Advogado de Trump diz ter sido impedido de procurar documentos secretos em mansão na Flórida

Arquivos sigilosos em Mar-a-Lago foram alvo de operação do FBI em episódio que desgastou ex-presidente

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Lisboa

O advogado de Donald Trump encarregado de procurar documentos em sua mansão em Mar-a-Lago, na Flórida, declarou que foi impedido de realizar buscas no escritório do ex-presidente dos Estados Unidos, onde o FBI encontrou posteriormente materiais confidenciais. A informação foi revelada pelo jornal britânico The Guardian nesta terça-feira (30).

Evan Corcoran contou ter encontrado 38 documentos confidenciais no depósito da propriedade, em junho do ano passado, onde foram colocados os materiais levados da Casa Branca no final da Presidência de Trump, após uma intimação do Departamento de Justiça. O advogado disse às autoridades que era tudo o que havia para ser encontrado.

Evan Corcoran, um dos advogados de Donald Trump, em frente a prédio de um tribunal em Washington, nos EUA - Kevin Dietsch - 03.abr.23/Getty Images via AFP

Corcoran então perguntou a fontes se deveria procurar em outro lugar, mas foi afastado da função e nunca chegou a revistar o escritório. Não ficou claro se foi o próprio Trump ou funcionários do ex-presidente quem dispensou o advogado de procurar outros materiais em Mar-a-Lago.

A afirmação de que não havia documentos confidenciais no escritório de Trump ou em outro lugar se provou errada quando o FBI fez uma operação de busca no local dois meses depois. Ali, a polícia federal americana apreendeu 101 documentos confidenciais adicionais.

A reportagem do Guardian aponta ainda que Corcoran foi intencionalmente enganado sobre os documentos, acusação que um porta-voz de Trump nega. "Isso é completamente falso e enraizado em pura fantasia. A verdadeira história é a instrumentalização ilegal do Departamento de Justiça e sua caça às bruxas com o objetivo de influenciar uma eleição para tentar impedir que o Trump retorne à Casa Branca."

O republicano está sendo investigado por possíveis crimes de espionagem, obstrução da Justiça e destruição de documentos do governo. São essas as justificativas do mandado de busca executado pelo FBI em sua casa na Flórida. Na operação, os agentes da polícia federal americana retiraram 20 caixas da casa de Trump contendo 11 conjuntos de documentos marcados como sigilosos, além de fotos e anotações.

Não é a primeira vez que o Departamento de Justiça investiga autoridades por suspeita de lidar de forma imprópria com material sensível —um dos casos mais conhecidos foi o da democrata Hillary Clinton, que usou um email pessoal para lidar com informações classificadas como secretas ou ultrassecretas quando ocupou o cargo de secretária de Estado.

Primeiro ex-presidente dos EUA a se tornar réu, Trump tem sido constantemente manchete de jornais devido a acusações na Justiça. No total, ele responderá a 34 acusações criminais em três casos de suspeita de falsificação de documentos, incluindo a suposta compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels. Os pagamentos teriam sido realizados com verbas não declaradas de campanha.

As acusações somam, no máximo, pena de 136 anos de prisão nas leis de Nova York. O ex-presidente se declara inocente e diz ser alvo de uma "caça às bruxas".

A falsificação de registros comerciais normalmente tem pena de até um ano de prisão, mas os promotores podem fazer uma solicitação para aumentar a pena para até quatro anos caso fique comprovado que as irregularidades foram cometidas para ocultar outro crime.

Mesmo condenado, Trump não seria impedido de concorrer à Casa Branca. Os EUA não têm uma lei equivalente à Ficha Limpa, por exemplo, que impede no Brasil a candidatura de pessoas condenadas por um órgão colegiado, que tiveram o mandato cassado ou renunciaram para evitar a cassação.

A única maneira de tirá-lo da corrida seria caso ele seja condenado por insurreição nas investigações sobre o ataque ao Capitólio —cenário considerado altamente improvável.

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