G7 ameaça 'custos severos' a eventuais aliados da Rússia na Guerra da Ucrânia

Grupo busca mostrar frente unida contra China após abalo causado por declaração de Macron

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São Paulo

O G7, grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, publicou nesta terça-feira (18) um documento em que alerta eventuais aliados da Rússia na Guerra da Ucrânia acerca da possibilidade de enfrentar "custos severos". O aviso aparenta ser um recado indireto àChina, aliada estratégica do país liderado por Vladimir Putin —Pequim, aliás, é citada em diversos outros pontos do texto.

O comunicado foi resultado de uma reunião de dois dias entre os chefes de diplomacia dos integrantes do G7 —Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido. O encontro, realizado em Karuizawa, a cerca de 150 km de Tóquio, preparou terreno para a cúpula do grupo, marcada para maio em Hiroshima.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, discursa em hotel em Karuizawa, no Japão, durante encontro com a imprensa que marcou final da reunião de ministros da Relações Exteriores do G7
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, discursa em hotel em Karuizawa, no Japão, durante encontro com a imprensa que marcou final da reunião de ministros da Relações Exteriores do G7 - Andrew Harnik - 18.abr.23/Pool/AFP

O documento ainda busca demonstrar uma frente unida das nações após a controvérsia provocada por uma declaração do presidente da França, Emmanuel Macron, considerada excessivamente pró-China.

Na semana passada, ele defendeu uma "autonomia estratégica" da Europa diante da disputa entre Pequim e Washington, causando ruídos com alguns integrantes do G7, como a Alemanha e os próprios EUA.

A ministra das Relações Exteriores alemã, Annalena Baerbock, por exemplo, afirmou nesta segunda (17) que o regime liderado por Xi Jinping tentava substituir normas internacionais por "regras próprias".

O texto de agora, ao contrário, não deixa dúvidas de que o G7 considera a China um de seus maiores desafios geopolíticos —a ponto de o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmar que nunca havia observado uma "convergência maior" no grupo no que se refere a Pequim e Taiwan.

O comunicado critica a expansão "acelerada" do arsenal nuclear chinês e expressa preocupação de que o país esteja desenvolvendo sistemas cada vez mais complexos sem transparência ou medidas de redução de risco; põe em xeque a legitimidade de sua expansão militar no Mar do Sul da China; volta a levantar suspeitas da prática de espionagem industrial; e, por fim, reforça o apoio à manutenção da autonomia de Taiwan, acrescentando que a estabilidade na região são indispensáveis para a segurança global.

Já a menção aos "custos altos" a serem enfrentados por eventuais apoiadores da Rússia na Guerra da Ucrânia ecoa uma declaração de Blinken, em fevereiro, ao insinuar que Pequim planejava enviar armas a Moscou no contexto do conflito. Na ocasião, ele disse que um ato do tipo teria "graves consequências".

A alegação, que não foi acompanhada de evidências, foi veementemente negada pelos chineses, para quem Washington, não eles, está "constantemente enviando armas para o campo de batalha" —um fato.

O documento do G7 provocou nova reação inflamada de Pequim, que acusou os chanceleres da coalizão de interferência em questões internas do país e de "maliciosamente caluniarem e difamarem a China".

Em encontro regular com a imprensa, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, ainda chamou o comunicado de arrogante e preconceituoso e afirmou ter reportado o incômodo ao Japão.

Além das menções à China, o texto também demonstra grande alarme com a questão nuclear, assunto que deve ser prioritário na cúpula. Nesse sentido, a maior fonte de preocupação é a Rússia, que ameaça há meses usar ogivas táticas do tipo em meio ao conflito com a Ucrânia.

No documento, os chefes de diplomacia pedem que o Kremlin volte a se comprometer, "com palavras e ações", com a prevenção de uma guerra nuclear e a evitar uma corrida por armamentos. Também dizem ser inaceitável o posicionamento de armas nucleares táticas na vizinha e aliada Belarus. "Qualquer uso de armas químicas, biológicas ou nucleares pela Rússia gerará consequências severas", afirma o texto.

Outras questões da geopolítica atual também figuram no comunicado, ainda que de modo menos proeminente. Entre elas está a crise que eclodiu no Sudão nos últimos dias, causada por uma disputa de poder entre o Exército e o maior grupo paramilitar do país. "Urgimos todos os personagens do conflito a renunciar à violência, retomar negociações e agir ativamente para reduzir tensões e garantir a segurança de todos os civis, incluindo funcionários de organizações humanitárias e diplomatas", diz o texto.

Três funcionários do Programa Mundial de Alimentos da ONU foram mortos nos confrontos no país africano no domingo (16) e, nesta segunda (17), um comboio diplomático dos EUA foi atacado.

Com AFP e Reuters

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