Descrição de chapéu África

Opositores contestam eleição na Nigéria e falam em 'estupro' da democracia

Peter Obi e Atiku Abubakar, derrotados nas urnas, afirmam que questionarão na Justiça a vitória do governista Bola Tinubu

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São Paulo

Segundo e terceiro colocados nas eleições da Nigéria, Atiku Abubakar e Peter Obi quebraram o silêncio desde a derrota nas urnas e afirmaram nesta quinta-feira (2) que houve fraude nos resultados.

Abubakar, um veterano político e principal nome de oposição, disse que o país, o mais populoso da África, assistiu a um "estupro de sua democracia". Já Obi, o nome de uma inédita terceira via, afirmou que contestará o resultado na Justiça. "Nós ganhamos e vamos provar isso."

Peter Obi, do Partido Trabalhista da Nigéria, durante entrevista coletiva
Peter Obi, do Partido Trabalhista da Nigéria, durante entrevista coletiva - Patrick Meinhardt - 25.fev.23/AFP

Ex-governador de Anambra e candidato pelo Partido Trabalhista, Obi falava a jornalistas no hotel em que está hospedado na capital Abuja, quatro dias após as eleições, realizadas no último sábado (25).

Horas depois, foi a vez de Abubakar: "Depois de consultar os líderes do nosso partido e nigerianos, cheguei à conclusão de que os processos e os resultados foram totalmente falhos por todos e, como tal, devem ser contestados por todos nós; o órgão eleitoral falhou de forma terrível."

O órgão eleitoral declarou vencedor o governista Bola Tinubu, 70, em anúncio realizado nesta quarta (1º). Resultados oficiais mostram o candidato com 37% dos votos válidos em todo o país —na sequência, vêm Abubakar (29%) e Obi (25%), que não apresentaram evidências que sustentem as alegações de fraude.

Mas, de acordo com pronunciamentos anteriores de seus partidos, a justificativa parece ser a demora do órgão eleitoral para divulgar os resultados oficiais do pleito. Em um país onde a violência só escala, analistas temiam que possíveis acusações de fraude —sejam elas com fundamentos ou não— despertassem mais episódios de conflito. Obi e Abubakar têm, de acordo com a lei eleitoral, 21 dias a partir da data da realização da eleição para contestar o resultado nos mais altos tribunais do país.

Diante de um histórico de ampla abstenção, os partidos fiavam à introdução do Bvas, sistema de biometria digital, a esperança de que os índices de participação fossem maiores, o que não aconteceu. Somente 29% dos mais de 87 milhões de eleitores compareceram às urnas.

Houve ainda um problema no momento de disponibilizar os resultados online, tarefa que, em teoria, seria agilizada pelo novo sistema. Uma das hipóteses é a de que dificuldades relacionadas à conexão com a internet em algumas regiões do país tenham atrasado o processo.

Ainda assim, nunca na história democrática da Nigéria, que despediu-se de uma ditadura em 1999, o mapa eleitoral se mostrou tão colorido: após a contagem dos votos, o resultado revela que cada um dos três principais candidatos obteve a maioria dos votos em 12 dos 36 estados.

O sistema eleitoral nigeriano, de certo modo, favoreceu as críticas à legitimidade de Tinubu para governar.

O eleito cumpriu os requisitos para vencer —obteve maioria simples nacionalmente e ao menos 25% de apoio em 24 dos 36 estados—, mas os 8,8 milhões votos conquistados representam apenas 10% dos eleitores aptos a votar. Analistas, porém, apontam que a cifra total de eleitores registrados pode ter sido inflada devido a deficiências nos bancos de dados, que mantiveram pessoas que já morreram nesta lista.

A Nigéria tem uma longa história de violência política, embora o clima esteja calmo depois da divulgação dos resultados. Tinubu, o candidato vencedor, disse nesta quarta-feira que a eleição foi legítima e que os problemas relatados não impactaram no resultado geral.

Eleito duas vezes governador de Lagos na virada dos anos 2000, ele ficou conhecido por ter aumentado as receitas do estado, onde está a cidade homônima e capital econômica da nação. Também conseguiu reduzir a taxa de crimes violentos, desafogar o trânsito e limpar as ruas. Apoiadores esperam que ele replique o êxito, agora em nível nacional, em meio a um contexto de violência generalizada e desemprego nas alturas, coroado por uma desordenada iniciativa para atualizar as cédulas da moeda local.

Obi, que agora contesta o resultado, foi de azarão a um inédito nome de terceira via no país. Antes de migrar para o Partido Trabalhista, sigla nanica antes do atual pleito, pertencia ao Partido Democrático do Povo, principal legenda de oposição. Ele chegou a concorrer como vice na chapa lançada em 2019.

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