Nicarágua remove embaixadora no Brasil em série de trocas diplomáticas

Saída de Lorena Martínez, publicada em Diário Oficial, ocorre em momento de isolamento da ditadura Ortega

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São Paulo

A ditadura da Nicarágua removeu do posto a embaixadora do país no Brasil, Lorena del Cármen Martínez, de acordo com decisão publicada no Diário Oficial nicaraguense nesta quinta-feira (16).

Ainda que os motivos não estejam claros, o movimento chama a atenção por ocorrer dias após Brasília manifestar, na ONU, preocupação com a repressão crescente do regime de Daniel Ortega.

Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Folha, a remoção configura uma rotação de praxe, e Martínez, no cargo desde 2013, deve ser substituída em breve. Um nome já teria sido ventilado, mas ainda depende da aprovação do Brasil, por meio do processo conhecido como agrément —documento diplomático que indica concordância do governo anfitrião com a nomeação para uma embaixada.

Apoiadores do ditador Daniel Ortega caminham na capital da Nicarágua, Manágua
Apoiadores do ditador Daniel Ortega caminham na capital da Nicarágua, Manágua - 11.fev.23/Reuters

Manágua também designou Gabriel Osmani Ace Zepeda como ministro de funções consulares no Brasil. Na hierarquia diplomática, ele será uma espécie de encarregado de negócios e assumirá o comando da representação de forma temporária até a indicação de um novo titular.

A mudança faria parte de uma série de trocas conduzidas pela diplomacia do regime de Ortega. O embaixador nicaraguense na Coreia do Sul também foi retirado do seu cargo, assim como o representante do país no Panamá. Este último teve a saída divulgada nesta quarta (15) —Panamá está entre os países que ofereceram nacionalidade aos nicaraguenses expatriados pela ditadura.

O Brasil acenou na mesma direção no início do mês no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O embaixador Tovar da Silva Nunes disse que vê com "extrema preocupação" a decisão de expatriar os dissidentes e as notícias de violações de direitos humanos do país. O representante afirmou também estar disponível para receber expatriados, embora não esteja claro o procedimento que será adotado.

No início de fevereiro, a ditadura Ortega-Murillo inaugurou a política de expatriação com 222 presos políticos que foram expulsos do país e enviados aos EUA. Na ocasião, a Assembleia Nacional, dominada por aliados de Ortega, aprovou em um só dia uma reforma constitucional para permitir a retirada da nacionalidade de cidadãos. A medida foi repetida com outros 94 opositores dias depois.

O Brasil vinha sendo criticado por não se manifestar de forma enfática sobre as arbitrariedades de Ortega, líder que, após combater a ditadura dos Somoza nos anos 1970, organizou seu próprio regime autoritário.

Ainda assim, o chanceler Mauro Vieira reconheceu, em recente entrevista à Folha, que Manágua já não é uma democracia. Algumas alas do PT são próximas à Frente Sandinista de Libertação Nacional, embora parte delas tenha se distanciado do partido de Ortega.

A política de expatriação aprofundou o isolamento do regime. No último domingo, Ortega ordenou o fechamento da embaixada do Vaticano em Manágua e da embaixada nicaraguense na sede da Igreja Católica —com quem o regime trava uma queda de braço.

A decisão foi tomada dois dias depois da divulgação de uma entrevista em que o papa Francisco afirma que o líder sofre de um "desequilíbrio" e compara seu regime à ditadura comunista na União Soviética e ao regime nazista de Adolf Hitler.

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