Ucrânia volta a convidar Lula a viajar a Kiev e 'entender causas reais da guerra'

Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores ucraniano critica falas recentes do presidente brasileiro sobre conflito

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O governo da Ucrânia voltou nesta terça-feira (18) a convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a visitar Kiev. No Facebook, o porta-voz da chancelaria ucraniana, Oleg Nikolenko, afirmou desejar que Lula compreenda "as verdadeiras causas da agressão russa e suas consequências para a segurança global".

Lula conversa com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por vídeo
Lula conversa por videoconferência com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em março de 2023 - 2.mar.23/Reprodução

O convite se dá após ampla repercussão de declarações do brasileiro relacionadas ao conflito na Ucrânia. Ao fim de sua viagem à China, o petista acusou os EUA de incentivarem a continuidade do conflito, numa referência velada ao envio de armamentos a Kiev, e cobrou de Washington que "comece a falar em paz".

Depois, em parada nos Emirados Árabes Unidos ao retornar ao Brasil, voltou a dizer que Kiev tem tanta responsabilidade quanto Moscou pelos enfrentamentos. O petista já havia afirmado algo semelhante em uma entrevista à revista americana Time em maio passado, quando ainda era pré-candidato às eleições presidenciais. "Uma guerra não tem apenas um culpado", argumentou na ocasião.

"A Ucrânia observa com interesse os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para a guerra. Ao mesmo tempo, a abordagem que põe vítima e agressor na mesma balança e acusa os países que ajudam a Ucrânia [...] de incentivarem a guerra não está de acordo com a realidade", disse Nikolenko.

"A Ucrânia não precisa ser convencida de nada. A guerra está sendo travada em solo nacional e causando sofrimento e destruição incalculáveis. Mais do que ninguém, estamos empenhados em acabar com a agressão russa com base na proposta de paz formulada pelo presidente [Volodimir] Zelenski."

A proposta ucraniana exige que, para se sentar à mesa com a Rússia, todas as áreas ocupadas do país sejam liberadas. Um dos nós da assertiva é a Crimeia, anexada em 2014 —região que Lula, em outra declaração tachada de "equivocada" por John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, sugeriu que fosse cedida a Moscou por Kiev em nome da paz no início do mês.

Nikolenko encerra a publicação reiterando o convite para que Lula visite o país e veja a situação com seus próprios olhos. Zelenski já havia chamado o brasileiro a Kiev no mês passado, em conversa por vídeo, no primeiro contato entre eles. Na ocasião, o petista disse que aceitaria o convite em momento oportuno.

As declarações recentes de Lula também foram alvo de críticas dos Estados Unidos —a princípio em particular, como mostrou a Folha no sábado (15), e oficialmente nesta segunda (17), quando Kirby chamou a postura do presidente brasileiro de "profundamente problemática". "Francamente, neste caso, o Brasil está repetindo a propaganda da Rússia sem olhar para os fatos", disse ele em encontro com jornalistas.

A viagem do chanceler russo, Serguei Lavrov, a Brasília só agravou o mal-estar. Na segunda, ao responder a perguntas de jornalistas no Itamaraty, o subordinado de Putin disse que as posições de Brasil e Rússia são similares. A declaração ampla fez o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que o acompanhava, ser questionado se a assertiva se referia também ao tema da Guerra da Ucrânia —o que ele negou, afirmando que o conflito nem mesmo esteve na pauta das reuniões com Lavrov.

"O Brasil quer promover a paz, está pronto para se unir a um grupo de países que estejam dispostos a conversar sobre a paz. Essa foi a conversa que tivemos", disse o representante do Itamaraty.

Embora sem avanços concretos até aqui, uma das propostas do governo Lula para a guerra é a criação de um "clube da paz", fórum de países que Brasília entende como não alinhados a nenhum dos lados do conflito para mediar as negociações entre Kiev e Moscou. Nesta segunda, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o plano merece ser avaliado. "Qualquer ideia que leve os interesses da Rússia em conta merece atenção e certamente precisa ser ouvida", disse ele em encontro regular com a imprensa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.