Segundo ataque a tiros em dois dias deixa 8 mortos e 14 feridos na Sérvia

Preso pela polícia, suspeito de 21 anos usava camiseta com símbolo neonazista no momento das agressões

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São Paulo

Oito pessoas morreram e 14 ficaram feridas em um ataque a tiros na Sérvia nesta quinta (4). Trata-se do segundo ataque em massa em 48 horas no país —na véspera, um adolescente de 13anos abriu fogo em uma escola na capital, Belgrado, assassinando nove pessoas e ferindo outras sete, alunos em sua maioria.

O episódio mais recente teve como palco três vilarejos próximos de Mladenovac, a cerca de 50 quilômetros ao sul de Belgrado, e ocorreu por volta das 23h do horário local (18h em Brasília).

O suspeito, identificado pela polícia como U. B., 21, foi preso nesta sexta-feira (5) na casa de seu avô, em Kragujevac, onde a polícia também encontrou granadas de mão, fuzis automáticos e munição —tanto o avô quanto o tio do suposto agressor foram detidos.

Ambulância e viaturas em local de ataque a tiros na região de Malo Orasje, na Sérvia
Ambulância e viaturas em local de ataque a tiros na região de Malo Orasje, na Sérvia - Antonio Bronic/Reuters

Kragujevac fica a aproximadamente 75 quilômetros ao sul do vilarejo de Dubona, local em que o ataque teve início. De acordo com a emissora estatal RTS, o suspeito, armado com um fuzil e uma pistola, começou a disparar aleatoriamente de seu carro após se envolver em uma briga em uma escola local.

O agressor ainda disparou contra transeuntes em dois vilarejos próximos, Sepsin e Malo Orasije. Milan Prokic, morador de Dubona, contou à agência de notícias Associated Press que a princípio achou que os tiros celebravam o nascimento de um bebê, como é tradição no país.

As autoridades divulgaram uma imagem mostrando o homem em um veículo da polícia com uma camiseta estampada com a inscrição "Generation 88", geração 88. O número é com frequência usado como uma alusão à saudação nazista "Heil Hitler" —"h" é a oitava letra do alfabeto.

O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, fez um pronunciamento oficial sobre ambos os episódios nesta sexta —embora seu cargo seja sobretudo cerimonial na estrutura do país, ele exerce poder considerável por ser também o líder do partido governista.

No discurso, o líder descreveu o incidente mais recente como um atentado terrorista, termo que já havia sido usado pelo ministro do Interior, Bratislav Gasic, para se referir ao ataque. E apresentou uma série de medidas que buscam refrear a aparente onda de violência no país.

Uma das propostas é a retirada de centenas de milhares de armas de fogo de circulação no país, no que chamou de um "desarmamento na prática". Segundo ele, há mais de 760 mil artefatos do tipo registrados na nação de 6,8 milhões de habitantes, o que equivale a uma arma para cada nove pessoas.

Vucic prometeu revisar todas as licenças em uso e adotar ações mais duras contra armas ilegais, além de exigir que proprietários de equipamentos sejam submetidos a avaliações médicas e psicológicas mais frequentes. Ele ainda anunciou que o governo pretende contratar mais 1.200 policiais para aumentar a segurança das escolas.

"Haverá justiça. Esses monstros nunca verão a luz do dia, nem o pequeno nem o mais velho", disse o líder. Ele acrescentou que propôs a reintrodução da pena de morte ao restante do governo, mas que este se opôs a medida.

O governo sérvio já havia anunciado um conjunto de iniciativas na mesma linha na quinta-feira, em resposta ao ataque em Belgrado. A administração suspendeu temporariamente a emissão de licenças para portadores de armas, por exemplo. Também encarregou o Ministério da Justiça de realizar uma série de mudanças na legislação atual, incluindo diminuir a idade mínima para responsabilização criminal de 14 para 12 anos —o atirador do episódio na escola na capital tinha 13 anos, e por não poder ser preso, foi encaminhado a uma instituição psiquiátrica.

A tragédia desta quinta-feira chocou uma nação já abalada pelo massacre da véspera —o novo caso coincidiu com o início dos três dias de luto oficial pelo episódio na escola em Belgrado. Dezenas de pessoas têm se reunido em frente à escola fundamental Vladislav Ribnikar, palco do crime. Muitas levam flores, brinquedos e velas para um memorial improvisado em frente ao colégio.

Mulher acende vela em memorial em homenagem a vítimas de massacre em frente à escola fundamental Vladislav Ribnikar, em Belgrado, capital da Sérvia - Oliver Bunic/AFP

Além dos nove mortos, seis crianças e uma professora de história foram hospitalizadas. Médicos informaram que dois dos feridos estão em situação crítica e já foram submetidos a várias cirurgias.

O autor do ataque aguardou a chegada dos policiais ao local do crime para se entregar. A arma que ele utilizou pertencia ao pai, um médico renomado, que também foi detido. Segundo o progenitor, o equipamento estava guardado em um cofre com senha, mas, ao que tudo indica, o filho a conhecia.

Ataques a tiros são relativamente raros na Sérvia, que tem leis rígidas acerca da compra e da utilização de armas e proíbe equipamentos automáticos no geral. O caso mais letal até hoje ocorreu em 2013, no vilarejo de Velika Ivanca, quando Ljubisa Bogdanovic matou 14 pessoas.

Antes, em 2007, Nikola Radosavljevic matou nove pessoas e feriu cinco em Jabukovac. Em 2015, Rade Sefer matou seis convidados do casamento de seu filho, em Senta, e, um ano depois, Sinisa Zlatic matou cinco pessoas com uma espingarda em Zitiste. Todos os agressores eram adultos.

Nos Balcãs circula, contudo, um grande número de artefatos ilegais, remanescente das muitas guerras e conflitos ocorridos na região na década de 1990, após a dissolução da Iugoslávia. Além disso, o país tem uma cultura arraigada de armas, sobretudo nas áreas rurais —estandes de tiro, por exemplo, são altamente populares.

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