Brasil é soberano para receber Lavrov, mas precisa ouvir todos os lados, diz diplomata da Ucrânia

Anatoliy Tkach reconhece decisão de Lula de se reunir com chanceler russo e pondera que Putin deve ser tratado como criminoso

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Brasília

O chefe da embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, defendeu que o Brasil, sendo um país soberano, tem autonomia para receber o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov. O ucraniano afirmou, porém, que é preciso reconhecer que o governo liderado por Vladimir Putin é, na visão dele, um criminoso.

"O Brasil é um país independente, e ninguém pode influenciar suas decisões. Mas temos que entender que o governo russo é criminoso, que iniciou uma guerra não provocada e injusta. Ninguém pode discutir quando eu digo que é um governo criminoso, porque foi dada uma ordem [de prisão]", disse Tkach em referência ao mandado expedido pelo Tribunal Penal Internacional contra Putin por crimes de guerra.

"Ninguém poderia influenciar essa visita [de Lavrov]. Mas todos têm que ter em mente de que se trata de um regime autoritário e criminoso", acrescentou.

Manifestante em São Paulo protesta contra visita do chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, a Brasília - Amanda Perobelli - 17.abr.23/Reuters

Ele também fez um apelo para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ouça todos os lados do conflito e disse que, no momento, desconhece a existência de tratativas sobre uma possível visita ao Brasil do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba —um movimento defendido por críticos dos gestos de Lula a Moscou como uma forma de demonstrar equilíbrio.

Kuleba e seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, tiveram uma reunião em fevereiro, durante a Conferência de Segurança em Munique, na Alemanha. Na ocasião, Vieira convidou o ucraniano a visitar o Brasil, mas as conversas sobre o tema não avançaram. "Para ter uma visão mais ampla, eu diria que, primeiro, [Lula] tem que ouvir todos os lados. Ouvir a posição da Ucrânia. Houve uma proposta do governo ucraniano para que o presidente do Brasil visite a Ucrânia, para ver como os seus próprios olhos aqueles crimes", disse.

Tkach comanda a missão diplomática ucraniana no Brasil interinamente, na condição de encarregado de negócios. Já não havia embaixador no posto no início da guerra e a situação ainda não foi alterada.

Na segunda-feira (17), Lavrov realizou visita de um dia a Brasília, onde se reuniu com Vieira, teve um encontro de 1h30 com Lula no Palácio da Alvorada e deu uma aula para jovens diplomatas no Instituto Rio Branco, a escola de formação do Itamaraty. Lavrov disse que os "amigos brasileiros" compreendiam "a gênese da situação" na Ucrânia e, citando "questões relevantes da agenda internacional", que Brasil e Rússia têm "abordagem similar". A visita e as declarações do chanceler russo foram vistas por países do Ocidente como mais um sinal de aproximação de Brasília com posições defendidas por Moscou.

Apesar de reconhecer os votos brasileiros na ONU contra a invasão russa, o diplomata ucraniano expressou preocupação com as recentes declarações de Lula. Uma das falas sugeriu que, numa eventual negociação de paz, a Ucrânia talvez tenha de abrir mão de parte de seu território, como a Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Nesse sentido, Tkach disse que o status da península é inegociável.

"Nossa posição é que todo o território da Ucrânia, dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas, o que inclui a Crimeia, deve ser liberado", afirmou.

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