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Conflito no Sudão deixa mais de 1 milhão de deslocados em 1 mês

Confronto iniciado em abril continua sem perspectiva para acabar e aumenta temor de crise regional

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Cartum (Sudão) | AFP e Reuters

Iniciado há pouco mais de um mês, o conflito no Sudão superou a marca de 1 milhão de pessoas deslocadas. O número foi divulgado nesta sexta-feira (19) pelo Acnur, a agência da ONU para refugiados.

Aproximadamente 840 mil pessoas foram forçadas a se deslocar internamente, enquanto outras 250 mil tiveram de deixar o país, de acordo com Matthew Saltmarsh, porta-voz da organização. Até agora, o Egito foi a nação que mais recebeu refugiados sudaneses: 110 mil pessoas desde o início dos combates entre o Exército regular e o grupo paramilitar RSF (Forças de Apoio Rápido), em 15 de abril.

Mulheres olham para abrigos improvisados a deslocados de conflito na fronteira do Sudão com o Chade
Mulheres olham para abrigos improvisados a deslocados de conflito na fronteira do Sudão com o Chade - Zohra Bensemra - 13.mai.23/Reuters

Outros países vizinhos do Sudão, entre os quais Chade, Etiópia e Sudão do Sul também receberam refugiados. No início do mês, a ONU alertou que o número de deslocados estava criando uma crise humanitária que poderia se estender para outras nações já sobrecarregadas de problemas internos.

"Muitos dos que nos abordaram estão em estado de angústia por terem sido expostos a violência ou condições traumáticas no Sudão e por terem feito árduas jornadas", disse Saltmarsh. No Egito, o fluxo de deslocados aumentou nas últimas semanas, com cerca de 5.000 pessoas cruzando a fronteira todos os dias, acrescentou.

O Exército do Sudão e o grupo paramilitar RSF travam há semanas um conflito que transformou as ruas da capital, Cartum, em zonas de guerra e que, por ora, não tem perspectiva para acabar. Ao menos 705 pessoas foram mortas e outras 5.287 ficaram feridas, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Nesta sexta, novos ataques aéreos atingiram Cartum e arredores. Os combates também continuam intensos no sudoeste, onde as tropas tentam conquistar a cidade de Niala, capital de Darfur do Sul. A crise provoca escassez de alimentos, água potável, remédios e combustível em todo o país.

"Atualmente 25 milhões de pessoas, mais da metade da população do Sudão, precisam de algum tipo de ajuda humanitária e proteção", disse Saltmarsh, do Acnur. Antes de os conflitos explodirem, um terço dos 45 milhões de habitantes passavam fome e ao menos três milhões de crianças com menos de cinco anos apresentavam quadro de desnutrição severa, segundo a ONU.

Os confrontos colocam em lados opostos o general Fatah al-Burhan, do Exército, o também general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, que comanda o grupo RSF. Juntos, eles derrubaram em 2019 a ditadura de 30 anos de Omar al-Bashir. Dois anos depois, participaram de um golpe de Estado que encerrou a transição para um regime democrático. No comando do país, os generais passaram a divergir sobre a participação dos paramilitares no Exército e sobre a formação de um novo governo, alimentando rumores sobre confrontos armados que se concretizaram em abril.

Várias tentativas de cessar-fogo fracassaram, incluindo as que foram mediadas pelos Estados Unidos e Arábia Saudita. Em reunião na Liga Árabe, organização formada por países da África e do Oriente Médio, representantes do Exército sudanês acusaram o RSF de violarem as tréguas de maneira sucessiva e de cometerem crimes contra a população civil que incluem roubos e estupros.

"Ninguém nos protege. Sem polícia. Sem Estado. Os criminosos estão atacando nossas casas e levando tudo o que possuímos", disse Sarah Abdelazim, 35, funcionária do governo em Cartum. Na guerra de versões que caracteriza o conflito, o RSF nega as acusações.

Erramos: o texto foi alterado

O raio-X do Sudão afirmou incorretamente que a expectativa de vida ao nascer no Brasil é de 72,8 anos. O índice correto, de acordo com o IBGE, é de 77 anos.

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