Descrição de chapéu África

Jornalista do Paquistão perseguido pelo governo é morto por policiais no Quênia

Redes sociais pressionam por investigação do caso, tratado como incidente pelas forças quenianas

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Nairóbi | AFP e Reuters

Importante jornalista investigativo do Paquistão, conhecido por suas críticas ao governo, Arshad Sharif foi morto a tiros em Nairóbi quando o carro em que estava ultrapassou um bloqueio policial sem parar, levando os oficiais locais a dispararem. A informação foi divulgada em um relatório das forças de segurança do Quênia nesta segunda-feira (24).

O âncora paquistanês Arshad Sharif fala em evento na capital Islamabad - Aamir Qureshi - 22.jun.22/AFP

O incidente ocorreu às 22h do domingo (horário local), nos arredores da capital. Segundo o relatório, a polícia havia formado um bloqueio com pequenas pedras para uma blitz contra ladrões de carros, mas o veículo de Sharif, guiado por um parente dele, teria passado sem parar pelo bloqueio, mesmo depois de os agentes abrirem fogo. Nove balas atingiram o carro, e um projétil acertou o jornalista na cabeça.

Um oficial afirmou ao jornal local The Star que o episódio estava sendo tratado como um caso de erro de identidade. As circunstâncias da morte de Sharif, que foi por muitos anos âncora de um programa de notícias da emissora Ary, provocaram indignação generalizada no Paquistão e pedidos de abertura de uma investigação.

Sharif havia deixado o país em agosto, primeiro para Dubai e depois para o Quênia, alegando sofrer ameaças e estar sendo perseguido pelo Estado, que havia ordenado a sua prisão. Ele era um opositor feroz do poderoso Exército do país e conhecido defensor do ex-primeiro-ministro Imran Khan, destituído no Parlamento em abril.

Uma das acusações judiciais do governo ao jornalista é de sedição e diz respeito a uma entrevista que ele conduziu com Shahbaz Gill, aliado próximo de Khan, também em agosto. Nela, o veterano político da oposição fez comentários considerados ofensivos às forças militares.

Após a entrevista, Gill foi preso —o próprio Khan teve que comparecer perante a Justiça por criticar a decisão. Enquanto isso, a rede Ary foi temporariamente retirada do ar sob a alegação de transmitir informações falsas que incentivavam o ódio e a agitação. Mais tarde, o canal disse que havia "rompido laços" com seu âncora, um dos principais nomes do horário nobre da emissora.

A Autoridade Independente de Supervisão da Polícia do Quênia, um órgão de vigilância civil, iniciou uma investigação para esclarecer as circunstâncias da morte do jornalista, segundo afirmou a presidente da entidade, Ann Makori, em entrevista nesta segunda.

Sucessor de Khan no cargo de primeiro-ministro, Shehbaz Sharif afirmou no Twitter que conversou por telefone com o presidente do Quênia, William Ruto, sobre a morte de Sharif. "Pedi a ele que garantisse uma investigação justa e transparente desse incidente perturbador. Ele prometeu cooperação total, incluindo a aceleração do processo de retorno do corpo", escreveu o premiê —que, a despeito do sobrenome, não é parente da vítima.

O ministro das Relações Exteriores do Paquistão também disse que seu alto comissário no Quênia estava em contato com a polícia local e que a pasta aguarda o envio do relatório das forças de segurança locais.

A morte de Sharif levou autoridades e jornalistas a reagirem em peso nas redes sociais do Paquistão. O ex-premiê Khan afirmou que o âncora foi morto devido a seu trabalho.

O Paquistão ocupa o 157º lugar, de um total de 180, no índice da ONG Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de expressão, e seus jornalistas enfrentam censura e ameaças constantes da elite.

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