Você pode ser sensível e liderar, diz Jacinda em despedida do Parlamento da Nova Zelândia; veja

Ex-primeira-ministra vai trabalhar em organização que combate extremismo online

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São Paulo

Num discurso com trechos pessoais e uma mensagem de coragem a quem quiser entrar na política, a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern se emocionou na despedida do Parlamento do país.

"Achei que precisaria mudar drasticamente para sobreviver. Mas não mudei", disse ela nesta quarta (5).

"Deixo este lugar tão sensível quanto antes. Você pode ser ansioso, sensível, gentil e mostrar o que sente. Você pode ser mãe, ou não, um ex-mórmon, ou não, uma nerd, uma chorona, pode ser carinhoso. Pode ser tudo isso, não só estar aqui —e liderar, assim como eu", disse, antes de finalizar com a voz embargada.

A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern discursa no Parlamento, em Wellington
A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern discursa no Parlamento, em Wellington - Mark Coote/AFP

Em janeiro, Jacinda abriu mão de tentar a reeleição para o que seria seu terceiro mandato e comunicou sua renúncia. O anúncio surpreendeu os admiradores internacionais que ela conquistou ao longo de cinco anos no poder, mas não chegou a ser um movimento abrupto internamente.

Quando se tornou primeira-ministra, em 2017, Jacinda, hoje com 42 anos, ganhou destaque por ser a chefe de Executivo mais jovem do mundo à época. Suas promessas, como ela lembrou no discurso desta quarta-feira, giravam em torno de três temas principais: mudança climática, pobreza infantil e desigualdade. As suas prioridades, afirma ela, não mudaram apesar dos percalços em seu mandato.

"Eu me acostumei com o fato de que meu tempo como primeira-ministra foi gasto com uma lista diferente: um ataque terrorista doméstico, uma erupção vulcânica, uma pandemia", afirmou.

Em 2019, Jacinda chamou a atenção com a resposta ao massacre de 51 pessoas por um extremista em duas mesquitas na cidade de Christchurch —na época, o país agiu para banir armas semiautomáticas. No mesmo ano, ela precisou lidar com a erupção do vulcão White Island, que matou 21 pessoas.

A projeção de sua imagem internacionalmente aumentou ainda mais em 2020, quando manteve posições duras nas medidas de combate ao coronavírus —a Nova Zelândia teve uma das taxas de mortalidade mais baixas do mundo durante a crise sanitária e foi apontada como o país que melhor lidou com a pandemia em um relatório do início de 2021 do Lowy Institute, centro de estudos baseado em Sydney, na Austrália.

O avanço nas suas principais pautas, porém, ficou limitado. Nesta semana, segundo o jornal britânico The Guardian, a Nova Zelândia anunciou a primeira queda trimestral nas emissões de gases de efeito estufa, após vários aumentos. Já a pobreza infantil diminuiu apenas alguns pontos desde o início de seu mandato, a crise imobiliária se manteve e a criminalidade registrou aumento marginal.

Uma pesquisa feita em dezembro pela Kantar One News Polling apontou que só 29% da população escolheria Jacinda para ocupar o cargo mais uma vez —dias antes do pleito de outubro de 2020, quando foi reeleita com uma margem histórica, esse índice era de 55%.

Embora ainda estivesse seis pontos à frente de seu principal opositor, Christopher Luxon, uma sondagem paralela indicou que a aprovação de seu Partido Trabalhista já estava abaixo da do Partido Nacional —agremiação de centro-direita que governava o país antes. Os resultados dispararam os rumores de que ela poderia renunciar, por mais que ao longo do último mandato não tenha ajudado a construir um sucessor.

"Sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais a energia necessária para fazê-lo da melhor forma. É simples", afirmou ela ao anunciar sua saída. Ela foi sucedida pelo também trabalhista Chris Hipkins, que teve papel preponderante na gestão da Covid na Nova Zelândia e vai liderar o partido nas eleições legislativas marcadas para outubro. Na terça-feira (4), ele nomeou Jacinda para um papel não remunerado no combate ao extremismo online em uma organização criada após o ataque de Christchurch. A ex-primeira-ministra disse estar ansiosa para trabalhar na desradicalização.

Com Reuters

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