EUA acusam África do Sul de repassar armas para Rússia contra Ucrânia

Presidência da nação africana abre inquérito e diz que afirmações 'minam espírito de cooperação'

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São Paulo

O embaixador dos Estados Unidos na África do Sul afirmou nesta quinta-feira (11) que um navio russo partiu carregado de armas e munições da base naval de Simon's Town, perto da Cidade do Cabo, no início de dezembro do ano passado —o que colocaria em xeque a neutralidade do país na Guerra da Ucrânia.

"A África do Sul armar a Rússia com uma embarcação é fundamentalmente inaceitável", disse o representante americano na nação africana, Reuben Brigety. As autoridades dos EUA, acrescentou, têm "profundas preocupações" com o fato de o país não respeitar a própria política declarada de neutralidade em relação ao conflito em curso. A postura "não nos sugere as ações de um país não alinhado", disse ele.

Embarcação russa 'Lady R' atraca na base naval de Simon's Town, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul - Esa Alexander - 7.dez.22/Reuters

Desde o início da guerra, Washington vem alertando que o apoio material à Rússia poderia ser punido com bloqueio aos principais mercados do mundo. A mera conjectura de um cenário como esse fez o rand sul-africano se desvalorizar nesta sexta —negociadores disseram estar preocupados com possíveis sanções.

Tal risco fez as autoridades do país se mobilizarem para tentar apagar o incêndio nesta sexta-feira (12).

A princípio, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, não confirmou nem negou o carregamento ao ser questionado no Parlamento por um líder da oposição. Mais tarde, porém, seu gabinete informou que o governo está abrindo um inquérito independente liderado por um juiz aposentado sobre a alegação.

A Presidência disse ainda que o suposto carregamento já havia sido discutido com os EUA, que teriam concordado com uma apuração. O chefe do Executivo sustenta, porém, que nenhuma evidência foi dada por Washington. "Os comentários do embaixador minam o espírito de parceria que caracteriza os recentes compromissos entre funcionários dos EUA e uma delegação sul-africana", disse o gabinete em nota.

O presidente foi seguido por membros do alto escalão do governo. Nesta sexta, o ministro das Comunicações, Mondli Gungubele, que presidia o comitê de controle de armas quando ocorreu o suposto embarque para a Rússia, disse à rádio 702 que nenhum envio foi aprovado para Moscou. Clayson Monyela, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse no Twitter que falaria com o embaixador dos EUA.

Nem Gungbele nem Monyela confirmaram se uma remessa clandestina havia saído da África do Sul.

Segundo o Tesouro dos EUA, o navio que atracou em Simon's Town se chama Lady R e está na lista de sanções de Washington desde maio do ano passado por supostos embarques de armas. Em dezembro, na época do episódio, o político da oposição Kobus Marais afirmou que havia evidências de uma atividade incomum no porto envolvendo um navio comercial russo.

A África do Sul, um dos aliados mais importantes da Rússia num continente dividido em razão da invasão da Ucrânia, diz ser imparcial no conflito e se absteve de votar na ONU em resoluções sobre a guerra.

Esse não é o primeiro imbróglio em que o país entra devido ao conflito. Em abril, Ramaphosa afirmou a jornalistas que o país estava se retirando do TPI (Tribunal Penal Internacional) devido ao que chamou de "tratamento injusto" só para, horas depois, o porta-voz da Presidência recuar da declaração.

Por trás da falha de comunicação estava a possível visita do presidente russo, Vladimir Putin, em agosto —como membro do TPI, o país africano teria a obrigação de prender uma pessoa que está em seu território e foi alvo de mandado de prisão pelo tribunal, caso do líder russo.

Com Reuters

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