Série documental reconta ataque em Boston como luta de mocinhos e bandidos

Produção da Netflix explora suspense, caçada e patriotismo nos dias que se seguiram às explosões nos EUA

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São Paulo

O terrorismo se vulgarizou como tamanha rotina que poucos se lembram dos dez anos das duas bombas que mataram três pessoas e feriram 281 junto à linha de chegada da Maratona de Boston, nos EUA.

O saldo desse atentado foi infinitamente menor que o do 11 de Setembro, quando, no colapso do World Trade Center, em Nova York, morreram 2.606. Mas as bombas da maratona tiveram dimensão dramática suplementar. Elas colocaram a mídia e a polícia americanas em suspense por cinco dias, e até o então presidente Barack Obama entrou na história, ao pedir a suspensão do lockdown imposto a Boston enquanto se caçava o último terrorista.

Mulher assina homenagem em memorial às vítimas do atentado na maratona de Boston, nos EUA
Mulher assina homenagem em memorial às vítimas do atentado na maratona de Boston, nos EUA - Andrew Burton - 14.abr.14/Getty Images/AFP

O cinema entendeu essa dramaticidade. E a Netflix acaba de lançar "Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston", documentário em três episódios dirigido por Floyd Russ, em que o 15 de abril de 2013 virou um produto de suspense aplicado à história real.

As bombas foram fabricadas por dois lobos solitários (sem vínculos com grupos terroristas), os irmãos Dzhokhar e Tamerlan Tsarmaev. Eram muçulmanos, de família tchetchena e nascidos no Quirguistão. Ambos chegaram a Massachusetts ainda meninos, com os pais, e já eram cidadãos americanos.

Mas eram cidadãos ressentidos. Um deles praticava luta livre e acreditou que só o preconceito religioso o impediu de entrar para a seleção olímpica dos EUA. Alguns meses de ódio foram suficientes para levá-los a comprar os explosivos e colocá-los numa panela de pressão, com um controle remoto para detoná-los.

O documentário é cuidadoso para não se tornar um panfleto islamofóbico. Traz longa entrevista com o imã da mesquita de Boston, que reitera a dimensão pacífica de sua fé e o patriotismo pró-EUA da sua comunidade. Dzhokhar e Tamerlan eram problemáticos, mas o religioso não suspeitava que fossem capazes de um radicalismo homicida.

Curiosamente, o FBI, a polícia federal americana, recebeu do serviço secreto russo informações alertando sobre as tendências terroristas de Tamerlan, que fizera breve viagem ao país em que nasceu. O alerta foi considerado pouco importante pelos agentes dos EUA, que, por isso, involuntariamente, deixaram os dois irmãos à vontade para seguirem adiante com seus planos ensandecidos.

As duas bombas explodiram com um intervalo de 14 segundos e a 190 metros de distância uma da outra. Ao lado da confusão e das ambulâncias, prevalecia entre os policiais o pânico e a perplexidade. Não tinham a menor ideia sobre os autores do ataque.

Era o início da tarde de uma segunda-feira, feriado estadual do Dia dos Patriotas. A maratona atraía uma multidão. Em algumas horas os policiais recolheram fragmentos metálicos no chão —vestígios da bomba deixada ali de modo intencional.

O segundo passo consistiu em tentar descobrir pistas sobre os autores. A polícia recebeu 6.000 horas de vídeos gravados por celulares e passou a monitorar câmeras dos prédios da região. Uma delas, na entrada de um restaurante, gravou um rapaz de boné branco que deixou uma mochila no chão. Era a primeira bomba. O registro era precário, mas permitiu localizar um segundo rapaz com o qual o primeiro se encontraria.

O tempo corria. A mídia e as pessoas cobravam a identidade e a prisão dos terroristas. Os dois rapazes sequestraram um jovem empresário chinês. Tentaram pegar a estrada para Nova York. Pararam para reabastecer. O empresário escapou e deu um jeito de avisar à polícia.

Segue-se a primeira caçada aos terroristas. A polícia dispara 210 tiros. Tamerlan, o irmão mais velho, é ferido e morre ao chegar ao hospital. Impressões digitais do cadáver. Os terroristas são identificados.

Uma imensa operação policial procura pelo sobrevivente. O governador de Massachusetts proíbe a abertura do comércio e a circulação de veículos. Boston e subúrbios mais próximos ficam desertos.

Já é tarde de sábado quando Dzhokhar é localizado, escondido num barco guardado no quintal de um morador. Sua prisão dá lugar a uma explosão de patriotismo. Cantam-se hinos. Aplaude-se a polícia.

O terrorista é meses depois condenado a morte. Mas esse tipo de penalidade é nos anos seguintes suprimido em Massachusetts. Eis que a pena foi restabelecida, e hoje o irmão sobrevivente está no corredor da morte. Pode ser executado a qualquer momento, sob os protestos de entidades de direitos humanos, como a Anistia Internacional.

É um detalhe que o documentário não traz. Sua visão se resume, quanto a isso, à luta dos mocinhos contra os bandidos.

Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston

  • Classificação 16 anos
  • Direção Floyd Russ
  • Duração 175 min. (3 episódios)
  • Onde assistir Disponível na Netflix
Erramos: o texto foi alterado

O nome de Tamerlan Tsarnaev, um dos irmãos responsáveis pelo atentado em Boston em 2013, foi grafado incorretamente em versão anterior deste texto.

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