Lula ecoa bordão de Xi contra 'individualismo' na véspera de encontro decisivo

Petista diz que 'humanidade nasceu para viver em comunidade', parafraseando um dos lemas da política externa da China

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Pequim

Encerrando seu discurso nesta quinta-feira (13), em Xangai, durante a posse de Dilma Rousseff no Banco do Brics, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) improvisou uma crítica ao individualismo.

Foi uma das passagens mais aplaudidas. "Nós precisamos derrotar o individualismo, que está tomando conta da humanidade. A humanidade nasceu para viver em comunidade."

Lula fala durante posse de Dilma Rousseff no banco dos Brics, em Xangai, na China - Ricardo Stuckert/via Reuters

O petista ecoava um dos conceitos mais repetidos pelo líder chinês, Xi Jinping, com quem ele tem um encontro marcado nesta sexta (14). "Uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade" é um dos bordões em torno dos quais a política externa chinesa foi erguida na última década.

Para Lula, "a química da bondade, da lealdade, da fraternidade é que tem que prevalecer entre os seres humanos e entre os Estados, senão nós não iremos reconstruir um mundo justo". O petista defendeu ainda "dispersar o ódio estabelecido não só no Brasil, mas em vários países do mundo".

"Além de cuidar da educação, da exportação, além de cuidar de tudo, temos que cuidar da cabeça da humanidade, que está sendo transformada", disse Lula. "É preciso que o humanismo reaja".

No final do dia, o presidente brasileiro se reuniu no hotel em que está hospedado com o secretário-geral do Partido Comunista de Xangai, Chen Jining.

O presidente brasileiro se encontra com o dirigente chinês na tarde desta sexta, no Grande Salão do Povo, na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Antes, Lula deve depositar flores no Monumento aos Heróis do Povo, obelisco de quase 38 metros de altura que ilustra batalhas históricas da China.

Na pauta do encontro entre Lula e Xi deve estar a adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota, projeto trilionário de investimento chinês em infraestrutura —uma das pontas soltas para as quais se espera um desfecho durante a estadia do petista na China

A BRI (sigla em inglês para a inciativa) completa dez anos em setembro e já conta com 21 países latino-americanos. O regime de Xi Jinping tem pressionado o governo brasileiro em busca de um ingresso formal para fazer deslanchar os investimentos que Lula deseja em novos ativos produtivos de infraestrutura, inclusive ferrovias e hidrelétricas. Esse cenário, no entanto, preocupa os EUA, que veem na expansão da Iniciativa Cinturão e Rota uma tentativa de Pequim de ampliar sua influência.

Embora a busca de investimentos chineses em infraestrutura seja uma das prioridades de Lula nas negociações —no encontro desta sexta, ele deve assinar uma série de acordos com Xi—, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou que o ingresso à "Nova Rota da Seda", como é também chamado o projeto, não seria um deles.

"Acho que não está prevista a adesão, não está no rol dos documentos que vão ser assinados", disse Haddad, acrescentando: "Não li todos, só os da Fazenda. Não vi todos os documentos do Itamaraty".

A Folha ouviu de outro integrante da comitiva brasileira que a ideia seria usar linguagem já adotada no passado, com um tom positivo, mas sem aderir formalmente à BRI.

Lula também deve colocar em discussão sua proposta de criação de um "clube da paz" para mediar as negociações entre Rússia e Ucrânia. A iniciativa não foi bem recebida por líderes ocidentais, mas o petista se diz convencido de que Moscou e Kiev "estão esperando que alguém diga 'vamos sentar e conversar'".

Para tal, já disse que "está na hora de a China colocar a mão na massa" —Xi é próximo de Vladimir Putin, com quem selou um acordo de "amizade sem limites" dias antes da eclosão da Guerra da Ucrânia.

No primeiro aniversário da guerra, a China apresentou sua proposta de paz para encerrar o conflito no Leste Europeu. O documento em 12 partes inclui medidas como a oposição ao uso de armas nucleares, o fim das sanções impostas a Moscou e a recusa do que chama de "mentalidade de Guerra Fria".

O projeto, no entanto, foi recebido com ceticismo no Ocidente, cujos líderes não compraram a ideia de que Pequim não tem lado na guerra. Lula encerra a viagem oficial à China no sábado, quando vai a Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, para encontrar o líder do país, Mohamed bin Zayed.

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