Segundo democrata expulso por protesto antiarmas recupera cargo no Tennessee

Deputado Justin Pearson participou de manifestação no plenário da Câmara após ataque a tiros em escola

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Memphis (EUA) | Reuters

Um conselho legislativo do Tennessee devolveu nesta quarta (12) o cargo do segundo parlamentar democrata expulso por protestar no plenário da Câmara dos Deputados local contra a violência armada.

Justin Jones, 27, e Justin Pearson, 29, dois políticos negros, tiveram o mandato cassado no dia 6 por se juntarem a estudantes e professores que entraram na sede do Legislativo para exigir a aprovação de leis mais duras contra armas —uma reação ao ataque numa escola de Nashville que deixou seis mortos.

Justin Pearson marcha com apoiadores no Museu Nacional dos Direitos Civis, em Memphis - Karen Pulfer Focht/Reuters

Na última segunda-feira (20), Jones foi reconduzido ao cargo depois que conselheiros de Nashville, onde fica seu distrito, aprovaram por unanimidade a restauração de seu mandato. Nesta quarta, foi a vez do conselho de Shelby, onde os democratas têm maioria absoluta, fazer o mesmo movimento por Pearson.

"Vocês não podem expulsar a esperança", disse ele após a votação. "Vocês não podem expulsar a justiça nem a nossa voz." Ele deve retornar à Assembleia nesta quinta para a nova cerimônia de posse.

"Esta é uma democracia da qual eles têm medo, porque esta é a democracia que muda o status quo", afirmou ele a cerca de 500 apoiadores que se juntaram do lado de fora do Museu Nacional dos Direitos Civis, em Memphis, antes da votação. "Hoje marchamos e vamos continuar lutando, vamos continuar pressionando, porque acreditamos que assim é a democracia."

O democrata e presidente do conselho, Mickell Lowery, classificou a atitude dos legisladores que votaram pela cassação de seus colegas de "infeliz". "Acredito que a expulsão de Justin Pearson foi conduzida de maneira precipitada, sem considerar outros métodos de correção", afirmou ele em um comunicado.

Os políticos ajudaram a liderar uma manifestação no plenário da Câmara no dia 30 de março, interrompendo uma sessão legislativa. Eles foram acompanhados por moradores de Nashville, indignados com o ataque a tiros em uma escola da cidade que matou três crianças de 9 anos e três funcionários.

A deputada Gloria Johnson, 60, também participou do protesto, mas foi poupada da expulsão por seus pares, o que suscitou debates sobre racismo na política americana. Ela disse a repórteres após as votações que acreditava ter escapado por ser branca.

Em vez de expulsá-los da vida política, a medida chamou a atenção nacional para Jones e Pearson. Na semana passada, a vice-presidente Kamala Harris visitou o Tennessee para manifestar apoio aos correligionários —atitude que animou muitos democratas no estado majoritariamente republicano. Já no Senado, democratas pediram ao Departamento de Justiça dos EUA para investigar se os direitos constitucionais dos legisladores expulsos foram violados.

O Partido Democrata do Tennessee já recebeu mais de US$ 400 mil (R$ 2 milhões) em contribuições desde a semana passada —mais do que as doações dos três meses anteriores juntos. Na manifestação desta quarta, Jones chamou o presidente da Câmara, o republicano Cameron Sexton, de "inimigo da democracia multirracial" e disse que ele e Pearson pedirão sua renúncia. "Em vez de aprovar leis de armas com bom senso, aprovaram uma resolução para expulsar os membros negros mais jovens da Câmara."

Sexton não respondeu a um pedido de comentário. No início desta semana, os republicanos da Câmara emitiram um comunicado afirmando que "darão as boas-vindas" de volta a qualquer legislador estadual expulso e reintegrado pelos governos distritais, desde que esses membros sigam as regras da Casa.

Projetos que reivindicavam leis mais rígidas para posse de armas foram rejeitados pela Câmara local, que optou por exigir que escolas realizem exercícios anuais e mantenham portas de entrada trancadas. Apenas dois representantes foram expulsos na Câmara dos Deputados do Tennessee desde a Guerra Civil (1861-1865). Um em 1980, por suborno, e outro, em 2016, acusado de má conduta por várias mulheres.

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