Lula agora diz que nunca igualou responsabilidade de Ucrânia e Rússia na guerra

Presidente fala sobre conflito durante visita oficial a Portugal e critica Conselho de Segurança da ONU

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Lisboa

Em discurso mais moderado sobre a Guerra da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, durante visita oficial a Portugal neste sábado (22), que "nunca igualou" as responsabilidades de Rússia e Ucrânia no conflito.

A fala contrasta com declarações anteriores do petista, que causou mal-estar entre aliados do Ocidente ao dizer, mais de uma vez, que os dois países eram responsáveis pela guerra e que EUA e União Europeia incentivavam, de certo modo, sua continuidade.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio de Belém, em Lisboa, durante visita oficial a Portugal
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio de Belém, em Lisboa, durante visita oficial a Portugal - Patricia de Melo Moreira/AFP

"Eu não fui à Rússia e não vou à Ucrânia. Eu só vou quando houver possibilidade de efetivamente ter um clima de construção de paz. Eu sempre fui uma pessoa que quer integridade territorial", afirmou ele.

Ainda assim, Lula voltou a dizer que, a despeito da posição brasileira de condenar a agressão contra um Estado soberano, nem Kiev nem Moscou parecem querer parar o conflito.

"É melhor encontrar a saída em torno de uma mesa do que no campo de batalha", disse o petista. Perguntado se ainda sustenta que a União Europeia colabora para a manutenção do conflito, disse que "se você não fala em paz, você contribui para a guerra".

Veja o que Lula já disse sobre a Guerra da Ucrânia

Ele lembrou, claro, sua proposta pouco concreta de "clube da paz", que envolveria países como Brasil e China para buscar uma mediação para o cessar-fogo permanente. O presidente chegou a enviar Celso Amorim, seu assessor especial, a Moscou, onde o ex-chanceler vendeu a ideia a Vladimir Putin.

Nesta sexta-feira (21), já durante a ida de Lula a Portugal, o governo sinalizou que Amorim, agora, deve ir a Kiev conversar com autoridades ucranianas. O presidente Volodimir Zelenski mais de uma vez convidou Lula a visitar seu país.

Falando sobre o conflito no Leste Europeu, Lula também teceu críticas ao Conselho de Segurança da ONU, órgão que o Brasil almeja integrar como membro permanente, e não mais rotativo.

"A gente não pode continuar com os membros do conselho fazendo guerra. Eles decidem a guerra sem consultar nem sequer o conselho. Foram os EUA contra o Iraque, a Rússia contra a Ucrânia, a França e a Inglaterra contra a Líbia. Ou seja: eles mesmos desrespeitam as decisões do Conselho de Segurança."

O presidente também falou sobre o conflito em entrevista à emissora pública lusa RTP. Sobre a atuação do Ocidente, disse que nunca pediu para que a Europa e os EUA tivessem outro comportamento. O que nós queremos é que eles também comecem a falar sobre a paz."

Também negou que Brasília venha adotando uma posição ambígua. "O Brasil tem uma posição muito clara: condenou a Rússia por invadir o espaço territorial da Ucrânia. Ponto."

Um grupo de representantes da comunidade ucraniana em Portugal protestou nesta sexta-feira em frente à embaixada do Brasil em Lisboa, com bandeiras da Ucrânia, contra as recentes declarações do brasileiro.

Depois, algumas pessoas foram recebidas pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, um dos que compõem a comitiva oficial da agenda no país europeu. Segundo o governo, o ministro recebeu uma carta da comunidade, que foi encaminhada a Lula e lida por ele, e reforçou "a posição do presidente e do governo de promover esforços internacionais para uma paz mediada".

Em entrevista à revista americana Time, ainda quando era pré-candidato à Presidência da República, Lula disse que o presidente Zelenski era tão responsável quanto Putin pela guerra.

Ele também afirmou que os EUA e a União Europeia estimularam o conflito e fez duras críticas à ONU, que, segundo ele, "não representa mais nada" e "não é levada a sério pelos governantes".

Meses depois, durante rápida passagem por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, Lula disse que tanto Moscou quanto Kiev são responsáveis pela guerra e por prolongar o conflito no Leste Europeu.

"Putin não toma a iniciativa de parar. Zelenski não toma a iniciativa de parar. A Europa e os EUA continuam contribuindo para a continuação desta guerra. Temos que sentar à mesa e dizer para eles: 'Basta'", disse. Ele acrescentou que a "decisão pelo conflito foi tomada por dois países".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.