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França faz do 1º de Maio reprise de atos contra a Previdência, e violência se espalha

Segundo imprensa local, manifestações estão maiores e mais violentas do que em outros anos; 200 pessoas foram presas

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São Paulo

Os protestos dos trabalhadores da França durante o 1º de Maio foram turbinados neste ano pela indignação de parte da população com a reforma da Previdência promulgada pelo presidente Emmanuel Macron. Nesta segunda, foram às ruas pedir maior distribuição de renda 700 mil pessoas, quase seis vezes mais do que em 2022.

Mas até a violência dos protestos atingiu níveis maiores neste ano. De acordo com o Ministério do Interior, 200 pessoas foram presas. O chefe da pasta, Gérald Darmanin, informou que um policial foi gravemente ferido em Paris. Segundo ele, o oficial foi queimado por um coquetel molotov lançado por manifestantes.

Manifestantes reunidos na Place de la Nation, em Paris, durante atos do 1º de Maio - Geoffroy Van der Hasselt - 1.mai.23/AFP

Cenas transmitidas pela imprensa local mostram centenas de pessoas em confronto com policiais, que revidaram com bombas e spray de pimenta. Ainda na capital francesa, bicicletas foram incendiadas e pontos de ônibus destruídos próximo à Praça da República. Os registros evidenciam que as hostilidades envolvem manifestantes com máscaras e bandeiras pretas adeptos —black blocs.

A participação deles incomoda alguns manifestantes. Em Lyon, por exemplo, a líder sindical Sonia Paccaud reclamou ao jornal Le Monde: "Nosso ato é instrumentalizado por grupos violentos que nada têm a ver com as lutas que estamos liderando", disse. "Convocamos, organizamos com segurança e, no final, os incidentes assumem o controle. Eles aproveitaram e paralisaram o cortejo que criamos; é revoltante, é injusto com todos aqueles que se mobilizaram em grande número."

Em Lyon, cerca de 45 mil trabalhadores participaram das manifestações, segundo os organizadores; a prefeitura diz 17 mil. Já os confrontos, segundo o Le Monde, foram provocados por cerca de mil black blocs, que "assediavam a polícia durante todo o percurso".

Mas o outro lado pode também ter responsabilidade. As ações policiais nos protestos contra a reforma da Previdência nas últimas semanas foram alvo de denúncias de uso excessivo da força, ameaças e até abusos sexuais por parte de integrantes da corporação na repressão de manifestantes.

Ainda nesta segunda, vários países expressaram sua preocupação às Nações Unidas com a violência policial na França. A declaração foi feita por diplomatas de Suécia, Dinamarca, Liechtenstein, Noruega, Luxemburgo e Malásia.

A reforma da Previdência, promulgada por Macron no mês passado, eleva a idade mínima de aposentadoria para 64 anos. O presidente utilizou, porém, um mecanismo que permite a seu governo aprovar projetos de lei sem o aval do Parlamento.

O presidente francês diz que a reforma é necessária para sustentar um dos sistemas previdenciários mais generosos da Europa. Mas a decisão contrariou a vontade da maioria da sociedade francesa, que organizou greves multissetoriais e lotou as ruas do país por várias semanas –Paris chegou a acumular 10 mil toneladas de lixo em meio à paralisação dos garis, por exemplo.

A reforma também cristalizou o descontentamento contra um presidente visto por muitos como distante e indiferente às dificuldades diárias da população. Nesta segunda, em uma publicação no Twitter, ele agradeceu aos trabalhadores franceses. "Vocês contribuem para a nossa soberania".

Já a primeira-ministra Élisabeth Borne parabenizou os trabalhadores, que "com o seu empenho diário, constroem o futuro do nosso país e nos permitem dar vida ao nosso modelo social". Ela também descreveu como inaceitáveis as cenas de violências nos protestos.

No início de abril, ainda antes da promulgação da lei, a administração de Macron era aprovada por apenas 30% da população. "O Executivo não pode governar sem o apoio de seu povo", disse Sophie Binet, líder do sindicato CGT, antes do protesto em Paris.

Laurent Berger, chefe do sindicato reformista CFDT, disse que o governo de Macron foi surdo às demandas de uma das mobilizações sociais mais poderosos em décadas. "Devemos trazer outras propostas sobre salários e condições de trabalho para a mesa", disse ele à BFM TV.

O descontentamento dos manifestantes também atingiu grandes empresas. Em Paris, ativistas ambientais do grupo Extinction Rebellion jogaram tinta sobre a fachada da Fundação Louis Vuitton e pedras do lado de fora do Ritz Hotel. Em Marselha, no sul do país, cerca de 200 manifestantes ocuparam o hotel de luxo InterContinental, segundo a agência de notícias AFP. Eles quebraram vasos de flores, danificaram poltronas no saguão do hotel e pregaram uma uma etiqueta com a frase "Tem burguês no cardápio" na fachada do estabelecimento.

"A ideia desta ação simbólica é mostrar que a questão das pensões é um problema mais amplo da distribuição da riqueza", explicou Sébastien Fournier, da central FSU, segundo quem "um dos acionistas do hotel é o fundo de pensão Black Rock, que assessorou Macron em questões previdenciárias".

Em Nantes, onde um incêndio ocorreu em frente a um prédio da administração local, o metalúrgico aposentado Michel Maingy disse sentir que a batalha pelas pensões estava perdida. Mesmo assim, segundo ele, há lutas a serem vencidas nas negociações sobre as condições de trabalho. "Pouco a pouco, vamos voltar aos trilhos. Precisamos manter o queixo erguido", disse.

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