EUA investigam empresa dona do TikTok por suposta espionagem de jornalistas

ByteDance está no limiar de um ultimato para se separar de seus proprietários chineses ou enfrentar banimento nacional

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Glenn Thrush Sapna Maheshwari
Washington | The New York Times

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos está investigando a vigilância de cidadãos americanos, incluindo vários jornalistas que cobrem a indústria de tecnologia, pela empresa chinesa proprietária do TikTok. A informação é de três fontes que estão a par do assunto.

A investigação, que começou no final do ano passado, parece estar ligada ao reconhecimento pela empresa ByteDance, em dezembro, de que seus funcionários haviam obtido indevidamente os dados de usuários americanos do TikTok, incluindo os de dois jornalistas e de algumas das pessoas com que eles tiveram contato.

a foto mostra uma placa com o logotipo do tiktok que indica a entrada da empresa. em segundo plano, uma pessoa empurra a porta para entrar no edifício
Logo do Tiktok é exibido do lado de fora dos escritórios da empresa em Culver City, na Califórnia - Patrick T. Fallon - 16.mar.23/AFP

Segundo uma fonte, a divisão criminal do Departamento de Justiça, o FBI e o procurador do Distrito Oriental da Virgínia estão investigando a ByteDance, que tem sua sede em Pequim e possui laços estreitos com o governo chinês.

Um porta-voz do Departamento de Justiça não fez comentários.

A confirmação da investigação ocorre num momento em que a Casa Branca endurece sua postura em relação à empresa, com o intuito de forçar a ByteDance a abordar as preocupações de segurança nacional relativas ao TikTok. Estas incluem o receio de que a China possa estar usando o aplicativo popular de vídeos para colher dados sobre americanos ou espioná-los, subverter instituições democráticas e fomentar a dependência da rede social entre os jovens.

O TikTok revelou esta semana que a administração Biden pediu à sua proprietária que venda o aplicativo –cujo uso já está sendo bloqueado em telefones governamentais nos EUA, Europa e mais de duas dúzias de países—, sob pena de ele possivelmente ser proibido em todos os EUA.

O inquérito criminal federal foi divulgado anteriormente pela revista Forbes. A jornalista que assinou a reportagem disse que ela é uma das pessoas cujos dados foram rastreados pela empresa.

Os funcionários da ByteDance envolvidos na vigilância, que foram demitidos posteriormente, estavam tentando descobrir as fontes de suspeitos vazamentos de discussões internas e documentos da empresa a jornalistas. Eles conseguiram acessar os endereços de IP e outros dados dos jornalistas e pessoas com quem estavam conectados através de suas contas no TikTok.

Dois dos funcionários eram residentes na China. A empresa disse que está adotando mudanças para prevenir tais violações no futuro, mas suas garantias não têm conseguido calar as exigências crescentes de políticos dos dois principais partidos americanos de que o aplicativo seja bloqueado ou proibido. O presidente Joe Biden disse que pode apoiar um esforço, que está tramitando no Congresso, para proibir o aplicativo nos Estados Unidos.

Isso representa uma mudança drástica de postura em relação ao ano passado, quando algumas pessoas na administração expressavam confiança na possibilidade de ser fechado um acordo que permitiria que a empresa continuasse com suas operações, em troca de grandes alterações à sua governança e segurança de dados.

O TikTok esperava que um grupo de agências federais conhecido como Comitê sobre Investimento Externo nos Estados Unidos (CFIUS) aprovasse seus planos de operar no país enquanto permanecesse sob a propriedade da ByteDance.

Mas a procuradora-geral adjunta dos EUA, Lisa Monaco, não aprovou um acordo provisório de 90 páginas, e o Departamento do Tesouro, que exerce papel crucial na aprovação de acordos que envolvam riscos à segurança nacional, expressou ceticismo quanto às chances de um potencial pacto resolver tais questões, disseram fontes com conhecimento do assunto.

A Casa Branca parece agora estar avançando rapidamente na direção contrária. Altos funcionários estão cada vez mais enxergando uma substituição de donos da empresa como a única opção aceitável.

Funcionários do TikTok, que possui uma operação robusta de lobby e relações públicas em Washington, disseram estar pesando suas opções e expressaram decepção com a pressão para a venda da companhia.

A empresa disse que sua proposta de segurança, que envolve armazenar os dados de usuários americanos nos Estados Unidos, ofereceria a melhor proteção possível aos usuários.

"Se a proteção da segurança nacional é o objetivo, a transferência do aplicativo para outras mãos não resolveria o problema. Uma troca de donos não imporia nenhuma restrição nova aos fluxos ou acesso a dados", disse uma porta-voz do TikTok, Maureen Shanahan, em comunicado à imprensa nesta semana.

O CEO do TikTok, Shou Zi Chew, deve depor na próxima semana perante a Comissão de Energia e Comércio do Congresso Americano. A expectativa é que ele seja questionado sobre os vínculos do aplicativo com a China, além da preocupação de que ele transmita conteúdos nocivos a jovens.

Um porta-voz do TikTok não respondeu imediatamente a um pedido de comentário e encaminhou todas as perguntas à ByteDance.

Uma porta-voz da ByteDance não respondeu. Mas ela havia dito à Forbes que a empresa "condena fortemente as ações dos indivíduos envolvidos" e "cooperará com quaisquer investigações oficiais que nos forem apresentadas".

Tradução de Clara Allain 

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