Descrição de chapéu
Monique Sochaczewski

Eleição na Turquia é exemplo de como uma democracia pode renascer

Parte dos turcos se juntou em torno de candidatura plural, de reconstrução e de afeto, indicando desejo de mudanças

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Monique Sochaczewski

Autora de "Do Rio de Janeiro a Istambul: Contrastes e Conexões entre o Brasil e o Império Otomano" e professora do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa)

A Turquia tem sido considerada, por muito tempo, um dos principais casos de "como uma democracia morre" no século 21, usando meios democráticos para assegurar um autocrata no poder —no caso, Recep Tayyip Erdogan.

O que as eleições deste domingo (14) parecem indicar é que o mesmo país pode ser um caso de como a erosão da democracia pode ser revertida. Os resultados ainda estão indefinidos, mas indicam um segundo turno entre Erdogan e o opositor Kemal Kiricdaroglu.

Apoiadores de Kemal Kilicdaroglu, candidato à Presidência da Turquia, em manifestação em Ancara - Yves Herman - 14.mai.23/Reuters

Queria aqui, porém, festejar a sociedade civil turca que tanto inspirou pela boa luta, a da democracia, nesse pleito. Mesmo com Erdogan dominando o poder há 20 anos, com um Parlamento mais simbólico, um Judiciário e policiais considerados cooptados, Forças Armadas esvaziadas, e mídia dominada ou calada, eles acreditaram.

Juntaram-se em torno de uma candidatura vista como plural, do diálogo, da reconstrução e mesmo do afeto. Seu símbolo era o coraçãozinho feito com as mãos! Não caíram na apatia, animados com os 5 milhões de concidadãos que votaram pela primeira vez, indicando o desejo de mudanças.

Enfrentaram longas filas para votar numa presença que quase bate os 90%. Muitos se voluntariaram para monitorar as eleições e proteger as urnas. Vários se empenharam em viabilizar transporte para os patrícios em regiões afetadas pelos terremotos de fevereiro garantirem sua escolha política.

Se Erdogan vencer, já sabemos o que vamos ter: mais do mesmo controle da mídia oficial e de tentativas de calar, e mesmo prender, qualquer um que ele entenda como ameaça.

Mas se tivermos um novo governo na Turquia, o que esperar de imediato? Acredito que foco nos problemas econômicos e na reconstrução das instituições domésticas. A própria aliança liderada por Kilicdaroglu e os apoios que recebeu, além do tom da campanha, indicam busca por desmantelar discursos raivosos e divisivos, seja em relação a alevis ou a curdos.

Em termos de política externa, a atenção nos temas econômicos deve fazer com que não bata de frente com a Rússia, mas é provável maior engajamento com EUA e Europa. Atenção para como vai lidar com refugiados sírios em seu território, porém, pois há indícios de esforços para que retornem para a Síria.

Enfim, acompanhemos atentos para onde vai de fato as eleições deste 2023 na Turquia, mas não deixemos de louvar os milhares, quiçá milhões, de cidadãos de lá, empenhados em alternância de poder, liberdade acadêmica e de imprensa, coexistência e respeito às diferenças.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.