Ao lado de Lula, presidente da Romênia diz que países têm dever de apoiar Ucrânia

Governo brasileiro não deu acesso a jornalistas e não transmitiu fala de líder europeu que contrasta com a do petista

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Brasília

Ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, afirmou nesta terça-feira (18) que os países têm o "dever de apoiar a Ucrânia para repelir a agressão" da Rússia.

As declarações de Iohannis ocorrem um dia depois da visita ao Brasil do chanceler russo, Serguei Lavrov, e de recentes declarações de Lula que foram criticadas por países do Ocidente por sinalizarem um alinhamento às posições do governo liderado por Vladimir Putin na guerra em curso no Leste Europeu.

O presidente romeno falou durante almoço oficial oferecido por Lula à delegação estrangeira no Itamaraty. O governo brasileiro, no entanto, não permitiu à imprensa acompanhar as declarações de Iohannis.

Lula havia falado pouco antes, em fala transmitida pela EBC, a rede pública de comunicação. A EBC, por sua vez, não divulgou o discurso de Iohannis, que contava com tradução simultânea.

O presidente da Romênia, Klaus Iohannis, durante encontro com Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Itamaraty, em Brasília - Ueslei Marcelino - 18.abr.23/Reuters

A Folha teve acesso ao pronunciamento por meio do site oficial da Presidência da Romênia. A Guerra da Ucrânia foi tema central da fala de Iohannis, que vocalizou publicamente e ao lado de Lula a opinião da União Europeia sobre o conflito. A Romênia é membro da Otan, aliança militar ocidental liderada pelos EUA, e faz fronteira com a Ucrânia.

O presidente romeno chamou o conflito de "guerra de agressão". "A Rússia é um Estado agressor, que violou à força a soberania territorial da Ucrânia e tentou anular sua independência, inclusive em violação da Carta da ONU", disse. "A Ucrânia é vítima da agressão russa. Todos os efeitos negativos dessa agressão global são consequência direta de sua ação [da Rússia], contrária ao direito internacional."

Ele afirmou ainda ter relatado a Lula efeitos da guerra como as crises energética e alimentar e destacou o papel do Brasil e da Romênia para a garantia da segurança no fornecimento de alimentos.

O pronunciamento de Iohannis contrastou com o de Lula. O petista condenou a "violação da integridade territorial da Ucrânia", mas não fez uma crítica nominal à Rússia. "Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada. Falei da nossa preocupação com os efeitos da guerra, que extrapolam o continente europeu."

O líder brasileiro ressaltou que a Romênia tem mais de 600 quilômetros de fronteira com a Ucrânia e afirmou ter reiterado a Iohannis a "preocupação com a consequência global desse conflito em matéria de segurança alimentar e energética, especialmente sobre regiões mais pobres do planeta".

Lula tem sido alvo de críticas de países do Ocidente por uma série de falas sobre o conflito. Ele já sugeriu que a Ucrânia poderia ceder território num eventual processo de paz, disse que Volodimir Zelenski também tem responsabilidade pelo conflito e que os EUA precisam parar de "incentivar a guerra", numa referência velada ao envio de armamentos para ajudar Kiev a se defender.

Na segunda, John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, descreveu a postura de Lula sobre a guerra como "repetição automática da propaganda russa e chinesa". Nesta terça, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, engrossou o coro da reação ao afirmar que o tom do Brasil sobre o conflito não é de neutralidade.

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