Boric faz reforma ministerial na véspera de completar um ano na Presidência do Chile

Presidente enfrenta baixa popularidade e viu derrota de projeto na Câmara dos Deputados

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São Paulo

Na véspera de completar um ano na cadeira presidencial do Chile, Gabriel Boric fez a segunda reforma ministerial do governo nesta sexta-feira (10) e trocou a chefia de cinco pastas, incluindo a de Relações Exteriores. Assim como no momento da primeira mudança do alto escalão, Boric enfrenta um período delicado após ver sua reforma tributária ser derrotada na Câmara dos Deputados nesta semana.

O novo chanceler é o professor da Universidade do Chile Alberto van Klaveren, que entra no lugar da ex-presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos Antonia Urrejola. O ministro foi subsecretário da pasta de Relações Exteriores na gestão da ex-presidente Michelle Bachelet, também de esquerda.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, cumprimenta o recém-nomeado ministro das Relações Exteriores, Alberto van Klaveren - Ivan Alvarado/Reuters

Segundo o jornal La Tercera, Boric avisou Urrejola de sua decisão na última terça-feira (7) e foi motivado pelas polêmicas que a equipe do ministério protagonizou ao longo do último ano. Uma das mais graves é a relacionada a um áudio vazado em meio à Cúpula da Celac, em Buenos Aires, no qual a então ministra chama o embaixador argentino Rafael Bielsa de louco. Também foi demitido nesta sexta o subsecretário da pasta, José Miguel Ahumada, com quem Urrejola teve desentendimentos durante seu mandato.

Boric dispensou ainda os ministros Alexandra Benado (Esportes), Julieta Brodsky (Cultura), Juan Carlos García (Obras Públicas) e Silvia Díaz (Ciências). Entraram em seus lugares, respectivamente, o ex-jogador de futebol Jaime Pizarro, o empresário de televisão Jaime de Aguirre, a socialista Jessica López e a advogada e presidente do conselho da pasta Aisen Etcheverry.

Um dos motivos para tantas trocas foi o desconhecimento dos chilenos de grande parte da equipe de Boric. Segundo o último levantamento do instituto de pesquisa Criteria, na semana passada, há apenas quatro ministros conhecidos por mais de 60% da população. A sondagem mostrou ainda que Urrejola era uma das ministras menos conhecidas, ao lado de Nicolás Grau, à frente da pasta de Economia.

Com a reforma, o governo também faz acenos à sua coalizão, que argumentava haver um desequilíbrio nas pastas, especialmente na segunda linha —houve mudanças na chefia de 15 subsecretarias, como as da Infância, do Turismo e das Relações Econômicas Internacionais. O alto escalão, que começou o governo com 14 mulheres e 10 homens, agora é ocupado por 12 mulheres e 12 homens.

Após chegar a 25% de aprovação em janeiro, sua pior marca, Boric viu o seu desempenho nas pesquisas melhorar ao longo das últimas semanas. Embora ainda tenha 60% de rejeição, segundo levantamento do instituto de pesquisas Cadem divulgado no último domingo (5), 35% dos chilenos aprovam o presidente. Somado a esse cenário, o país começou a melhorar alguns índices econômicos em fevereiro: os preços registraram queda de 0,1%, e a inflação em 12 meses ficou em 11,9%. Já o desemprego se manteve praticamente estável, em 8%.

A maré virou, porém, na última quarta-feira (8), quando os deputados impuseram uma derrota à reforma tributária do governo, no que Boric chamou de um "golpe na esperança" nos chilenos. O projeto, que foi elogiado pela OCDE, era uma peça-chave para financiar propostas caras ao seu eleitorado, como o aumento das aposentadorias.

Com as negociações no Legislativo, a meta de arrecadação prevista diminuiu e chegou a 3,6% do PIB. A expectativa do governo era usar metade do montante para investir na cobertura de proteção social do país, em especial na saúde primária e na Previdência, duas demandas da população que saiu às ruas em 2019 no que ficou conhecido como o estallido social.

Em entrevista ao jornal El País, o ministro da Fazenda Mario Marcel culpou o bom momento pela derrota. "O que esteve por trás da votação foi muito mais do que a reforma tributária. É um momento político mais complexo, em que o governo vem se fortalecendo na opinião pública, a economia vai melhorando e em que, ao mesmo tempo, se discutem projetos emblemáticos como a reforma da Previdência", afirmou.

O governo precisava de 78 votos, mas conseguiu 73. Votaram contra o projeto 71 deputados e se abstiveram três. Em geral, os críticos defendem que impostos maiores em grandes patrimônios, uma das propostas, afastariam investimentos no país e favoreceriam a evasão fiscal.

Na primeira reforma ministerial, Boric saía de outra derrota: o rechaço dos chilenos, em setembro, à proposta de nova Constituição apoiada pelo governo —uma demanda dos protestos de 2019. No início de maio, o país vai às urnas novamente para tentar desatar esse nó, elegendo 50 membros do conselho constitucional que deverão escrever um novo texto.

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