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Com migração recorde, Reino Unido planeja barrar vistos para familiares de estudantes

Ministros elaboram plano para impedir que dependentes acompanhem alunos de mestrado em cursos de 1 ano

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Londres | Financial Times

Os ministros do Reino Unido estão elaborando planos para impedir que familiares acompanhem estudantes de mestrado estrangeiros em universidades britânicas, enquanto o primeiro-ministro Rishi Sunak se prepara para números que mostram migração líquida recorde.

Os conservadores prometeram nas eleições gerais de 2019 que "os números gerais cairão", mas espera-se que os dados previstos para este mês mostrem que, em 2022, a migração líquida atingiu níveis recordes.

"Os números serão altos", admitiu uma fonte do governo, referindo-se à divulgação de dados pelo Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês), prevista para 25 de maio.

Prédio da Universidade de Oxford, no Reino Unido
Prédio da Universidade de Oxford, no Reino Unido - Adobe Stock

De junho de 2021 a junho de 2022, a imigração líquida no Reino Unido atingiu um recorde de 504 mil, conforme o ONS, mas o grupo de pesquisa Centro de Estudos de Políticas estimou que o total do ano passado pode chegar a 700 mil. Quase todo o aumento é atribuído à migração de fora da União Europeia.

Especialistas disseram que níveis "excepcionalmente altos" de migração líquida continuarão até depois da próxima eleição, prevista para 2024 –impulsionados pelas convulsões na Ucrânia e em Hong Kong, a escassez de funcionários no Sistema Nacional de Saúde e o número crescente de estudantes internacionais–, antes de cair nos anos seguintes.

O crescimento da migração líquida legal está aumentando o tamanho da força de trabalho da Grã-Bretanha, mas a questão traz problemas políticos para o primeiro-ministro. Sunak está lutando com outra questão, mais controversa, da imigração ilegal de pessoas em barcos que cruzam o Canal da Mancha.

Os conservadores estão atrás do Partido Trabalhista, de oposição, em cerca de 15 pontos percentuais nas pesquisas de opinião e, na semana passada, foram derrotados nas eleições locais na Inglaterra. A imigração tornou-se uma das questões políticas mais explosivas.

Os ministros agora estão finalizando os planos para lidar com uma recente área de crescimento da imigração legal: o número de dependentes que vêm para a Grã-Bretanha com estudantes de mestrado estrangeiros, com frequência da Índia e da Nigéria.

Os estudantes têm sido um dos principais promotores do aumento da imigração após a pandemia de coronavírus, com quase 500 mil vistos de estudo emitidos pelas autoridades do Reino Unido em 2022 –um aumento de 81% em comparação com 2019.

Os estudantes, especialmente aqueles vindos da Nigéria e da Índia, tornaram-se mais propensos a trazer familiares com eles, com 135.788 vistos concedidos a dependentes em 2022, ante 16.047 em 2019.

O Departamento de Educação, o Ministério do Interior e o Tesouro estão finalizando um plano para impedir que dependentes acompanhem alunos de mestrado em cursos de um ano, segundo várias autoridades. Um funcionário disse: "Muitos desses cursos duram apenas nove meses. Não achamos que isso terá um grande efeito em nossa capacidade de atrair talentos globais".

Um ministro confirmou que o foco é para os dependentes de alunos de mestrado, dizendo: "Está claro que temos que fazer alguma coisa. Estamos muito longe da promessa de David Cameron de reduzir a migração líquida anual para 'dezenas de milhares'".

O Tesouro, que normalmente favorece a maior imigração, aceitou a necessidade política de restringir o número de dependentes de estudantes estrangeiros, enquanto Gillian Keegan, secretária de Educação, também concordou com o plano.

Mas fontes do governo disseram que Keegan insistia que os alunos de mestrado deveriam poder trazer parentes para o Reino Unido se ficassem para trabalhar no país depois de concluírem os estudos.

"A educação internacional é popular", disse Keegan num discurso. "Isso nos torna mais ricos. Todos nos beneficiamos ao construir parcerias e laços duradouros. É algo que valorizamos enormemente."

Madeleine Sumption, diretora do Observatório da Migração na Universidade de Oxford, disse que, embora a imigração líquida seja extraordinariamente alta, ela "cairá nos próximos anos, se tudo o mais permanecer igual", já que as pessoas que vieram recentemente para o Reino Unido saem novamente, especialmente os estudantes estrangeiros.

"Em outras palavras, não podemos presumir que os atuais altos níveis de imigração líquida representem um 'novo normal'. Não seria sensato tomar grandes decisões políticas com base na suposição de que o que vemos agora continuará para sempre."

O Escritório de Responsabilidade Orçamentária, órgão fiscalizador do Reino Unido, disse em março que espera que os fluxos migratórios líquidos se estabeleçam em cerca de 245 mil por ano.

Vivienne Stern, diretora-executiva da Universities UK, órgão representativo do setor, disse que as universidades estão se esforçando para proteger a rota do visto de pós-graduação, que dá aos estudantes o direito de trabalhar após concluírem os estudos.

Eles também defenderam a importância dos estudantes estrangeiros para o ensino superior do Reino Unido e para a economia em geral, acrescentou ela.

O Ministério do Interior disse: "O público espera, com razão, que controlemos nossas fronteiras, e continuamos comprometidos a reduzir a imigração líquida ao longo do tempo, garantindo que tenhamos as habilidades de que nossa economia e nossos serviços públicos precisam".

Alp Mehmet, presidente do Migration Watch UK, disse que os ministros estão certos ao se preocuparem com o aumento da imigração. "O número líquido de imigração para todo 2022 será muito maior do que o recorde de 500 mil no ano até junho de 2022. Isso é mais de dez vezes o número que cruzou o Canal da Mancha no ano passado."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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