Descrição de chapéu drogas

Traficante admite ter vendido dose fatal de heroína a ator de 'The Wire'

Michael K. Williams, que interpretou o criminoso Omar Little no seriado americano, morreu de overdose em 2021

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Karen Zraick
Nova York | The New York Times

Um traficante que vendeu uma dose fatal de heroína para Michael K. Williams, ator que ficou famoso pela interpretação poderosa de uma figura temível do mundo das drogas na série "The Wire", declarou-se culpado em um tribunal federal de Manhattan na quarta-feira (5) de formação de quadrilha para vender narcóticos.

O réu, Irvin Cartagena, conhecido como "Olhos Verdes", foi acusado com mais três réus de dirigir uma quadrilha de tráfico que vendia heroína com fentanil em um apartamento no Brooklyn. Ele foi preso em Porto Rico no início do ano passado e originalmente acusado de "conspiração com narcóticos" que resultou em morte.

O ator Michael K. Williams, morto em 2021 - Rodrigo Varela - 31.mar.21/AFP

Cartagena, que compareceu ao tribunal com um macacão amarelo de prisioneiro, declarou-se culpado da acusação menor em troca de uma pena de prisão na faixa de 24 a 30 anos. O juiz Ronnie Abrams anunciará a sentença em agosto; a morte de Williams será considerada na decisão.

"Eu sabia que minhas ações eram erradas e contra a lei", disse Cartagena ao juiz, falando por meio de um intérprete de espanhol. "Sinto muito por minhas ações."

Em resposta às perguntas do juiz, ele disse que já foi tratado por dependência de drogas e tinha enfrentado acusações anteriores, incluindo drogas e roubo, desde 2003.

A polícia investigava a quadrilha quando Williams comprou as drogas de Cartagena na South Third Street em Williamsburg em 5 de setembro de 2021, em uma transação gravada por câmeras de vigilância, segundo documentos judiciais.

Williams foi encontrado morto em seu apartamento no dia seguinte. Estava rodeado de equipamentos para uso de drogas e sacos plásticos marcados com "Seguro AAA". O médico legista determinou que Williams, que tinha 54 anos, morreu de intoxicação aguda pela mistura de drogas.

A morte de Williams causou grande choque em Hollywood e outros lugares. Ele foi aclamado por sua interpretação do assaltante gay Omar Little na série inovadora "The Wire" e estrelou "Boardwalk Empire" e "When We Rise". Ele sempre disse que foi moldado por sua educação difícil no bairro de Flatbush, em Nova York, e usou sua fama para promover a reforma da justiça criminal. Ele também foi franco sobre sua luta pessoal com as drogas.

"O vício não desaparece", disse ele numa entrevista de 2017 ao The New York Times. "É uma luta diária para mim, mas estou lutando."

Dominic Dupont, 45, sobrinho de Williams que o via como um mentor, assistiu ao processo na quarta-feira com sua mulher. Os dois haviam se encontrado com Williams naquele dia em 2021.

"Há um elemento do que aconteceu hoje que foi importante para chegar a um ponto de encerramento", disse Dupont.

Williams havia falado que frequentemente pensava em Dupont enquanto filmava "The Night Of", drama sombrio da HBO sobre o sistema de justiça criminal de Nova York. Dupont foi condenado aos 19 anos por assassinato em segundo grau, mas depois recebeu o perdão do governador Andrew Cuomo.

"A realidade é que não há vencedores nisso", disse Dupont. "Michael era um ser humano incrível, e perdê-lo é algo com que ainda estamos lutando. O processo de luto continua para mim e para minha família."

Os outros acusados junto com Cartagena foram Hector Robles, conhecido como "Orelha", Luis Cruz, conhecido como "Monstro", e Carlos Macci, conhecido como "Carlito". Macci se confessou culpado de conspiração de narcóticos na terça e deve ser sentenciado em julho. Robles e Cruz se declararam inocentes.

O advogado de Macci, Benjamin Zeman, disse por e-mail que seu cliente é "um velho que luta contra o vício em heroína há 50 anos". O advogado de Cartagena, Sean M. Maher, não quis comentar.

Os promotores dizem que a quadrilha continuou vendendo as drogas mesmo logo após a morte de Williams.

Em 7 de setembro, um informante confidencial gravou uma conversa dentro do apartamento que os traficantes usavam na South Third Street enquanto ele comprava dez sacos de heroína, segundo documentos do tribunal. O informante perguntou se estava levando as mesmas drogas que mataram Williams. Cruz negou, mas testes de laboratório da polícia mostraram que todas as sacolas continham fentanil, além de xilazina, droga conhecida na rua como "tranq", que faz a pele apodrecer.

Mais tarde, um policial disfarçado registrou mais de uma dúzia de outras compras de drogas.

O fentanil é um opioide sintético até 50 vezes mais forte que a heroína; a Agência de Combate a Drogas (DEA) o chama de "a ameaça de drogas mais mortal que nosso condado já enfrentou". Mais de 100 mil americanos morreram de intoxicação por drogas no ano seguinte à morte de Williams, e 66% dessas mortes envolveram opioides sintéticos como o fentanil. A agência alertou no mês passado que a xilazina, que é cada vez mais misturada com o fentanil, o torna ainda mais perigoso.

Damian Williams, procurador do Distrito Sul de Nova York, disse em comunicado na quarta-feira que Cartagena vendia drogas "em plena luz do dia na cidade de Nova York, alimentando o vício e causando tragédias", e que vendeu a dose fatal para o aclamado ator.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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