Os EUA tornaram pública na última sexta (24) uma acusação por fraude bancária e imigratória contra um russo que, passando-se por cidadão brasileiro, estudou em uma universidade americana e se candidatou a uma vaga no Tribunal Penal Internacional, em Haia.
A denúncia contra Serguei Vladimirovich Tcherkasov sugere que os EUA podem tentar impugnar sua eventual extradição à Rússia pelo Brasil, onde ele está preso pelo crime de falsidade ideológica.
Tcherkasov, 39, foi detido em abril de 2022 por autoridades holandesas por usar documentos de identidade falsos. O suposto espião chegou ao país usando documentos brasileiros, em nome de Victor Muller Ferreira, para tentar entrar no TPI na vaga de analista júnior.
A polícia holandesa determinou que ele não era um cidadão brasileiro, mas sim um provável agente do Departamento de Inteligência das Forças Armadas da Rússia. Ele foi considerado um "ilegal" —espião disfarçado no exterior utilizando identidade completamente nova.
Isso incluiu dedicar-se, entre 2018 e 2020, a um mestrado na prestigiada Universidade John Hopkins, diz a acusação do Departamento de Justiça americano e um currículo do russo na internet.
Autoridades holandesas dizem que, se Tcherkasov tivesse conseguido a vaga no TPI, teria a possibilidade de acessar informações importantes na investigação sobre crimes da Guerra da Ucrânia ou de exercer influência sobre procedimentos penais.
O Tribunal de Haia, como a corte é conhecida, emitiu neste mês um mandado de prisão contra Vladimir Putin, acusando-o de ser o responsável por crimes de guerra cometidos na Guerra da Ucrânia.
Em comunicado, argumentou que Putin é o provável responsável pela deportação ilegal de crianças de áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia —porções no leste do país. A alta corte diz que o russo falhou em exercer controle adequado de seus subordinados civis e militares.
O suposto espião foi deportado ao Brasil em 3 de abril de 2022, onde foi denunciado pelo crime de falsidade ideológica pelo Ministério Público Federal. Em julho, a 5ª Vara da Justiça Federal de Guarulhos, em São Paulo, o condenou a 15 anos de prisão.
No entanto, em setembro de 2022, Moscou requisitou formalmente ao governo brasileiro sua extradição para a Rússia, onde supostamente era procurado por tráfico de drogas.
Como mostrou a Folha, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), concordou com o pedido de extradição, mas condicionou a ida de Tcherkasov a seu país de origem ao encerramento de uma investigação em andamento na Polícia Federal.
O Departamento de Justiça dos EUA o acusa de atuar como agente estrangeiro enquanto estava em território americano. Segundo a pasta, quando ele era estudante em Washington, recolheu informações sobre cidadãos americanos e as repassou a seus superiores.
Ele foi acusado de fraude na obtenção de visto, fraude bancária, fraude postal e outros crimes decorrentes de suas atividades nos EUA. Ainda não está claro se o Departamento de Justiça pedirá sua extradição.
"Quando inimigos externos, como a Rússia, enviam agentes encobertos aos EUA, vamos encontrá-los e persegui-los com todo o peso da lei", afirmou o promotor federal do distrito de Columbia, Matthew Graves.
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