Descrição de chapéu África

Papa Francisco implora por fim de derramamento de sangue no Sudão do Sul

Chegada do pontífice a segundo destino na África foi antecedida por massacre de 27 pessoas

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Juba | Reuters e AFP

Era 2019 quando o papa Francisco protagonizou uma das cenas mais marcantes de seu período à frente da Igreja Católica. Em um encontro com Salva Kiir e Riek Machar, líderes das facções rivais que mergulharam o Sudão do Sul em uma guerra civil que fez cerca de 400 mil vítimas, ele se ajoelhou e beijou os pés de ambos. "Como um irmão, peço que vocês mantenham a paz", disse o pontífice à época.

Kiir, presidente do país, relembrou o episódio num discurso após a chegada de Francisco à capital Juba, nesta sexta (3), na segunda parada do giro do papa pela África. "Aquele raro gesto de humildade não foi em vão", disse, prometendo retomar o diálogo com grupos armados que não assinaram o cessar-fogo.

O papa Francisco entra em carro após desembarcar em Juba, capital do Sudão do Sul
O papa Francisco entra em carro após desembarcar em Juba, capital do Sudão do Sul - Thomas Mukoya/Reuters

A viagem do papa havia sido adiada repetidas vezes devido à instabilidade da região. Na véspera de sua chegada, uma área rural de Equatória Central, mesmo estado em que está a capital, foi palco de um massacre. Membros de uma milícia mataram seis integrantes de uma comunidade pastora, que retaliaram tirando a vida de 21 civis numa área próxima, incluindo cinco crianças e uma mulher grávida.

O episódio espelha a violência que assola a nação mais jovem do mundo, fundada após sua separação do resto do Sudão, em 2010. O acordo de paz de 2018, que encerrou cinco anos de guerra civil, reduziu de forma significativa os embates no território, mas disputas entre comunidades rivais ainda são frequentes.

Mais cedo, Justin Welby, arcebispo de Canterbury e líder da Igreja Anglicana, que acompanha Francisco na África, postou no Twitter estar horrorizado com o caso. "É uma história comum demais de ser ouvida no Sudão do Sul. De novo, faço um apelo para novas maneiras: que o Sudão do Sul se una em torno da paz."

O papa não aludiu ao episódio em seu primeiro pronunciamento no país, dirigido a uma plateia composta por autoridades governamentais, mas implorou por paz, "com todo o coração". "Não mais derramamento de sangue, não mais conflitos e não mais recriminações mútuas sobre quem é o culpado por eles."

Assim como na República Democrática do Congo, o papa foi recebido com alegria pelos sudaneses. Multidões o aguardavam na rota que conecta o aeroporto a Juba e cantavam e dançavam ao avistar o pequeno Fiat branco que transportava o pontífice, rodeado por seguranças e veículos mais robustos.

Muitos dos presentes carregavam a bandeira do Sudão do Sul, emblemas do Vaticano, do Reino Unido e da Escócia —além de Welby, o papa está com Iain Greenshields, moderador da Igreja da Escócia. A união, inédita no exterior, representa as três fés mais influentes no país africano, predominantemente cristão.

Francisco aludiu a essa "peregrinação ecumênica pela paz", como a viagem foi chamada pelo trio, em Juba. "Atendemos ao apelo de um povo inteiro que, com grande dignidade, chora pela violência que suporta, por sua persistente falta de segurança, sua pobreza e desastres naturais que sofre", afirmou.

O papa ainda usou a ocasião para criticar a corrupção que, segundo ele, impede que os recursos naturais locais sejam usufruídos pela população. O Sudão do Sul, com algumas das maiores reservas de petróleo bruto da África Subsaariana, é constantemente acusado de corrupção generalizada, o que o governo nega.

Neste sábado (4), os três líderes têm um encontro com um grupo de pessoas deslocadas internamente pela violência. Depois, no domingo (5), o papa celebra uma missa antes de voar de volta a Roma.

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