Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Ataque da Rússia com míssil 'imbatível' gera nova guerra de versões com Ucrânia

Kiev diz ter interceptado seis Kinjal disparados, enquanto Moscou afirma que um deles destruiu sistema Patriot do inimigo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Kiev | Reuters

A Rússia lançou uma nova salva de mísseis sobre a Ucrânia na madrugada desta terça-feira (16).

Mas se ataques do tipo se tornaram mais comuns nas últimas semanas, cercadas pela expectativa de um contra-ataque ucraniano, desta vez houve uma novidade —em meio aos 18 artefatos disparados a partir de ar, terra e água, estavam seis mísseis hipersônicos Kinjal, uma das estrelas da artilharia russa.

Jatos da Rússia equipados com mísseis hipersônicos Kinjal sobrevoam a praça Vermelha durante parada militar do Dia da Vitória, em Moscou, em 2018
Jatos da Rússia equipados com mísseis hipersônicos Kinjal sobrevoam a praça Vermelha durante parada militar do Dia da Vitória, em Moscou, em 2018 - 9.mai.18/AFP

A presença do artefato, que o presidente Vladimir Putin já descreveu como imbatível, deu origem a mais uma guerra de versões entre as nações em conflito. Enquanto Kiev afirmou ter interceptado todos os mísseis lançados, uma bateria que incluiu ainda nove mísseis de cruzeiro Kalibr e três Iskander, Moscou contrariou a alegação e disse ter atingido todos os seus alvos originais.

A Defesa russa afirmou ainda que um dos Kinjal destruiu um dos sistemas antiaéreos Patriot enviados à Ucrânia pelos EUA. Embora o Exército ucraniano não tenha mencionado o equipamento desta vez, foi com um exemplar do modelo que conseguiram derrubar um Kinjal pela primeira vez, no início do mês.

O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, questionou a veracidade das afirmações da Ucrânia. Em entrevista à agência de notícias RIA, disse que, em geral, o número de interceptações que Kiev diz fazer é "três vezes maior" do que o número de mísseis disparados por Moscou. "E eles erram o tempo todo sobre o tipo de míssil. É por isso que não os atingem", disse o ministro, sem dar mais detalhes.

Se confirmada, a alegação ucraniana seria uma demonstração da eficiência das defesas aéreas doadas ao país invadido pelo Ocidente. Os modelos Kinjal, cujo nome significa "punhal", percorrem distâncias de até 2.000 km e atingem até dez vezes a velocidade do som. Trata-se ainda do único míssil hipersônico que pode ser lançado a partir de aeronaves e transporta tanto ogivas tradicionais quanto nucleares.

Seria mais uma vitória para o Exército liderado por Volodimir Zelenski, que nos últimos dias teve alguns de seus maiores avanços desde novembro. "Um ano atrás, não fomos capazes de derrubar a maioria dos mísseis dos terroristas, especialmente os balísticos", disse Zelenski ao elogiar ao elogiar os feitos de seus militares. "Se somos capazes de fazer isso, há algo que não possamos fazer?"

Os ganhos foram tais que o líder do mercenário Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin, chegou a afirmar que a contraofensiva ucraniana já tinha começado há dez dias.

A vice-ministra da Defesa do país, Hanna Maliar, negou a afirmação ao anunciar nesta terça que suas tropas conseguiram retomar cerca de 20 km² nos arredores de Bakhmut. Principal frente da guerra hoje, a cidade no leste da Ucrânia é vista pelos russos como um trampolim para a conquista de outras áreas do Donbass e foi apelidada de "moedor de carne" em razão da alta quantidade de mortes que registrou.

O próprio Zelenski voltou a dizer que a contraofensiva demoraria mais tempo, durante visita ao Reino Unido —a parada final de uma turnê de fim de semana em que passou ainda por Itália, Alemanha e França.

Ele voltou a encontrar remotamente os líderes desses mesmos países nesta terça, em cúpula do Conselho da Europa em Reykjavik, na Islândia. O órgão, principal grupo de direitos humanos do continente e sem vínculos com a União Europeia, tem a invasão russa à Ucrânia no topo de suas prioridades de discussão.

Internamente, a Ucrânia deu mais um passo em direção à adesão a UE, aliás, com o afastamento do chefe de seu Supremo Tribunal, suspeito de receber suborno de US$ 2,7 milhões. O bloco deu sinal verde para a candidatura de Kiev em meados do ano passado, num gesto acima de tudo simbólico em meio à guerra.

O caminho para a adesão, entretanto, pode levar anos, já que o processo exige reformas profundas no país. Uma delas é a adoção de uma série de medidas anticorrupção —a Ucrânia amarga o segundo lugar no ranking dos mais corruptos do continente, atrás apenas da Rússia.

Enquanto isso, a primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, busca angariar equipamentos para o seu país na Coreia do Sul, onde está para uma conferência de mídia. Em encontro com o presidente Yoon Suk-yeol, Zelenska tentou buscar o que chamou de um apoio "mais radical" do país asiático, pedindo mais assistência em itens militares não letais, como detectores de minas, por exemplo. Segundo o porta-voz do gabinete de Yoon, o líder sul-coreano afirmou a ela que sua nação ajudaria ativamente o povo ucraniano.

A primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, cumprimenta o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, no gabinete do chefe do Executivo em Seul - Gabinete da Presidência da Coreia do Sul/via Reuters

Um dos maiores produtores de projéteis do mundo, a Coreia do Sul aumentou suas exportações de armas em 140% no ano passado. Mas enquanto amplia suas vendas globalmente, evita desempenhar qualquer papel direto em armar Kiev, concentrando-se em vez disso em suprir o déficit mundial de rearmamento.

A cautela se deve em grande parte à sua relutância em antagonizar abertamente com Moscou, cuja cooperação espera conseguir para impor novas sanções à Coreia do Norte, cada vez mais beligerante.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.