Descrição de chapéu América Latina Rússia

Cuba cancela tradicional marcha de 1º de Maio por falta de gasolina

Ilha conta com cada vez menos petróleo da Venezuela e busca driblar sanções dos EUA negociando com outros países

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Os cubanos não celebrarão o 1º de Maio como de costume. Não haverá marchas ou bandas. A praça da Revolução, em Havana, antes coberta por bandeiras do país, terá o mesmo aspecto que o de dias comuns.

O motivo para o cancelamento das festividades pelo regime é a escassez de combustível na ilha. Há semanas, motoristas fazem filas durante a noite inteira em frente a postos de gasolina. Segundo o líder cubano, Miguel Díaz-Canel, o país está recebendo apenas dois terços do combustível que precisa para abastecer seus automóveis e caminhões

Cubanos comemoras Dia dos Trabalhadores na Praça da Revolução, em Havana - Yamil Lage - 1º.maio.22/AFP

O regime alega que a escassez tem origem no descumprimento de acordos comerciais por parte de outros países. Na verdade, trata-se de outro país, no singular —a Venezuela, com quem o regime firmou um acordo que garantia o fornecimento de petróleo em troca de envio de médicos e professores cubanos no início dos anos 2000.

O país sul-americano diminuiu pela metade a exportação de petróleo para a ilha na última década, segundo o jornal britânico The Guardian, e os números continuam caindo ano a ano. Se em 2020 a ditadura liderada por Nicolás Maduro exportava quase 80 mil barris do combustível para Cuba, este ano elas passaram para 55 mil barris por dia.

A queda teria duas causas. A primeira são as sanções impostas a Caracas pelos Estados Unidos, que têm afetado até mesmo a demanda interna. A segunda, por mais contraditória que pareça, são as exceções a essas mesmas sanções promovidas por Washington em novembro passado. Em busca de fontes alternativas de energia com a Guerra da Ucrânia, o governo americano autorizou a empresa Chevron a importar petróleo e derivados produzidos em território venezuelano.

Assim, ao que tudo indica, o petróleo de alta qualidade da Venezuela tem escoado para os EUA em vez de ir para Cuba. Restou à ilha o combustível de baixa qualidade extraído no próprio território, que em certos casos não consegue nem ser processado pelas refinarias locais.

Não à toa, o regime socialista vem fechando acordos com outros países, desafiando as sanções americanas à ilha. Sob o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, o México tem enviado um volume crescente de combustível para Cuba, por exemplo, de acordo com o banco de dados de rastreamento de embarcações Refinitiv Eikon. Um navio-tanque da petroleira estatal mexicana Pemex esteve em uma das poucas refinarias em Havana que produzem gasolina duas vezes desde abril.

Paralelamente, uma embarcação independente com bandeira do Panamá visitou duas vezes portos cubanos desde janeiro —sua origem é o terminal mexicano de Salina Cruz, e ela transportava gás liquefeito de petróleo (GLP), em geral usado em fogões.

Cuba também importou desde novembro pelo menos cinco cargas de petróleo da Rússia, fornecedora de longa data, além de combustível de terminais do Caribe e da Europa.

Embora não sejam suficientes para atender à demanda, as importações de novas fontes podem aliviar a mais recente crise econômica do regime de Díaz-Canel. Lidia Rodriguez, diretora comercial da petrolífera estatal cubana Cupet, defendeu na semana passada o racionamento imposto pelo regime: "Estamos tentando evitar a escassez total de combustível no país", disse.

Várias universidades anunciaram que passarão a ministrar aulas online, já que ir até elas está cada vez mais difícil. A produção e o transporte de alimentos também começaram a ser prejudicados.

Ainda há quem não abra mão dos tradicionais eventos de 1º de Maio. Apesar do mal-estar, Ulises Guilarte de Nacimiento, chefe do Sindicato Central dos Trabalhadores de Cuba, disse que o Dia do Trabalhador não será totalmente cancelado. Segundo ele, as comemorações nas comunidades, escolas e locais de trabalho vão seguir, ainda que em condições de "máxima austeridade".

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.