquisadores da Universidade de Yale identificaram 43 campos ou instalações na Crimeia e na Rússia para onde foram levadas crianças ucranianas como parte de uma rede operada por Moscou desde o início da invasão da Ucrânia, que completará um ano em 24 de fevereiro.

Pedestre caminha perto de outdoor com letra Z, que simboliza a defesa da vitória da Rússia na guerra, e mural com ilustração de criança, na Crimeia
Pedestre caminha perto de outdoor com letra Z, que simboliza a defesa da vitória da Rússia na guerra, e mural com ilustração de criança, na Crimeia - Alexei Pavlichak - 11.fev.23/Reuters

Entre as crianças consideradas órfãs pela Rússia estão as que estavam em instituições ucranianas antes da invasão, as que estavam sob a tutela de algum parente e menores cuja tutela é incerta.

O relatório indica que pais ucranianos são pressionados a permitir o envio dos filhos aos campos com a promessa de retorno deles. No entanto, há relatos de famílias que perderam o contato com as crianças e de menores que permanecem nesses locais por um tempo muito maior do que o prometido.

A maior parte dos menores enviados para esses campos é das regiões de Donetsk e Lugansk. A criança mais nova identificada no programa russo tinha apenas quatro meses. Alguns menores foram colocados no sistema de adoção da Rússia e em orfanatos do país.

"O objetivo principal dos campos parece ser reeducação política", afirmou Nathaniel Raymond, diretor-executivo do Laboratório de Pesquisa Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale.

Formação militar e patriotismo cultural

Raymond chamou a atenção para o alcance geográfico "massivo" das atividades russas, já que os centros para onde crianças e adolescentes ucranianos são levados estão em várias partes do país, como na península da Crimeia, em Moscou, na região do mar Negro e na Sibéria. Inclusive há uma instalação desse tipo em Magadan, na costa russa do Pacífico, "mais perto dos EUA continental do que de Moscou".

Segundo o pesquisador, foi possível identificar cerca de 32 centros em que estão sendo feitos "esforços sistemáticos de reeducação" para dar às crianças formação militar e ensino de patriotismo cultural.

De acordo com a pesquisadora Caitlin Howarth, o treinamento militar consiste no manuseio de armas de fogo. "Temos imagens em vídeo e fotografias [dos menores] fazendo percursos com obstáculos, em treinos físicos, conduzindo viaturas e manuseando armas", disse. No entanto, Raymond afirma que não foram encontradas evidências de que essas crianças foram enviadas para a guerra.

Crime de guerra

Raymond afirma que há provas de que a Rússia violou a Convenção de Genebra e outros elementos da lei internacional sobre os direitos dos menores de idade e a proteção deles em conflitos armados.

O pesquisador diz ainda que transferir crianças com o propósito de mudar, alterar ou eliminar a identidade nacional pode ser uma evidência de que Moscou estaria cometendo o crime de genocídio na guerra.

Segundo ele, a Rússia adota um enfoque governamental para reeducar, reassentar e promover adoções forçadas de crianças ucranianas. "Isso é exatamente consistente com o que concluíram alguns dos primeiros julgamentos de nazistas nos tribunais de Nurembergue", afirmou.

O relatório aponta também que essa operação está sendo controlada pelo governo da Rússia e há agentes em todos os níveis governamentais envolvidos nela, incluindo o presidente Vladimir Putin.

Rússia diz que crianças fugiram da Ucrânia

A embaixada da Rússia em Washington afirmou, em resposta, que aceita crianças que foram forçadas a fugir da Ucrânia. "Fazemos o nosso melhor para manter menores com as famílias e, em caso de ausência ou morte de pais e parentes, para transferir os órfãos sob tutela". A embaixada acusou ainda a Ucrânia de atacar a infraestrutura civil das regiões ocupadas e negou mirar alvos civis no país invadido.

O relatório indica que 350 crianças ucranianas foram adotadas por famílias russas e mais de mil estão na fila da adoção. O documento pede a suspensão de processos de adoção de crianças ucranianas na Rússia e o acesso de um grupo internacional independente aos campos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.