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Como a polícia dos EUA tem mudado abordagem diante de tantos ataques a tiros

Rápida resposta ao tiroteio em Nashville reflete evolução no treinamento dos agentes de segurança

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Emily Cochrane
Nashville (EUA) | The New York Times

As primeiras ligações para a emergência começaram às 10h13.

Professores e funcionários, escondidos na Escola Covenant e na igreja anexa, sussurravam orações e pedidos de ajuda, com vozes de crianças e tiros audíveis ao fundo.

Os atendentes garantiram que a polícia estava a caminho. Quando os policiais chegaram, minutos depois, formaram pequenas equipes e vasculharam as salas de aula, com as carteiras vazias, em busca do atirador, seguindo em direção ao som de tiros no segundo andar. Por volta de 10h30, policiais com revólveres e rifles encontraram o atirador perto de uma janela, abriram fogo e o mataram.

O chefe da polícia de Nashville, John Drake, em entrevista coletiva após ataque a escola local
O chefe da polícia de Nashville, John Drake, em entrevista coletiva após ataque a escola local - Austin Anthony - 28.mar.23/Reuters

A rápida resposta ao tiroteio na escola de Nashville no último dia 27, no qual três adultos e três crianças de nove anos de idade foram mortos, salientou como as táticas e o treinamento da polícia evoluíram para enfrentar a realidade dos repetidos assassinatos em massa nas escolas americanas.

Também ilustrou um novo foco de confrontar o agressor o mais rapidamente possível, uma antiga prioridade enfatizada pela resposta malsucedida a um tiroteio em Uvalde, no Texas, em maio passado.

"Não queremos que isso aconteça em Nashville, mas treinamos com a possibilidade de acontecer", afirma o delegado John Drake. "Sabemos que temos de continuar avançando em direção à ameaça, que precisamos entrar e não podemos esperar."

As ações policiais em Nashville, com imagens capturadas por câmeras corporais editadas em seis minutos, contrastam com a resposta da polícia de Uvalde ao ataque que terminou mais de uma hora depois, quando policiais atrasaram o confronto com o atirador que matou 19 crianças e dois professores.

O tiroteio em Uvalde, uma das chacinas mais mortíferas numa escola nos EUA, pesou sobre as autoridades policiais em Nashville e em outros departamentos antes do ataque na Escola Covenant como um lembrete do que poderia dar errado. "Temos que entrar [no local do tiroteio] e garantir que estamos fazendo nossa parte para lidar com a ameaça", diz o sargento Justin Coker, da polícia de Nashville, que ajudou a elaborar alguns dos protocolos de treinamento do departamento, anos atrás.

Chuck Wexler, diretor-executivo do Fórum Executivo de Pesquisa Policial, afirma que, embora tenha sido o ataque de 1999 na Escola Secundária de Columbine, no Colorado, que transformou a forma como a polícia treina para confrontar um atirador, a resposta em Uvalde agora "está na mente de cada policial".

"Eu vi oficiais que foram treinados, oficiais que agiram rapidamente e pareceram chegar ao núcleo do problema com bastante rapidez", diz Wexler sobre o tiroteio na Escola Covenant. "A mensagem de Uvalde é que você vá o mais rapidamente possível. E foi isso o que vi."

Mas ele reconhece que Nashville tem alguns dos órgãos de resposta a emergências maiores e mais bem equipados do país e recursos para treinar intensamente para a possibilidade de um tiroteio em massa.

"O alerta é que Nashville estava preparada –nem todas as agências, especialmente nas áreas rurais do país, terão esses recursos."

A coordenação entre a ação policial e a gestão de emergências em Nashville também se fortaleceu nos últimos anos, em parte devido a uma série de desastres naturais e ataques, incluindo um atirador num restaurante em 2018 e um homem que detonou um veículo com explosivos no dia de Natal em 2020.

Com a constante ameaça de tiroteios em massa, a cidade realizou treinamentos repetidos para oficiais de base e funcionários seniores que incluíram briefings de outros oficiais e departamentos de emergência que viveram o horror de um tiroteio numa escola.

O chefe dos bombeiros de Nashville, William Swann, diz que, de 17 sessões de treinamento realizadas em 2022, 11 ocorreram em um prédio de escola secundária, no qual seu departamento se juntou a policiais e outros funcionários para aprender a responder a emergências. O exercício conjunto mais recente ocorreu uma semana antes do tiroteio na Escola Covenant, diz.

Com um quartel de bombeiros próximo à escola, médicos e equipes de emergência estavam logo atrás dos policiais como parte da força-tarefa de salvamento durante o tiroteio do dia 27.

"Se não houver um treinamento adequado, as emoções se envolvem, e, se você permitir isso, terá problemas", diz Swann. Essa pode ser uma preocupação em um tiroteio numa escola, acrescenta. Ele segurou as lágrimas ao descrever a sala de aula e os abraços e beijos de uma criança.

Autoridades também investiram em apoio e recursos de saúde mental para seus oficiais e funcionários, enquanto lidam com o que viram e ouviram naquele dia e com a percepção de que, apesar de fazerem tudo conforme o treinamento, seis pessoas foram mortas. "Tudo funcionou como deveria, mas não podemos fazer as coisas que estão fora do nosso controle", diz Swann, dos bombeiros.

Essa carga mental foi evidente entre o grupo que atendeu a cerca de duas dúzias de ligações para o 911 e retransmitiu detalhes para a polícia. Guiados por uma série de perguntas, eles anotaram onde estava cada interlocutor, instruindo-os a fazer o que parecia mais seguro e a esperar a chegada da polícia. Em uma ligação, o atendente diz a uma professora para se preparar para fugir ou lutar, caso ela decidisse ficar.

"Você pinta o quadro, esse é o nosso trabalho", diz Steve Martini, chefe do departamento de comunicações de emergência de Nashville. "Nosso objetivo é lutar pela calma, pela ordem e pela clareza e restaurar a situação a um certo nível de calma, da melhor maneira possível."

Para alguns atendentes, aquela segunda-feira foi o primeiro dia de volta ao trabalho após uma rodada de treinamento concluída na sexta-feira anterior, que incluiu uma discussão sobre como lidar com chamadas de emergência no local de um tiroteio.

Courtney Leaman, 25, que trabalha como atendente há seis meses, aconselhou os professores enquanto eles sussurravam suas localizações e a ameaça do atirador. Depois, ela ligou para a mãe –uma atendente que respondeu a um tiroteio em 2006 numa escola na Pensilvânia– e começou a chorar.

"Tenho que projetar confiança", diz. Mas "parte de você quer passar pelo telefone, confortar e consolar".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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