Guerra da Ucrânia chega a 4 meses com vitória simbólica da Rússia no Donbass

Tropas de Moscou forçam recuo ucraniano em Severodonetsk, um dos últimos bolsões de resistência em Lugansk

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Kiev | Reuters

O avanço da Rússia na cidade de Severodonetsk forçou mais um recuo da Ucrânia na região do Donbass, o leste russófono que Vladimir Putin prometeu conquistar. A informação foi confirmada pelo governo regional nesta sexta-feira (24), quando se completaram quatro meses desde o início da invasão militar.

O governador Serhii Haidai disse que as tropas ucranianas já receberam ordens para abandonar suas posições. "Permanecer em posições destruídas por muitos meses apenas para dizer que estamos lá não faz sentido; terá de haver uma retirada", afirmou ele a um canal de televisão local.

Soldados da Ucrânia durante combate com tropas da Rússia na cidade de Severodonetsk - Oleksandr Ratuchniak - 20.jun.22/Reuters

O recuo configura mais uma vitória para Moscou não só em razão da conquista do território, mas porque representa a queda de um dos últimos bolsões de resistência na província de Lugansk. Em Lisitchansk, separada de Severodonetsk pelo rio Donets, tropas de Kiev seguem em posição, mas acumulam derrotas.

A mais recente veio nesta sexta, quando forças russas ocuparam a cidade de Hirske, ao sul de Lisitchansk, fazendo com que a região fique cercada por três lados. "Há algumas batalhas insignificantes acontecendo nos arredores, mas o inimigo entrou", afirmou o chefe municipal Oleksi Babtchenko, em um vídeo.

O Ministério da Defesa russo alega ter cercado aproximadamente 2.000 soldados ucranianos, incluindo 80 combatentes de outros países —chamados de mercenários por Moscou—, em Hirske. A informação não pôde ser confirmada de forma independente, mas ecoa as alegações da própria administração da cidade.

Kiev atribui à vantagem da artilharia russa nas linhas de frente do Donbass as constantes conquistas. O chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Valeri Zaluzhni, disse ter debatido, em conversa com seu homólogo americano, Mark Milley, o fluxo de entrega de ajuda militar. "Precisamos de paridade de fogo."

A despeito da importância da batalha no Donbass, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um think tank americano, disse que as perdas de Severodonetsk e Lisitchansk não devem representar um grande ponto de virada no conflito. "Tropas ucranianas conseguiram por semanas degradar as capacidades das forças russas e impedir que se concentrassem em áreas mais vantajosas", afirma o último relatório diário do ISW. "Ofensivas de Moscou provavelmente vão diminuir nas próximas semanas, concedendo às forças de Kiev a oportunidade de lançar contraofensivas."

Ao lado de Donetsk, Lugansk compõe o Donbass, área de forte influência russa, a leste da Ucrânia —os territórios são autoproclamadas repúblicas separatistas que Putin reconheceu dias antes de iniciar a invasão. Moscou disse, após sofrer as primeiras derrotas na guerra, que concentraria forças na região.

A intensificação dos ataques já estava prevista. Haidai, ainda nesta semana, disse que Moscou planejava controlar Lugansk até domingo (26). E o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou estar preparado para uma ampliação dos bombardeios após a Ucrânia ser aceita como candidata à União Europeia (UE).

O Conselho do bloco aceitou as candidaturas de Ucrânia e Moldova na quinta (23). O processo de adesão deve levar anos, ou mesmo décadas, já que são necessárias profundas reformas nos Estados candidatos, mas a mudança chancela o movimento de aproximação de ex-repúblicas soviéticas com o Ocidente.

Comentando o status ucraniano, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a decisão se trata apenas de um "assunto interno da Europa". Foi mais crítico, no entanto, ao comentar a situação de Moldova, onde está localizada a Transdnístria, uma faixa de 400 km na fronteira com a Ucrânia que pertence formalmente ao país, mas desde 1992 é dominada por separatistas pró-Rússia.

Peskov disse que a ex-república soviética quer ser "mais europeia que os próprios europeus". "Parece que, para eles, quanto mais antirrussos forem, mais os europeus vão querê-los", completou.

Tom mais duro foi usado pela chancelaria russa que, em nota, disse que a possível adesão dos países ao bloco teria consequências negativas. "Com a decisão, a UE confirmou que continua a explorar ativamente as ex-repúblicas soviéticas para 'conter' a Rússia", diz um trecho do comunicado.

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