Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Rússia acusa Ucrânia e grupo de Navalni por morte de blogueiro militar

Mulher é presa por suposto envolvimento em explosão; caso opõe Ministério da Defesa e Grupo Wagner

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São Paulo

O governo da Rússia acusou a Ucrânia e integrantes do grupo fundado pelo opositor Alexei Navalni de terem cometido o ataque a bomba que matou o blogueiro militar Vladen Tatarski em um bar no centro da cidade de São Petersburgo no último domingo (2).

Uma mulher, Daria Trepova, foi presa pela polícia nesta segunda-feira (3) e acusada de ser integrante do Fundo Anticorrupção, a ONG de Navalni. Até aqui, nunca houve casos de violência política associadas ao ativista. O complô pode envolver uma rivalidade entre militares russos e o grupo mercenário Wagner.

Homenagem a Tatarski próxima ao café em que ele foi assassinado no domingo (20), em São Petersburgo
Homenagem a Tatarski próxima ao café em que ele foi assassinado no domingo (20), em São Petersburgo - Anton Vaganov/Reuters

A acusação mais controversa, portanto, é contra Navalni. Ela foi feita pelo Comitê Antiterrorismo do governo, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. O órgão afirma que serviços de inteligência ucranianos tiveram "ajuda de agentes da Fundo Anticorrupção", a opaca ONG fundada pelo ativista.

Navalni foi preso em 2021, ao voltar da Alemanha após meses de tratamento por ter sido envenenado na Sibéria. Acusado de violar sua liberdade condicional, acabou condenado novamente a mais nove anos de prisão. O opositor comandou, a partir de 2017, os maiores atos contra o governo de Vladimir Putin.

Enquanto o dedo acusador contra Kiev seja lógico, dada a guerra iniciada por Putin em fevereiro de 2022, há nuances no caso do blogueiro Tatarski —cujo verdadeiro nome era Maxim Fomin.

Ele fazia parte de um grupo privilegiado, com acesso às frentes russas na Ucrânia e que o Kremlin permite até fazer o papel de crítico dos rumos da guerra, desde que Putin fique de fora. Alguns deles são próximos do Ministério da Defesa, e outros, como Tatarski, do Grupo Wagner, liderado por Ievguêni Prigojin, conhecido como o "chef de Putin" por já ter comandado os serviços de alimentação do Kremlin.

Ele é um ex-condenado, como Prigojin, que ascendeu na vida social russa. O café em que Tatarski recebeu a bomba escondida em um busto de si mesmo, entregue de presente enquanto ele falava a seguidores, pertenceu ao empresário.

Segundo a agência Associated Press, a estátua foi dada por Trepova, que disse à polícia ter sido "usada", sem contar por quem, no episódio. A imprensa russa diz que ela participava também de um grupo radical anti Putin, integrado também por seu namorado.

Com efeito, o chefe do Wagner divulgou um áudio dizendo que "não se deve culpar o regime de Kiev". "Isso foi o trabalho de radicais não ligados a um governo." Prigojin vive às turras com o ministro da Defesa, Serguei Choigu, e outros generais, acusando-os de sabotar seus mercenários. Eles são a ponta de lança da ofensiva russa no "moedor de carne" de Bakhmut, no leste da Ucrânia, que se arrasta há meses.

Tatarski, por sua vez, já havia dito em seu canal no Telegram que a cúpula militar russa mereceria um tribunal exclusivo, sendo composta por "idiotas sem treinamento" —Choigu é um general sem carreira no Exército, tendo ganhado seu título pelo trabalho como chefe do Ministério das Situações de Emergência.

O blogueiro tinha 560 mil seguidores e era influente. Estava presente no Kremlin em 30 de setembro passado, quando Putin anexou ilegalmente quatro regiões ucranianas. De acordo com a porta-voz da chancelaria, "ele ganhou o ódio do regime de Kiev". Ela afirmou que outros blogueiros estão sob risco. Putin concedeu a Ordem da Coragem a Tatarski nesta segunda.

Ele é a segunda figura pró-guerra associada ao Kremlin assassinada desde a invasão da Ucrânia. Em agosto, Dari Dugina, a filha do ideólogo nacionalista Aleskandr Dugin, morreu na explosão de uma bomba em seu carro.

A Rússia acusou Kiev pelo atentado, algo que os serviços de inteligência dos EUA corroboram, mas o governo de Volodimir Zelenski negou participação. Nesta segunda-feira, o assessor presidencial Mikhailo Podoliak escreveu no Twitter que "as aranhas estão se comendo", descartando responsabilidade no caso.

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