Descrição de chapéu Partido Republicano

George Santos diz à Folha ser vítima de perseguição política após indiciamento criminal

Deputado filho de brasileiros alega inocência e afirma estar disposto a conversar com promotores

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Lúcia Guimarães
Bridgehampton (EUA)

O deputado George Santos se mostrou confiante de que conseguirá enfrentar as 13 acusações apresentadas contra ele num tribunal de Long Island, em Nova York, nesta quarta-feira (10).

Santos falou à Folha com exclusividade após uma caótica entrevista coletiva na porta do tribunal federal e afirmou que tem documentação para refutar algumas acusações, mas admitiu que ele e sua defesa precisam examinar melhor os detalhes das denúncias, que envolvem lavagem de dinheiro e fraudes.

O deputado republicano George Santos fala com a imprensa ao deixar tribunal em Nova York
O deputado republicano George Santos fala com a imprensa ao deixar tribunal em Nova York - Michael M. Santiago/Getty Images via AFP

O republicano, filho de brasileiros, é acusado de receber de forma irregular auxílio-desemprego durante a pandemia, quando, de acordo com o indiciamento do Departamento de Justiça, ele recebia um salário anual de US$ 120 mil. Santos afirma que o uso do auxílio foi legal, mas excedeu o limite do governo de duas parcelas de US$ 564. Ele citou essa acusação e a soma pequena como exemplo de que é vítima de perseguição política. A Folha não tem confirmação independente desta alegação.

As 13 acusações contra George Santos

Se condenado, republicano pode pegar até 20 anos de prisão

  • Fraude (7)

    Ele teria induzido apoiadores políticos a doar dinheiro para uma empresa que controlava e teria recebido auxílio-desemprego durante a pandemia mesmo estando empregado

  • Lavagem de dinheiro (3)

    Acusações estão relacionadas ao suposto esquema de desvio de doações de apoiadores para a empresa

  • Declarações falsas (2)

    Acusação diz respeito às declarações de renda não comprovadas durante suas duas campanhas eleitorais, em 2020 e 2022

  • Desvio de verbas públicas (1)

    Crime ligado ao esquema de fraude do auxílio do governo, de quem teria recebido mais de US$ 27 mil

Na entrevista, Santos disse também que encorajou parentes e amigos, contatados por promotores federais, a responder francamente a quaisquer perguntas. Ele insiste que os cinco meses que se passaram para a investigação do Departamento de Justiça apresentar as acusações são um período curto, o que, segundo sua visão, sugere desespero do governo para levá-lo à Justiça.

O deputado ressaltou que a emissora CNN, uma rede que qualifica como uma adversária ideológica, publicou o anúncio do indiciamento na terça (9), dez minutos antes de seu advogado ser notificado. Para Santos, a informação antecipada configura mais um exemplo da natureza política das acusações.

George Santos foi defendido no tribunal apenas por Joe Murray, um advogado que mantém para outras representações, mas afirma que vai precisar reforçar seu time para enfrentar o governo federal.

Sobre uma possível admissão de culpa em algumas das 13 acusações para obter algum benefício na pena —se condenado, ele pode pegar até 20 anos de prisão—, Santos diz ter deixado claro que está disposto a conversar. Ele corrigiu, porém, a expressão "admitir culpa" e disse que quer apenas ouvir os promotores.

O indiciamento arquivado pelo Departamento de Justiça cita uma "Pessoa #1" como delatora do deputado. Ele diz não ter lido os detalhes e preferiu não especular sobre a identidade de quem delatou.

Também são anônimos os três benfeitores que pagaram fiança de US$ 500 mil para que Santos responda às acusações em liberdade. Repetindo o que disse ao deixar o tribunal, disse que não está nervoso porque acredita que tem meios de provar sua inocência, mas não forneceu detalhes sobre o que vai apresentar.

Santos foi eleito deputado em novembro do ano passado com um discurso focado em segurança pública e pautas morais. Após o pleito, porém, o jornal americano The New York Times mostrou que o político mentiu sobre diversos aspectos de sua vida para atrair eleitores —do currículo acadêmico e profissional às fontes de renda e origens familiares. Santos disse ter diplomas da Universidade de Nova York e do Baruch College, apesar de nenhuma das instituições ter registro de sua frequência, e alegou ter trabalhado no Goldman Sachs e no Citigroup, o que também não foi comprovado.

No Brasil, Santos foi indiciado em 2008 por estelionato, depois de ter furtado um talão de cheques que usou para fazer compras em Niterói (RJ) —os cheques de R$ 2.144 não tinham fundos. Em janeiro, a Justiça do Rio de Janeiro reabriu uma investigação contra ele. O advogado contratado pelo deputado para defendê-lo no processo foi condenado por participar de um grupo de extermínio ligado à antiga "máfia das vans" em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

As declarações falsas passam ainda pela origem familiar. Disse que era judeu e que seus avós escaparam dos nazistas durante a Segunda Guerra —depois, justificou que sempre disse ser "jew-ish", trocadilho não utilizado nos EUA que significaria "mais ou menos judeu". Ele tampouco revelou um casamento com uma mulher por vários anos, encerrado em 2019, que gerou suspeita de violação da lei migratória.

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